Extração de recursos naturais de forma responsável, mão de obra valorizada, durabilidade, biodegradação, fabricação a partir do reaproveitamento de materiais e produção local, dentre outras, são características que fazem com que um produto seja reconhecido como sustentável ou verde.
Saiba, pois, que de Quixeramobim, no interior do Ceará, chega à Capital, uma linha de calçados com algumas dessas características e outras mais. São os sapatos e sandálias produzidos pelo Grupo Frivolitas (leia frivolité), que uniu a delicadeza dos rendados Nhanduti e Frivolité ao conceito de reutilização de material e está produzindo sapatos e sandálias.
Com forte identidade local e regional, os produtos criados e desenvolvidos pelos artesãos que integram o grupo, atende princípios da economia criativa e da circular (leia Box). “O que seria descartado no lixo, vira matéria prima”, como disse a gerente do escritório regional do Sebrae, em Quixadá, Gabriela de Aquino.
“Um belo trabalho! O projeto idealizado pela iniciativa Brasil Original, do Sebrae Ceará, com o objetivo de desenvolver a economia criativa e introduzir artesãos e seus produtos no mercado, uniu uma potencialidade local, com o polo calçadista”.
O caráter inovador do Projeto Resgate de Ofícios Artesanais gerou novas oportunidades e mercados. “Agregou valor e fez surgir produtos sustentáveis a partir do aproveitamento de materiais descartados pela Cooperativa de Calçados de Quixeramobim (Cocalq)”, explica a gerente.
Pioneiro
O Grupo Frivolitas é o pioneiro na produção e comercialização do Nhanduti e Frivolité, no Ceará. A partir de minúsculos desenhos, linhas, trançados e micro nozinhos, surgem as rendas, juntando-se a estas, a criatividade, nascem os exclusivos pisantes. A oportunidade tem gerado renda aos sapateiros locais e ao grupo rural do Assentamento Caraíbas.
Segundo a senhora Zilá Zilda Carneiro, “a ideia de fabricar os sapatos foi do Sebrae”, porém, a mentora e responsável pela introdução das duas técnicas artesanais, a partir do município de Quixeramobim, no Sertão Central cearense, foi a própria Dona Zilá. “Eu aprendi as técnicas, em 1946, na escola, em São Paulo”, disse.
“Vim para o Ceará e sempre tive vontade de passar a técnica. O Sebrae nos procurou e então eu passei o conhecimento para um grupo de dez pessoas de um assentamento, depois ensinei mais cinco pessoas. Qualquer um pode criar um ponto. Hoje eles pesquisam, criam novos padrões e agregam valor econômico ao produto”.
Através de consultorias promovidas pelo Sebrae Ceará e sob a ótica do designer Érico Gondim, foi sendo desenvolvido um negócio inovador, agregando valor às peças e mantendo o conceito sustentável.
Para dona Francisca, presidente do Grupo Frivolitas, também é preciso destacar a cultura do Frivolité que precisa ser mantida acesa e levada a sério como outros pontos de renda. “A consciência ecológica também se faz presente. Com essa técnica do rendado, apresentamos como item de adorno pessoal em sapatos, e futuramente aplicados em novos produtos”, disse.
Comercialização
Ainda, de acordo com D. Zilá, “a ideia do Sebrae em relação ao sapato era outra”. Daí foi nascendo outra ideia de produto e hoje, “o grupo não trabalha com nenhuma matéria prima de origem animal”, melhor dizendo, “confeccionam calçados veganos”. Com a prática totalmente manual, o sapato é exclusivo e feito para o pé de cada cliente. O reaproveitamento e customização dos mesmos é um dos objetivos do grupo e pode ser um diferencial na hora de comercializar.
“Comercializar é a parte mais difícil”, declara D. Zilá. “Nossa luta com a comercialização é grande. Nós estamos querendo vender mais. Temos uma loja parceira em Fortaleza e em breve, teremos outra, em um shopping”, encerra.
O grupo formado por dez mulheres e um homem está produzindo os sapatos sustentáveis e sua pretensão é ampliar as vendas para outros estados e até fora do Brasil. A primeira coleção feminina de sandálias e sapatilhas produzida pelo Grupo Frivolitas, que apresenta forte identidade local e regional, está à venda ao consumidor, na loja colaborativa Elabore (www.elaborecs.com), na Rua Marcos Macêdo, 655, no bairro Aldeota, em Fortaleza.
Sobre o Frivolitas
O grupo de Quixeramobim é responsável pelo repasse da técnica Nhanduti e Frivolité, preservando da cultura popular e renda para comunidades. A nova coleção artesanal é composta de reaproveitamento de material das fábricas da região e da aplicação do Nhanduti. O Projeto de Resgate de Ofícios Artesanais é uma realização do Sebrae Ceará – Escritório Regional Sertão Central. O projeto já é visto por especialistas da moda como inovador no Estado, por serem as únicas com a técnica do Nhanduti.
UM POUCO MAIS…
Economia Criativa
Pode ser definida como processos que envolvam criação, produção e distribuição de produtos e serviços, usando o conhecimento, a criatividade e o capital intelectual como principais recursos produtivos. De forma clara, é todo tipo de negócio gerado a partir da criatividade, que, como o próprio nome diz, é o pilar desse novo formato de economia. É importante destacar que, para ser considerado parte da economia criativa, o negócio precisa gerar – ou, na visão de pesquisadores da área, pelo menos tentar – algum tipo de valor, seja para quem o produz ou para quem é o público do produto gerado.
Economia circular
Economia Circular é um conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, relação até aqui vista como inexorável.