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Fortaleza

O ano dos nossos 80 anos

A História do Ceará é uma desafio para nossos historiadores. Em primeiro lugar, porque ela é muita mal contada, a preço de hoje. Falta uma pesquisa de contestação a uma historiografia, digamos, oficial, aquela que está nos livros de “História” e que repete versões “consagradas” pela historiografia oficial — e, ali, o que prevalece, é uma versão, a versão do narrador que irremediavelmente estava coligado ao opressor, ao colonizador, ao modelo formal de poder. Portanto, nossa historiografia privilegia a versão dos hegemônicos, dos que prevaleciam como detentores dos meios de produção e, em extensão, da política.
Essa visão acaba, também, contaminando os meios acadêmicos, aqueles que, em tese, deveriam ter a mais crítica visão sobre fatos e sobre a sociedade. Talvez — a palavra adequada é, talvez — por isso, é tarefa de gincana pedir algum estudo acadêmico sobre a história e a influencia política do Jornal O Estado, desde 1936.

Não existe nada, nenhum estudo, nenhuma pesquisa, nenhuma mísera pesquisa de graduação sobre o papel central — repito, central — do Jornal O Estado na história do Ceará. E, no entanto, o jornal foi o mais influente no Ceará nos anos 1940 e, mesmo, nos anos 1950.

E como se expressa essa influência? No simples fato de que o Jornal O Estado se superpunha à estrutura de poder político — uma condição relativamente natural considerando a imprensa como a uma ferramenta estratégica na defesa de bandeiras de grupos de interesse, sejam conservadores, progressistas, anárquicas.
Os jornais eram os grandes veículos na luta insana de conquistar — ou de consolidar — corações e mentes.

O jornal cidadão. O Jornal O Estado foi um intensivo centro de formação cidadã. Das oficinas e das várias redações do Jornal O Estado saíram profissionais como Dorian Sampaio, Ari Cunha, João Ciro Saraiva, Chico Alves Maia, Edmundo “Dedé” de Castro, J. C. Alencar Araripe, Durval Aires, Odalves Lima, Dário Macedo, Rangel Cavalcante, Adísia Sá, Egídio Serpa, Marcondes Viana, Antônio Frota Neto, Fernando César Mesquita — esse, sobrinho de Odalves Lima. Além desses tantos, outros foram galvanizados no cotidiano do Jornal O Estado a exemplo de Gervásio de Paula, Flávio Ponte, Guto Benevides, Nazareno Albuquerque, Flávio Torres, José Augusto Lopes.

O jornal abrigou colunas vívidas assinadas por Eusélio Oliveira, o intrépido cineasta e intelectual, Tertuliano Siqueira, focado na incipiente e emergente mídia local, as colunas políticas de Newton Pedrosa, Pedro Gomes de Matos Neto, Fernando Maia, Ossian Lima, Hélder Cordeiro, Macário Batista, Julieta Brontée e, bem antes, Fernando Aires e do próprio Durval Aires. A coluna semanal de Jean-Pierre Chabloz, trazia ensaios maravilhosos sobre Fortaleza e sua estética urbana e nas artes. Revelou colunistas sociais como Sônia Pinheiro, Stella Crisóstomo, Cléa Petrelli, Marciano Lopes, Teresa Borges, Fran Erle e mais uma rica lista onde se incluem Ribamar de Paula, Ildefonso Oliveira — do setor administrativo, Manoel Galdino — impressor, Albânia Uchôa — do setor do comercial e José Nilton da Silva Júnior — Design.

O Jornal O Estado viveu várias fases e se manteve inteiro desde sua fundação, em 1936, atravessando todas as conjunturas com as quais soube conviver, driblar, combater e enfrentar. Superou as adversidades que colocaram em risco sua longevidade; não se furtou aos embates mais arraigados e virulentos, remoeu as tripas do poder, viveu momentos de glória e amargou reveses mas, ao largo, construiu um capítulo consistente na História do Jornalismo .

A fase inicial, liderada por José Martins Rodrigues, foi sucedida por Alfeu Faria de Aboim (Alfeu Aboim) e Walter de Sá Cavalcante (também grafado como Walter Sá Cavalcante) em 1º de novembro de 1942, que o transferiram para Antônio da Frota Gentil (Antônio Gentil) em 24 de abril de 1945, ficando a direção com Walter de Sá Cavalcante. Aqui viu-se grandes enfrentamentos entre PSD e UDN, na campanha que elegeu o deputado Raul Barbosa, governador do Ceará. À frente do jornal, Walter de Sá Cavalcante comandou a campanha de Raul, dia a dia, nas páginas d’O Estado.

