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Lembrando Mário Covas

Proust, Marcel Proust, o gênio da lembrança, não esqueceu a memória: – “Há de tudo em nossa memória: é uma espécie de farmácia, onde ao acaso se põe a mão ora sobre um calmante, ora sobre um veneno”.

Muito oportuno o economista e professor Hélio Duque, exemplar ex-deputado baiano-paranaense, em relembrar Mário Covas que, neste 21 de abril, estaria fazendo 87 anos. Nesse tempo de rapinagem nacional é importante destacar homens que dignificaram a administração pública, pelo testemunho de vida que deixaram. Covas foi um homem público diferenciado. Em 1969, era o líder do MDB na Câmara. Cassado pela ditadura militar, voltou em 1982, com a anistia. Franco Montoro, eleito governador, o chama para prefeito de São Paulo. Engenheiro competente inovaria com sua administração que priorizaria a periferia paulistana. Em 1986, com 8,5 milhões de votos, se elegeria senador.

Na Assembleia Constituinte, líder do PMDB, foi referência na aprovação do texto constitucional. O PMDB era a garganta da oposição democrática, o partido de Ulysses Guimarães.” Em 1994, Covas se elegeria governador de São Paulo.
O desafio seria o de sanear e incrementar reformas na administração do Estado, recolocando-o no rumo do desenvolvimento. Reeleito em 1998, não cumpriria a integralidade do mandato, vitimado pelo câncer.

Na Constituinte, Covas sempre defendeu que o “horário político gratuito”, nas redes de rádio e televisão, deveria ser realizado ao vivo com a presença dos candidatos debatendo as suas propostas. Combatia o marketing eleitoral por ser vendedor de ilusão, vazio de conteúdo político e mistificador da opinião pública. Infelizmente prevaleceu a vontade da maioria, institucionalizando a falsificação no processo eleitoral brasileiro. O marqueteiro político assumiu o papel de principal protagonista nas eleições em todo o Brasil.

Os “joãos santanas” se multiplicaram, financiados por orçamentos bilionarizados. O dinheiro da corrupção passou a ser o grande irrigador das disputas eleitorais nos municípios, estados e nas presidenciais. Os “bonecos falantes”, diante das redes de televisão, falam dos desafios a serem enfrentados, lendo “teleprompter” (equipamento acoplado às câmaras de vídeo que exibe o texto a ser lido pelo político). O debate e o verdadeiro conhecimento dos problemas nacionais passaram a ser ditados mentirosamente pelos marqueteiros de plantão.
Hoje, a vida política brasileira é artificialmente fabricada pelas equipes do “marketing eleitoral”. O despreparo, a incompetência e o oportunismo aventureiro passaram a ser regra geral

O recente “Manifesto à Nação”, lançado pelos advogados Modesto Carvalhosa, José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach, preconiza mudanças e reformas na vida política, destacadamente na estrutura dos poderes republicanos, pede eliminação do foro privilegiado, adoção do voto distrital, fim das coligações eleitorais em quaisquer eleições, além da distribuição de igual tempo por partido no horário eleitoral gratuito para as eleições majoritárias. Os seus autores resgatam a proposta e o pensamento do sempre atual Mário Covas, quando propõem: “eliminação de efeitos de marketing nas campanhas eleitorais, devendo os candidatos se apresentarem no horário gratuito pessoalmente, com seus programas.”

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