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Fortaleza

Chefe Danielle Gondim ilustra e descreve o dia dos namorados no restaurante e traz uma receita para curtir a dois

A batalha dos apaixonados
 
Com 40 anos de vida, não passei por nenhuma guerra, a não ser a
do atual momento, contra um vírus invisível, letal e um governo
negligente. Falo aqui das guerras com armas, soldados, bombas e tudo o
mais. Graças a Deus que não estive nesse tempo triste, mas em nosso
imaginário coletivo fica guardado tudo o que foi vivido e sofrido,
registrado em livros e filmes.
As vezes o meu trabalho na cozinha parece até um cenário de
guerra. E já lhes explico o porquê da esdrúxula comparação . Inclusive, o
celebrado rei dos chefs ou ainda, o chef dos reis – Georges-Auguste
Escoffier, já havia entendido isso. Após sua experiência no exército, ele
desenvolveu um moderno sistema de brigada de cozinha, organizando-a
em hierarquia de autoridade, função e responsabilidade. Isso aconteceu
no século 19, e ainda seguimos esse modelo, que funciona.

Dia dos namorados. Maior venda do ano. Passamos uma semana
nos preparando. Para esse tipo de data, preparação é tudo. Temos que
reforçar a equipe, nosso batalhão. Quem estará conosco? Pensar nas
louças e utensílios que serão usados – nosso armamento. Pedir os
produtos – nossa munição. Criar o cardápio e treinar os soldados. Se não
souberem o que fazer, eles poderão se machucar ou acabar perdendo
munição à toa. Chama todo mundo. Vez por outra, tem algum soldado
mais desinteressado, temos que tratar de animá-lo. Precisamos
determinar as posições e funções de cada um, cada qual com seu reforço,
caso alguém se machuque o outro possa lhe amparar. 
Estudo com cada soldado a organização de sua munição, para que
ele tenha a quantidade correta e não venha a faltar, para que não produza
com muita antecedência e estrague ou ainda que produza em exagero,
então pensamos juntos em cada item de sua responsabilidade. 
Check lists a postos, concluímos o pré-preparo e é chegado o grande
dia. Ufa! Vieram todos os soldados. Precisamos começar montando
nossa mise en place. Esse termo é comum nas cozinhas profissionais e
significa “pôr em ordem, colocar no lugar”. Organizar todos os
ingredientes, do modo que será usado nas receitas.

Corta a cebola, lamina o alho, limpa o camarão, cozinha o arroz…
São tantos os afazeres que a gente chega a pensar que não vai dar conta.
Mas dá, porque cada um faz uma parte.  Precisamos nos alimentar para
enfrentar a grande batalha. Café é sempre bom.  Calmamente todos vão
tomando seus postos e aguardando os primeiros casais. Devagar,
tomando ritmo, a impressora vai entregando comandas, e nós chefes,
generais que somos, vamos numa perfeita sincronia, cantando e pedindo
os pratos. Passados mais alguns minutos a maquininha toma ar de
metralhadora e começa a cuspir. As comandas agora formam uma carreira
de papel tão grande , que mais parece carta de amante adolescente,
daquelas que a pessoa enrola . Não dá mais pra cantar. O barulho está
quase ensurdecedor, todos correndo e dando o melhor de si, para que
tudo dê certo e saia com total perfeição. Começam as cobranças. Falta
braço. Falta boca de fogão. A impressora vomita papeizinhos e o salão
está lotado. Todos suam e sentem sede, mas não dá tempo de beber
água. Corre, que tá atrasando! Não dá mais para contar os pratos e nem
cantar comandas, só faz! Agora atendemos um restaurante presente e um
outro que está em casa: o delivery. São dois ao mesmo tempo. Temos que
dar conta, respira e vai. 
Estamos no meio do serviço, e todos gostaram do cardápio. Chama o
maitre e avisa que o menu dos namorados está acabando, vende outra
coisa. Não tem mais lugar para colocar tantas comandas e elas se
amontoam. Mas o batalhão está com “sangue nos olhos” e quer vencer a
batalha, nós vamos conseguir entregar tudo. Vamos debelando uma por
uma até que já conseguimos dar um gole de água e respirar mais um
pouco. Nosso inimigo, o Sr. Tempo , já não nos assusta mais tanto, vamos
derrotá-lo. Clientes felizes conversam, degustam e bebem vinho no salão,
e a gente sua. A cada entrega ficamos felizes juntos.
A impressora agora também respira e já sobram alguns espaços entre as
comandas. Tá acabando, estamos exaustos e a batalha quase vencida.
Tivemos alguns machucados, mas nada grave, faz parte.
Os amantes deixam a casa de barriga cheia , e a gente de alma lavada. A
noite se encerra com um “ – muito obrigada batalhão, vocês foram
incríveis!”

Para ilustrar esse dia dos namorados trago para vocês uma receita que
lembra paixão. Uma taça de morangos com merengue, biscoitos e cream
cheese. Rápida, fácil e deliciosa.
Lambuzem-se!

Foto: Arquivo Pessoal

Morango, merengue e cream cheese
50 g merengue ou suspiros, é o mesmo
150 g de morangos
150 g cream cheese
50 g açúcar refinado
50 g creme de leite
Limão a gosto
4 unid biscoito champagne
Vinho branco doce para molhar o biscoito ou champagne.
Modo de preparo:
Bata bem o cream cheese com o creme de leite , o açúcar e o limão.
Reserve em geladeira. Corte os morangos. Molhe os biscoitos no vinho
rapidamente. Monte, intercalando com o creme, morangos, e os biscoitos

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