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Fortaleza

Um país esgotado

Em 1953. Getúlio Vargas era presidente da República. Jânio Quadros prefeito de São Paulo, Carvalho Pinto secretário da Fazenda de São Paulo, Coriolano Góes diretor geral da Cexim (Carteira de Exportação e Importação do Banco do Brasil).
Uma tarde, aparecem no gabinete do diretor da Cexim, no Rio, Jânio Quadros e Carvalho Pinto. Precisavam de uma audiência urgente para uma licença especial do Governo Federal para importar da Alemanha peças para os ônibus da CMTC, a empresa municipal de ônibus. O chefe de gabinete, Virgilio de Góes, filho do diretor, lhes diz que o pai não costumava receber ninguém à tarde, mas que, evidentemente, tratando-se do prefeito de São Paulo, a exceção era normal.
Jânio entrou no gabinete, ficou duas horas, saiu sorrindo, chamou Virgílio, pegou-lhe as duas mãos, encostou-as ao peito, entortou os olhos, revirou os ombros, dobrou as canelas e lhe disse pateticamente:
– Meu jovem, devo-lhe a salvação da CMTC.
– Nada disso, prefeito. É apenas dever do Governo Federal ajudar a prefeitura de São Paulo.
– Quero que me diga, qualquer dia em que precisar de alguma coisa, o que deseja, fa-lo-ei imediatamente.
– Muito obrigado.
Jânio foi saindo, voltou-se sobre os calcanhares retorcidos:
– Aliás, nem precisa telefonar. Pense, apenas pense, que eu atenderei.
E sumiu.
Hoje, já não se fazem Janios como antigamente. Prefeitos e governadores estão em tais dificuldades que vivem de pires na mão pedindo socorro ao Governo Federal, que, também no sufoco, não pode atender.

A crise
Administrar a folha de pagamento dos estados vem sendo a prioridade dos atuais governadores. A crise estrutural nas finanças públicas estaduais tornou-se um drama nacional. O desequilíbrio fiscal, que atingiu níveis recordes na estrutura do governo federal, estende-se praticamente a todas as unidades federativas. O ciclo de endividamento atingiu o máximo, agravado pelo populismo do mundo político. Os programas fantasias das administrações estaduais não resistem mais à realidade.
Acrescente-se o indiscutível despreparo público de vários governadores. Boa parte está mais preocupada com o seu destino e não com a população que representa. Em vez de sanearem as contas públicas, enfrentando os desafios fundamentais para o futuro, preferem o caminho fácil da propaganda mistificadora. O estado do Rio de Janeiro é um exemplo de deterioração das finanças públicas.
E o mais grave, embora não o único:o pagamento de salários e aposentadorias vem sendo um drama. A origem está na correção das remunerações maiores do que a capacidade de arrecadação estadual, agravada com o endividamento dos estados, tendo o Tesouro Nacional como avalista de financiamentos, em desacordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Governos populistas e submetidos às corporações (a exemplo do que ocorria no Governo Federal) adotaram a irresponsável contabilidade criativa. Estão colhendo o fruto.
Brasília
O governador Rodrigo Rollemberg (foto), de Brasília, constatatou que 77% do orçamento é gasto com pessoal e inativos. Eleito pelo PSB, o partido dos socialistas, em uma coligação de esquerda, ele diz que é fundamental uma nova esquerda enfrentar o corporativismo dos sindicatos de uma velha esquerda. Ao assumir o governo, reduziu de 38 para 19 o número de secretarias e cortou cinco mil cargos de livre provimento:
-“O corporativismo está contribuindo para amplificar e aprofundar as desigualdades sociais. Quando o Estado perde a capacidade de fazer investimentos nas áreas de infraestrutura, porque os recursos estão sendo drenados para o pagamento de salários, estamos aprofundando um cenário de desigualdade social”.
Hoje o déficit dos regimes próprios estaduais está por volta de R$ 64 bilhões, podendo em 2020 atingir os R$ 101 bilhões. Nos estados existe 1.440 milhão de servidores aposentados e mais 490 mil pensionistas. Já os servidores ativos são 2,6 milhões, equivalendo a diferença dos ativos e inativos a uma proporção insustentável.

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