Em menos de 20 anos, mais da metade da costa cearense poderá perder espaço devido ao avanço do mar; Fortaleza está entre os municípios afetados
Um estudo do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), divulgado pela Agência UFC, alertou, nesta semana, para a perda de pelo menos 10 metros de faixa de areia em mais da metade da costa do Ceará nos próximos 16 anos. De acordo com as informações divulgadas, o município de Fortim é o que detém a projeção mais acentuada de erosão, caracterizada pelo recuo da faixa de areia em direção ao continente.
A pesquisa, pioneira sobre a linha de costa cearense, calculou o cenário para os anos de 2030 e 2040. Em ambos os resultados, a margem noroeste do rio Jaguaribe, em Fortim, foi a que apresentou as taxas mais elevadas de avanço do mar. Somente entre 2020 e 2030, a expectativa é que o local perca 318 metros de costa.
Considerando o intervalo de tempo de 2020 a 2040, a perda total deverá ser de 436 metros. Outros municípios cearenses como Icapuí, Cascavel, Caucaia, Paracuru, Paraipaba, Trairi, Amontada, Itarema, Acaraú e Camocim estão entre as cidades que devem apresentar altos índices de erosão nos próximos 6 anos.
Até 2040, foi identificada a tendência de avanço do mar na região oeste, incluindo Fortaleza e sua Região Metropolitana. De acordo com a pesquisa, o cenário mais acentuado em Fortim se dá em decorrência de se tratar de uma região de estuário, que naturalmente possui uma dinâmica sedimentar mais complexa.
O estudo evidenciou que, dos 573 quilômetros de costa do Ceará, 49,16% devem perder 10 metros ou mais de faixa de areia até 2040. Para a professora do Departamento de Geologia da UFC, Narelle Maia de Almeida, a situação é grave.
“Processos erosivos acentuados podem prejudicar demasiadamente esta região de grande importância econômica, ambiental, social e cultural, que desempenha um papel vital na sustentabilidade e no bem-estar das comunidades locais e na biodiversidade costeira”, explica.
Os prejuízos intrínsecos à confirmação das previsões vão além das questões ambientais e poderão ser sentidos também na economia. “A atividade pesqueira e a aquicultura são cruciais para a economia local, garantindo alimentação e renda.
O turismo costeiro, impulsionado pela beleza natural das praias e esportes aquáticos, é uma importante fonte de receita e emprego. A cultura e identidade locais também estão intimamente ligadas ao mar e à pesca”, afirma a professora, que foi uma das autoras do estudo.
A pesquisa foi desenvolvida com base em imagens de satélite da linha de costa do Ceará entre 1984 e 2020. Um software calculou as mudanças que ocorreram ao longo do tempo e indicou a previsão futura da linha de costa do estado.
No período avaliado, foi constatado que 38,28% da área de costa sofreu erosão no Ceará, 13,73% passou pelo processo de acresção, que ocorre quando há avanço em direção ao mar, e os outros 47,98% se mantiveram em equilíbrio.
Durante os 36 anos avaliados, a praia do Icaraí sofreu a maior erosão da região do litoral metropolitano, e perdeu 109,73 metros de faixa de areia. Conforme o geólogo Luiz Henrique Joca Leite, cujo estudo fez parte do trabalho de conclusão de curso, a erosão tem causas naturais e humanas, sendo o Icaraí um exemplo de caso de erosão severa causada por interferência humana.