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Fortaleza

Minha mãe, minha amada

Em minha última coluna que escrevi, despedir-me de vocês, leitores, porque iria dar um tempo para umas férias porque não aguentava mais o clima do país e nem o que estava vivenciando naquele momento em minha vida particular. As férias duraram apenas seis dias. Fui a Lisboa, depois a Barcelona. Passava o dia andando, delirando com o que via nas ruas da capital da Catalúnia.

Não era a primeira vez que estava ali, mas sempre que vou amo mais a cidade. Na última noite que fiquei por lá acordava a todo instante, parecia que estava pressentindo algo. Logo às primeiras horas da manhã recebi a triste notícia que minha mãe havia falecido. Fiquei perplexa e com o corpo todo dormente. Queria acreditar que era apenas um pesadelo, mas não, era a pura verdade. Retornei a Fortaleza na sexta-feira, junto com minha amiga de infância, também chamada Solange, que não deixou-me nenhum segundo sozinha. Fez tudo para diverti-me durante o período do voo. Chorava e ria ao mesmo tempo. Cheguei ao aeroporto e fui recepcionada pelos meus amados filhos e amigos do coração.

Falei de minha mãe durante todo este mês que ela partiu nas redes sociais. Confesso não gosto muito de Facebook, acho que devemos ter privacidade. Mas senti a vontade de mostrar ao mundo a dor que estava sentido no peito. Não cultivo tristeza, fui educada assim pelos meus pais. Queria retornar a minha coluna falando sobre minha mãe Wanda Palhano. Tentei durante todo este mês mas não consegui. Ontem ao arrumar meu armário encontrei uma entrevista que ela fez comigo quando tinha 10 anos de idade, então resolvi publicá-la neste espaço. Ao ler a página voltei a minha infância e conclui pela milésima vez que fui a criança e a adulta mais amada do mundo e que também amei minha mãe como ninguém.

Repetimos a coluna da semana passada porque a entrevista abaixo não ficou legível.

Bate-papo com Loirinha, a repórter

1) Quem é a Louirinha Repórter?
Quem sou eu? Você não sabe?
Eu sei mais quero que você diga, pois só a gente sabe verdadeiramente quem é.
Ora que pergunta tola, isto lá é entrevista. Quem eu sou? Meu nome você já sabe é Solange Palhano Xavier. Faço a 6a série, tenho 10 anos. Gosto de estudar ciências, matemática e arte. Dizem que sou muito inteligente, o que é uma verdade. Sou muito sincera, mas as vezes não sou, porque as pessoas grandes obrigam a gente a fingir, porque elas fingem muito, e por isso acho muito difícil ser verdadeira como queria, mas parece que para a gente ser entendida pelos coroas tem que aprender a mentir como eles, senão nos chamam de criança. Sou jornalista e gosto muito. As pessoas dão muito valor a quem escreve, noto – que depois que comecei a fazer minha página meu cartaz aumentou na turma, e pretendo ser muito famosa como jornalista. Quando crescer vou ser também engenheira arquiteta.
2) Com quem você gosta de bater papo?
Com o Mino e com você, que sabem escutar e compreendem o que digo. Meu pai também é muito inteligente, mas ele é muito ocupado e acha que sempre está com a razão.
3) Quem é uma pessoa importante que você admira no mundo?
Sabe minha mãe, isto é muito difícil de responder. Pode ser gente morta?
— Pode Loirinha, quem é?
O Kennedy.
— E no Brasil.
Bom, no Brasil tem o Juscelino.
Mas porque o Juscelino?
Ora, o Juscelino fez a cidade que eu nasci, tem coragem para gastar dinheiro e fazer muita coisa. Outro dia estavam dizendo que se não fosse ele todo mundo agora não tinha automóvel — e que ele tinha gasto em Brasília, era tão pouco dinheiro que hoje só da para construir uma ponte.
— Isso é exagero Lourinha.
4) Quem você elegeria para Governador?
O ex-Governador Plácido Castelo, que é um homem sério, simples, bom e simpático. E que muito fez pelo Ceará sem fazer farol.
5) Lourinha você não acha que ainda está na idade de brincar de boneca?
Não, eu não acho isto não. Aliás só gosto de boneca como enfeite. Não gosto de brincar com nada que não tem vontade própria. Antigamente é que as meninas não tinham direito a nada, só iam a festa aos quine anos, só podiam ler estórias de mentiras, não tinham televisão e por isso estavam por fora. Acho que mesmo da minha idade já posso fazer alguma coisa de útil. Eu tenho 10 anos mas não me troco por muita gente de 20. É bom a gente saber lá na frente o que vai acontecer e eu sempre sei. Melhor que ser menina amarela que só sabe fingir de viver.
6) Quais os melhores livros que você já leu?
Romeu e Julieta, o Pequeno Príncipe, Moreninha, e Iracema.
7) Você tem pecado?
Não. Nunca senti tristeza.

8) Quem é mais inteligente o homem ou mulher?
A mulher é preguiçosa, tem preguiça de pensar, acha que o que vale é ser bonita e saber ser dona de casa, que é a coisa mais vulgar do mundo, todo mundo sabe ser. Aquele homem daquela estória que você me contou, que passou 10 anos no escuro, trancado e quando saiu estava cego. Lembra? É isso mesmo que acontece com a mulher. Não sei se você está me entendendo.
— Estou sim Lourinha, pode continuar.
Pois é isso, mas quando a mulher resolve ser qualquer coisa, não faz diferença do homem, as vezes é até melhor.
Como você gosta de curtir a vida?
Se eu podesse vivia viajando, quando eu for independente vou andar o mundo todo. Adoro o mar. É a coisa mais linda que existe. Acho que o mar parece comigo. Ai! como seria bom poder dormir uma noite na areia da praia!
— Mas Lourinha, você é tão pequena e magrinha para parecer com o mar?
Nossa minha mãe! Você não saca nada. É nem vai adiantar falar que você não vai me entender. Pense um pouquinho que você vai ver como sou parecida com o mar. Ah. Já sei explicar… é por dentro que eu pareço.
— Já sei, já entendi. Você faz muita onda. Joga as coisas fora, emagrece, engorda. Não é isso?
Você não saca mesmo nada não. Vamos acabar com esta conversa que estou cansada de lhe explicar as coisas. Puxa!

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