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Brasília

No dia 5 de abril de 1956, um ano depois do comício de Jataí, em Goiás, em que prometeu fazer Brasília e transferir a capital para o centro do País, Juscelino Kubitschek, presidente, ia para Manaus, com mais de 70 pessoas, em dois aviões. Estavam o presidente, o marechal Lott, ministro da Guerra, e outros ministros. Ele anunciou que ia descer em Goiânia para assinar a mensagem ao Congresso, propondo a construção da Capital.
No aeroporto, o governador Juca Ludovico e uma multidão. O avião não conseguiu descer. Rodou uma hora e não desceu. Contou nas memórias. “De repente, apareceu uma nuvem branca, densa, com cara de ameaça”.
Desceram em Anápolis, ali perto. A única coisa aberta era um botequim. E às 4h30 da madrugada, no botequim, presentes 25 pessoas, Juscelino assinou a mensagem propondo a criação de Brasília.
Diz-se por aí, inclusive na TV Senado, que a aprovação foi unânime. Nada disso. Uma pauleira. De 5 de abril a 16 de setembro de 1956, um intervalo de cinco meses, a imprensa do Rio fez uma campanha brutal contra. O Globo, Correio da Manhã, Diário de Notícias, até o Jornal do Brasil, que a apoiou na constituinte de 1891, e O Estado de S. Paulo, combateram muito. E a Light, o “polvo canadense”, financiando a campanha.
A votação no Congresso foi dura. Nas comissões da Câmara, nunca houve mais de três votos de diferença. No plenário, quem desempatou a favor de Brasília foi o PSP de Ademar de Barros, graças ao trabalho de seu líder, o bravo e universal deputado Neiva Moreira, PDT do Maranhão.
Aprovada a construção no Congresso, em 19 de setembro de 1956, JK não perdeu tempo. No dia 2 de outubro, encheu dois aviões da FAB com Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, o ministro da Guerra, marechal Lott; o chefe da Casa Militar, Nelson de Mello; o ministro de Obras Públicas, Lúcio Meira, e outros desceram no aeroporto improvisado do marechal José Pessoa, onde hoje é a rodoferroviária.
E Juscelino fez o histórico discurso, escrito pelo poeta Augusto Frederico Schmidt, cujo começo está gravado em mármore na praça dos Três Poderes:
“Deste Planalto Central, nesta solidão que em breve será o cérebro das decisões nacionais… Estamos aqui para construir a capital administrativa do País e o novo pólo de desenvolvimento do Planalto Central e do Centro-Oeste”.
Perdi a cena. O Jornal do Povo, por pobreza, não me mandou. Mas, duas semanas depois, no dia 18, fui com outros jornalistas em um aviãozinho do Governo de Minas. Juscelino começava a plantar Brasília em cima do nada. Apenas o cerrado verde sem fim e o horizonte infinito. O marechal Lott ficava de braços cruzados, olhando o planalto imenso:

  • Como é que vai ser, general?
  • Não sei.
    Juscelino, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro, sabiam.
    Nos meses de outubro, novembro, dezembro, no mínimo 50 vôos saíram do Rio ou de Belo Horizonte, levando senadores, deputados, jornalistas, empresários. Queriam ver para crer. A maioria, para não crer.
    Quando cheguei no dia 18, Niemeyer estava lá. Tinha ido no dia 2, cheio de medo. Não gostava de avião. Trabalhavam como mouros. À noite, bebiam uísque numa cabana do Núcleo Bandeirantes, que depois virou o Hotel Rio de Janeiro, onde tantas vezes nos hospedávamos.
    Niemeyer e Juca Chaves, dono do lendário Juca’s Bar, no Hotel Ambassador, no centro do Rio, do pai do saudoso Márcio Moreira Alves, fizeram um empréstimo de 500 contos no Banco Minas Gerais, com Maurício Chagas Bicalho, e construíram o Catetinho, para hospedar JK.
    Em novembro, Juscelino voava com um grupo de jornalistas e falava sobre o Lago Paranoá, a ser represado. Um jornalista mineiro não acreditou.
  • Presidente, não há água para encher esse lago de que o senhor fala.
  • Não tem importância. Se não houver água, encheremos com cuspe.
    Alguns iam, se empolgavam. O então governador da Bahia, Antonio Balbino, foi nos primeiros dias e fez uma frase manchete da “Última Hora”:
  • “Brasília vai ser construída porque Juscelino quer e porque o povo brasileiro quer, apesar dos que não querem”.
    Outros não iam, não viam e não gostavam. O “Jornal do Brasil” dizia que não ia acontecer nada, que era “uma paranóia de Juscelino”. Roberto Campos deu entrevista ao O Globo dizendo que era uma irresponsabilidade e que os americanos eram contra.
    O resto a nação sabe. Brasília está aí e o Brasil Central, o Brasil do Norte-Centro-Oeste, conquistado e unificado por Brasília, é o responsável hoje pela produção e exportação agropecuária nacional.
    E Juscelino estava lá, de pé, mão direita para o infinito, vendo a capital que há 60 anos nasceu de seu sonho e da utopia e grandeza de tantos.
    A História é isso. Quem abre caminhos corre o risco das cobras, mas é aos pés dos que vão na frente que as borboletas se levantam.

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