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Corrida de rua: um despertar para saúde

Modalidade se alastra por Fortaleza e atrai praticantes do Cambeba à Praia de Iracema. Federação Cearense de Atletismo estima que a Capital tenha cerca de 110 mil corredores

Kelly Hekally

Tio Flavinho e Luciana Paiva são corredores e donos de assessorias esportivas / Fotos: Luis Paiva

Ainda são 5 horas da manhã, mas o calçadão da avenida Beira Mar já anuncia que o dia começou. No local, espaço para uma das modalidades da cultura saudável que vem consolidando ares em Fortaleza: a corrida de rua. Segundo estimativa da Federação Cearense de Atletismo (FCAT), a Capital soma aproximadamente 110 mil corredores, entre amadores e atletas profissionais. O cálculo é feito a partir dos números de corridas, meias-maratonas e maratonas que acontecem na Cidade. Quando a projeção ocorre considerando todo o Ceará, o número se eleva a 500 mil, afirma o presidente da instituição, Jerry Welton Barbosa Gadelha.

A população fortalezense é de cerca de 2,5 milhões de pessoas e a cearense, 8,8 milhões, aponta o Censo 2022, mais recente levantamento de densidade populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As razões dos corredores Jamal Soufane (@jamalsoufane) e Andressa Furtado (@andressa_fn), ambos de 34 anos, se entrelaçam quando explicam por que aderiram à prática. Os dois viviam processos que os levaram a mudanças de hábitos, que foram desde a alimentação ao sono.

“Eu vinha de uma fase em que já estava focando em alimentação saudável, mas percebi que precisava me engajar em algo por questões emocionais e de autoestima”, explica Andressa Furtado, que começou a correr em 2020, pouco antes da pandemia. À época, 30 quilos colocavam-na em status de sobrepeso. A confeiteira decidiu, em setembro do ano passado, procurar uma assessoria esportiva, para “o correto direcionamento” e posterior intenção de correr maratonas.

Jamal conta que, em 2019, um amigo nutricionista o alertou para os riscos da obesidade que o marroquino, também brasileiro naturalizado, enfrentava. “Foi no meu aniversário”, relembra. Desde então, acrescenta, tudo aconteceu de maneira rápida e progressiva. “Eu estava pesando 98 quilos à época, muito para minha altura. Como sempre gostei de corrida, influenciado pela cultura do meu país de origem, acabei escolhendo essa modalidade”. O esporte foi acompanhado pelo upgrade na dieta, excluindo industrializados, açúcar e outros alimentos, progressivamente. O combo foi o motor propulsor para que a transformação de Jamal acontecesse.

Ainda em 2019, o influencer digital e professor de idioma correu sua primeira maratona em Curitiba, um percurso de 42 km. “Foram seis meses de preparação, entre abril e novembro”. Há cinco anos, a distância praticada por Jamal correspondia a 2 km, na esteira. As evoluções passaram por 3 km, 10 km, 21 km, por exemplo, para chegar aos atuais 145 km semanais, percorridos como treinos para suas próximas competições, em Tóquio (Japão), Boston e Nova Iorque (ambas nos Estados Unidos). Com 11 maratonas desde 2019, Jamal foca em performance, com tempos que de 2020 para cá variaram entre pouco mais de três horas para chegar a 2,5 horas, seu cronômetro na maratona de Barcelona, na Espanha.

DISCIPLINA: EFEITO COLATERAL
Para Andressa, a relação com a corrida transcende o universo do corpo e mente. “A corrida é algo muito disciplinador e tem efeito paralelo e terapêutico. A gente às vezes acorda cansada, mas é tão prazeroso que você corre e se sente melhor.” As relações de amizade da corredora também passaram por mudanças. “É um novo universo, em que você treina de madrugada e diminui a vida noturna e a bebida alcoólica. A vida social muda completamente. Você começa a conviver com pessoas de programações diurnas”.

Alvo de chacota quando se decidiu pela corrida de rua, a cearense conta que hoje vê antigos amigos serem impactados pela repercussão da prática. “Na época, me chamaram de exagerada, que eu ia ficar muito magra… Neste mês, vi em uma corrida de rua um colega que me mandou uma mensagem assim, lá no começo”. Para quem está iniciando na modalidade ou quer se aproximar, Andressa sugere o consumo de bastante água e boa alimentação “de largada”. “Sugiro também que a pessoa não se cobre tanto, que respeite seu corpo e avance gradativamente”.

Jamal, que não se considera atleta profissional, desconstrói o conceito de performar e o define como “bater suas próprias metas e objetivos”. “Busco, com a minha superação e a minha vida saudável, compartilhar nas redes sociais o máximo possível, de um jeito diferente, que o esporte é uma coisa muito natural e mostrar a simplicidade dele. Trazer gente de verdade mostrando que é possível performar”.

