27.1 C
Fortaleza

Viciado em jornal

Acordar, interfonar e pedir que o porteiro entregue os principais jornais da região para ler as notícias durante o café, é uma rotina arraigada, principalmente nos anos 1980 e 1990. Os jornais eram massudos, existia uma grande quantidade de títulos e sem a competição da internet eram senhores de sí mesmo. Naquela época, era impossível fazer jornalismo de qualidade sem a baliza dos grandes jornais do Sudeste. Nosso jornal iniciou naquela época a publicação de textos de alguns dos jornalistas mais influentes do Sudeste, tais como Helio Fernandes, Sebastião Nery, Paulo Francis, Carlos Lacerda e Giba Um.

O Estado teve diversas fases, altos e baixos, mas resistiu e, agora, completa seus 80 anos, marca que poucas empresas no Brasil conseguiram alcançar. Em 2016, completei 60 anos de idade e 40 anos que meu nome consta como sócio e na diretoria do jornal. Sou, decididamente, um viciado em jornal impresso em papel. Minha geração não abre mão dessa relação tátil com o papel. Mas, é impossível não ficar atônito com o estrago que a internet está fazendo na mídia impressa jornal.

Mesmo assim, apesar dos percalços contábeis vividos pelos jornais ao redor do mundo, eles são a mais consistente referência de credibilidade e a mais crível fonte de informação. Me preocupa, no entanto, o impacto das novas tecnologias de produção e distribuição de informação pela via digital. Isso parace e ser bem mais forte em países com baixo hábito de leitura, como o Brasil. O texto telegráfico da internet não pode afrontar o texto consistente dos melhores jornais do mundo. No entanto, como lidar com a perda de leitores e com as perdas de receita?

A chegada da internet marca um avanço extraordinário na História da civilização. É algo fabuloso e não há como discordar disso. Ao mesmo tempo em que se mostra como um pernicioso concorrente para o jornal impresso é inegável seu impacto na potencialização e na distribuição das mídias de toda natureza. Ela funda um cenário de ambiguidades: se apresenta como um progresso positivo mas traz consigo ameaças graves ao modo gutenberguiano de fazer jornal. Embora a leitura de livros tenha aumentado no Brasil, os jovens não lêem mais os jornais impressos.

Com a queda de receita e a consequente redução nas tiragens, grandes jornais, como o inglês, The Independent, migraram para a plataforma digital. Arrisco a dizer que uma tendência consistente é que os diários cessem ou reduzam suas edições de fim de semana. As tiragens e a quantidade de páginas caem devido a evasão de anunciantes. Temo pelo futuro do jornal impresso, porque os estudiosos mais inteligentes do mundo não apontam saídas. As novas gerações se satisfazem com a realidade líquida dos meios digitais.

Houve uma forte relutância antes de ser tomada a decisão levarmos o Jornal O Estado para a plataforma digital. Ela se baseava, principalmente, na crença de que o jornal impresso mantém-se sendo a principal fonte de informação — seja pela tradição de 80 anos, seja pela credibilidade — e que liberando o conteúdo na internet poderíamos contratar perdas dramáticas.

Assim como afirma o jornalista americano, Walter Robinson, do jornal The Washington Post, em entrevista publicada pela Folha de S. Paulo, “o problema é que demos de graça o nosso produto por tanto tempo (na internet), que é difícil [agora] convencer o público de que, se de fato você quer notícias com profundidade, tem que pagar por elas”.
Lembro que noutros tempos assinava três revistas e sete jornais em minha mesa de trabalho. Com a exposição gratuita, esse número foi reduzido para dois, e apenas pelo apego em “pegar no papel”.

Há jovens que nunca manusearam um jornal — contadas são as vezes que vi algum dos meus filhos folheando qualquer exemplar dos quatro jornais que recebo em casa. Eles não sentem nenhuma necessidade. Temo pelo futuro do jornal impresso, e tenho um medo terrível de que ele acabe, vivi minha vida inteira numa relação muito direta com ele.
Pode-se observar o presente caminhando para caminhos imprecisos, as pessoas estão deixando até de conversar… Fica então o questionamento, “Como será o jornalismo daqui há 20 anos?”. Como disse recentemente o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, “Eu só não vou morrer na redação para não atrapalhar o fechamento da edição do dia”.
Como será o amanha?

Mais Lidas

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Vegetação da Base Aérea de Fortaleza é atingida por incêndio na noite desta terça-feira (13)

O fogo se rapidamente se alastrou em um canteiro próximo ao muro da base. Até o momento não há registro de vítimas.
spot_img