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Venelouis Xavier Pereira, em raro registro audiovisual

Por muitos anos, a jornalista Ian Gomes manteve um programa de entrevistas que falava dos bastidores da imprensa, a partir de conversas com jornalistas e com profissionais ligados à comunicação. Foram dezenas de entrevistas transcritas, depois, e reunidos no livro Gente de Imprensa.

A entrevista com Venelouis foi veiculada no dia 27 de junho de 1992, um sábado. Ian Gomes se inspirou no estilo de Guto Benevides, quando esse realizou uma série de entrevistas com jornalistas nos anos 1970, publicadas no Jornal O Estado, e depois reunidas no livro A Curtição do Guto.

Venér, com os encantos e desencantos da profissão, o senhor começaria tudo outra vez?
Eu sou formado em Direito e também em Filosofia e pensava em ser professor. Mas depois, estudando no Rio e vendo Carlos Lacerda, que foi o fundador da Tribuna da Imprensa, eu me dirigi mais para o jornalismo. Advoguei muito pouco. Como estudante, em Fortaleza, eu já escrevia no Diário do Povo, com o saudoso Jáder de Carvalho, um dos melhores jornalistas do Ceará. Certamente eu começaria tudo outra vez.

É difícil fazer jornalismo no Ceará?
É muito difícil fazer jornalismo em qualquer parte do Brasil e no Nordeste, principalmente, porque os jornais dependem muito do apoio governamental — de um apoio do Governo do Estado, da Prefeitura… O faturamento em todos os jornais do Nordeste depende muito dos governos. Mesmo no Rio e em São Paulo ainda há essa dependência da mídia oficial.

Existe a verdade no jornalismo?
A gente busca a verdade, tenta encontrar a verdade, mas é difícil. Não existe propriamente um jornal completamente independente. Eu já tive uma linha mais independente no Jornal O Estado, mas até a família concorre pra gente ser menos independente. Eu sofri uma perseguição durante 20 anos da Revolução. Porque eu era da Revolução, mas quando começou a praticar excessos, a perseguir trabalhadores e torturar, eu fui chamado várias vezes na 10a. Região Militar e fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Porque tinha aqui um grupo de oficiais que estava aterrorizando o Ceará. Eram chamados os “pernambucanos”. Era um no comando da Polícia Militar, outro na Secretaria de Polícia e outro no Trânsito. E eu enfrentei este pessoal. Fui até sequestrado por isso e, depois, eu que havia sido sequestrado, ainda fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional.

Hoje é mais fácil fazer jornalismo?
Hoje é mais fácil, porque existe a liberdade, existe a Constituição em vigor. Naquele tempo, a gente tinha a censura dentro do jornal. Como eu não aceitava censura por telefone — eles ligavam e diziam não publique isso, não publique aquilo, eu não aceitava —, eles colocavam um policial federal dentro do jornal. No Brasil, existiam três jornais que não aceitavam a censura por telefone, O Estado o meu, O Estado de S. Paulo e a Tribuna da Imprensa, o resto recebia recado por telefone para não publicar. Por conta disso tentaram me sufocar economicamente, muitos processos. Existia uma ordem, do Gabinete da Presidência, para o Jornal O Estado não ser programado na mídia oficial. Nós passamos 20 anos sem receber anúncio do Governo Federal.

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