Tio Flavinho começou, em 2011, a dar aula para os pais de seus alunos da época

ACOMPANHAMENTO TÉCNICO
Presidente da Federação Cearense de Atletismo (FCAT), Jerry Welton Barbosa Gadelha estima que em torno de 100 das 184 cidades cearenses tenham pelo menos uma corrida por ano. O mesmo total, diz, é o de assessorias esportivas da modalidade em Fortaleza. Educador físico há mais de 20 anos, Flávio Freire da Costa está à frente da TFA Assessoria (@tfaassessoria). Conhecido como Tio Flavinho, o professor ganhou corpo no segmento das corridas de rua quando fez uma adesão nada convencional: passou em 2011 a dar aula aos pais de seus alunos.

“Pais dos alunos pediram para que eu criasse um grupo, que começou com atividades variadas como se fosse uma aula de educação física. Depois de um ano, com a corrida, eu vi um nicho no mercado”. Tio Flavinho aposta na integração entre seus corredores e outras assessorias para promover eventos na Capital. “Realizamos atividades que vão desde a convivência até arrecadações de alimentos”, exemplifica.

Aos 50 anos, a empresária Luciana Paiva vive uma relação de sinergia total com a corrida de rua. A dona da Stark Assessoria (@starkassessoriaesportiva) entrou em 2012 na modalidade, antes mesmo de se tornar gestora do negócio. “Depois do meu terceiro filho, eu estava totalmente sedentária e com depressão. Meu marido já corria e me incentivou”. Em um ano, Luciana fez sua primeira meia-maratona. Os treinos foram se intensificando e aumentando de quantidade a cada semana.

Em torno de 80% dos alunos da Stark estão matriculados na assessoria de corrida de rua, afirma Luciana. A empresa também oferece serviços como treinos para triathlon. “Antigamente, na corrida, eram mais as pessoas de 30, 40 anos. Agora, a gente vê muitos jovens, até mesmo adolescentes”, descreve sobre o perfil etário dos praticantes. Tanto Tio Flavinho quanto Luciana citam a pandemia de covid-19 como o grande despertar para o cuidado com a saúde e, consequentemente, a disseminação da corrida de rua em Fortaleza e no Brasil.

Luciana Paiva é corredora desde 2012

DICAS PARA COMEÇAR
Tio Flavinho e Luciana sugerem que o começo da corrida de rua seja acompanhado por uma assessoria. O cardiologista também precisa ser consultado, para avaliar se a saúde da pessoa está apta para a atividade. “É necessário respeitar a condição em que o aluno se encontra”, menciona o professor. Tio Flavinho diz que a modalidade “é indicada para todas as pessoas que têm interesse em atividade, mas que a mobilidade corporal também precisa ser levada em consideração”. “Pode começar caminhando, e a cada sessão colocando pequenos estímulos de corrida”.

Luciana afirma que no início é realizado um treino mensal com foco no objetivo do aluno, que pode desejar, por exemplo, ganhar resistência, velocidade ou performance. Em ambas as assessorias, os treinos são compartilhados via aplicativo. “Fortaleza é uma cidade de geografia plana, excelente para a corrida de rua. Avenida Beira Mar, Iguatemi, Lago Jacarey, Cambeba são locais em que se vê movimentação de corredores”, defende Luciana. Tio Flavinho menciona que “é comum ver praças dos bairros da Cidade com professores ensinando a modalidade”.

É possível marcar uma aula experimental. Os pacotes se iniciam em R$ 180, a depender da assessoria, e variam entre presenciais e remotos, de 3 a 4 vezes por semana. Os também corredores, porém, enfatizam que é preciso ter cadência com o corpo e que o comprometimento com os treinos, o trabalho de fortalecimento muscular e a alimentação é que será responsável pela evolução. “A constância e o trabalho paralelo de fortalecimento com musculação, pilates, crossfit ou funcional é que vão imprimir os resultados”, reitera o professor. Para iniciantes, intermediários e avançados: os chamados longões acontecem aos sábados, acrescentam os gestores.

Alegre ao olhar a pluralidade de idades que hoje saem às ruas para a corrida em Fortaleza, Luciana diz que se sente “muito feliz por contribuir com a qualidade e a mudança de vida das pessoas.” “A gente vê tantas histórias de pessoas com exames de saúde ruins e entende mais e mais que não é só a estética que interessa. É muito gratificante”. Aos viciados em redes sociais: diversos pontos de corrida na Capital contam com os chamados fotógrafos esportivos, que registram os momentos dos corredores e vendem as imagens via site.

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