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Fortaleza

A doutrina do Eu

O orgulho é algo muito próximo ao egoísmo. O egoísmo é a doutrina do eu, i. é, é um instinto de autopreservação levado ao extremo. O que está subjacente ao egoísmo é o medo da perda, da própria aniquilação pessoal. É um sentimento primitivo que ainda encontra espaço em nossa sociedade moderna.
Em minhas reflexões pude observar vários casos e cheguei a uma relativa concepção de que o orgulho é uma camada de proteção do eu para que o sujeito não se sinta menos que o outro, para que possa se sentir com relativa estima pessoal e não cair em um medo profundo e suas possíveis conseqüências, cada ser humano constrói para si uma espécie de proteção inconsciente denominada orgulho.

Quanto mais forte o orgulho, mais forte o medo inconsciente da desvalorização, da perda de respeito, da insegurança, da impotência diante da vida, da falta de reconhecimento público, do julgamento alheio. Logo o orgulho é um sistema de defesa que impede que o sujeito tenha de lidar mais diretamente com questões que “não está” pronto. O orgulho nada mais é que um grito psíquico de medo do eu… Um medo visceral de ser dizimado, portanto, a defesa.

À medida que aprende mais sobre si, as significações e sobre suas dores da alma, o indivíduo consegue paulatinamente a suspensão da defesa egóica colocando outra mais eficaz: a compreensão. Compreender é dar sentido relativo a questões, a partes relativas de seu ser e viver. Tal postura permite um alívio das tensões conflitivas e um aumento de paz de espírito.

A vaidade possui um duplo sentido. Primeiro um sentido estético. A vaidade em sua maneira mais construtiva nos leva a buscar mais o belo, a cuidar melhor do corpo, da vestimenta, da beleza de uma forma geral. Óbvio que há exageros e desequilíbrios também.
Em seu sentido moral a vaidade é algo que nos valoriza mais do que somos. Cria a ilusão que somos melhores que os demais. Influi na busca exacerbada de status não com o objetivo de realização pessoal, mas para (intrinsecamente) humilhar os demais.
Se o orgulho é a defesa do ego, a vaidade é seu ornamento para mascarar a própria feiúra interior, aquilo que se é.

Tudo na vida flui, já diria Heráclito de Éfeso. Tudo passa!
Penso que a maior diferença na vida não é o que possuímos, mas o que nos tornamos. Quem nunca experimentou as delícias mais profundas e enobrecidas do próprio coração terá dificuldade em compreender que por mais que se tenha bens e conquistas materiais, se estes não forem acompanhados de conquistas no campo do espírito (ético-afetivas) não terá muito. Usufruir é uma coisa boa, entretanto, se o sentimento de egoísmo e orgulho for acentuado, a afligência pela permanência do status e o medo da perda farão com que a vida seja uma disputa permanente sem paz de espírito. Sem paz de espírito não há espaço para cultivo das sementes da felicidade e de um amor mais autêntico.

ROSSANA BRASIL KOPF
Advogada
Psicanalista



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