Foi dirigido ainda por Cláudio Martins e Francisco Martins (Fran Martins), onde as artes, a cultura e literatura tiveram ampla divulgação e ampla repercussão, principalmente nas edições de domingo, com o caderno cultural. Some-se a isso as crônicas diárias de Fran Martins, cheias de estilo, densidade de informação e opinião e fluidez textual. Os irmãos Martins transferem o jornal para um grupo apoiador do governador Parsifal Barroso e Themístocles de Castro e Silva desembainha seu sabre de prata em forma de caneta e esgrima, protagonizando grandes enfrentamentos. Passou depois para o grupo Nelson Otoch e Sérgio Philomeno, ainda sob a batuta de Odalves Lima — que vinha do período de Themístocles — como diretor de redação e colunas memoráveis de Dário Macedo e Rangel Cavalcante, José Rangel, Nazareno Albuquerque. Sua redação e oficinas originais, na época da fundação, ficavam na rua Senador Pompeu, 832.

A partir de 1966, assumiu o controle acionário do jornal o jornalista Venelouis Xavier Pereira, que também encetou grandes embates, polêmicas e enfrentamentos. Um dos seus feitos tecnológicos, no jornal, foi implantar, em 1970, o sistema offset de impressão. Em 1996, com a morte abrupta de Venelouis, Wanda Palhano assume o comando com Ricardo Palhano, Adlay Stevenson Palhano, Soraya Palhano, Solange Palhano e Rebeca Xavier assumem o comando, reposicionando o jornal e iniciando um novo ciclo. O jornalismo panfletário é totalmente aposentado e a escola americana da objetividade, que já faz parte da rotinas das redações e dos cursos de Jornalismo, passa a ser o novo norte do jornal.

Dois grandes ciclos. O Jornal O Estado viveu dois grandes ciclos: o primeiro, iniciado por José Martins Rodrigues, em 1936, produziu um jornal com uma enorme diversidade de temas, seções e cadernos especiais. Nesse primeiro grande ciclo, estão Alfeu Aboim e Walter de Sá Cavalcante — que sucedem José Martins Rodrigues — e vai até o final de 1995, quando Venelouis Xavier Pereira, através do banqueiro José Oto Santana, adquire o jornal. O segundo ciclo foi iniciado exatamente aí. O negócio é fechado no apagar das luzes do ano de 1965 e Venelouis toma posse do jornal em 1966, inaugurando o ciclo que continua até hoje, com seus sucessores. Trata-se de um dos ciclos mais tensos da história do jornal e tem como momento de grande estresse a morte de Venelouis na redação do próprio jornal, em 1996. Teria sido em decorrência de um enfarto fulminante.

O ciclo atual marca a consolidação do jornal como veículo independente, apartidário e focado na publicação de notícias, análises, comentários e opiniões que primam pelo pluralismo e pelo apartidarismo, priorizando o interesse do leitor — algo totalmente oposto ao histórico alinhamento com o PSD, onde o leitor era, ele também, principalmente partidário.
O jornalista Francisco Auto Filho, que no auge das caçadas da polícia política no governo militar, inciado em 1964, foi acolhido por Venelouis na redação d’OEstado, tem uma descrição daquela personalidade:
— Ele era uma figura complexa, paradoxal, porque ele era temperamental. Então, você tem momentos de muita raiva e de fina doçura, mas, normalmente, ele era irônico e era alegre.

Dos tipos móveis aos dias de hoje, o jornal migra para as múltiplas plataformas digitais em consonância com tendência global irreversível a partir do advento da internet como canal de distribuição de conteúdos em uma escala global. Internet, sem dúvida, desorganizou os tradicionais fluxos de informação de mão única,colocando em xeque o monopolismo. Um fenômeno recente, a partir de meados dos anos 1990.
O Jornal O Estado tem seu núcleo digital que alimenta e atualiza em tempo real o portal de notícias www.oestadoce.com.br, as redes sociais e outros canais no mundo digital. Como a OETV com conteúdo audiovisual, no endereço
www.oestadoce.com.br/oetv/

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