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O que é adoção?

A aparente simplicidade desta pergunta é enganadora: adoção é um termo rico em significados e simbolismo, merecendo as mais variadas utilizações, algumas mais nobres e agradáveis, outras menos felizes, utilitaristas. Aqui não se tratará, em absoluto, das campanhas promocionais de “adoção” de espaços públicos, ou de animais do zoológico, que na verdade são patrocínios que podem ser estabelecidos por pessoas naturais ou jurídicas para manter financeiramente estes estabelecimentos ou iniciativas. Também não se refere o termo às denominadas “adoções” de cães e gatos, ou outros animais de estimação, já que não estabelecem relações entre seres humanos, por mais proteção e cuidado que mereça o bicho. Tudo isso pode ser muito interessante, mas adoção propriamente dita não é.

Essa utilização, por extensão, do termo adoção tem se tornado bastante comum e é compreensível para dar a dimensão do compromisso daquele que se dispõe a manter uma determinada praça ou possuir um animal de estima. No primeiro caso, muitas vezes, não se trata de uma liberalidade pura a assunção da responsabilidade financeira ou de manutenção direta de algo que seja de uso comum, mas, ao contrário, pode ser uma atuação social que se faz em busca de reconhecimento ou divulgação de marca. E ainda que seja uma atitude desinteressada, do ponto de vista de retorno pessoal ou empresarial, longe está da formação de vínculo afetivo entre pessoas. A coisa estaria mais para doação do que para adoção, mas a sonoridade das duas palavras é próxima e isso repercute, de certa forma, na sua própria compreensão.

No segundo caso, as chamadas “adoções” de animais, já há alguma afetividade em jogo, eis que as pessoas cada vez mais se embrenham a criá-los, ofertando um cuidado, em muitos casos, assemelhados aos destinados aos seres humanos . Aliás, os animais – algumas espécies – passaram recentemente a contar com hotéis, tratamentos psicológicos, banhos e cuidados veterinários mais refinados, demonstrando uma aproximação acentuada com a consideração que os filhos têm de seus pais, o que reforça a aplicação do termo “adoção” para designar o ato de assumir a responsabilidade e adquirir a propriedade sobre eles.

De uma forma ou de outra, a extensão concedida para estes usos, sem nenhuma objeção aos que defendem espaços públicos ou amam seus animais, acarreta uma certa promiscuidade do significado de adotar. É uma desvirtuação da essência da palavra adoção, substantivo que designa o estabelecimento de um vínculo de parentalidade e filiação entre seres humanos, para o exercício de uma convivência familiar que se presume protetiva e amorosa. Adotar, neste original e melhor sentido, é alguém assumir o papel integral de pai ou mãe de alguém que assume o papel integral de filho. É dessa essência de integralidade, de profunda humanidade e só de humanidade, de que se constitui a noção estrita de adoção. Essa é a verdadeira adoção.

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