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Estratégia da serpente

Os detratores da nova cultura da adoção utilizam-se frequentemente de uma bem definida estratégia de ataque contra toda a construção que os Grupos de Apoio à Adoção levam a cabo nas últimas duas décadas. Esse padrão argumentativo, aqui chamado de estratégia da serpente, segue uma linha que em um País onde a pobreza é uma realidade concreta a abundante: a demagogia.
Com efeito, a utilização da demagogia para desincentivar a adoção se desdobra em duas vertentes, a DEMAGOGIA-ESTRATÉGIA e a DEMAGOGIA-IDEOLOGIA. A confluência entre elas gera um denso discurso que contrapõe a adoção à reintegração familiar, e pugna com insistência insana pela prevalência da segunda sobre a primeira. Assim, formada para dissuadir os desprevenidos de atitudes de aproximação com a causa adotiva, essa força-tarefa desenvolve diversas sub-estratégias pontuais.
Dessa forma, a tese principal é que a adoção é a última das opções de colocação familiar da criança. Não se poderia falar de adoção, nem de se incentivá-la, num país onde faltam políticas públicas e as pessoas abrigam seus filhos em função da pobreza. Justificada, pois, a causa da institucionalização da criança em função da miséria das famílias, seria injusto e até preconceituoso se destituir o poder familiar, retirando-se desta família socialmente excluída a sua criança. Nesta linha de raciocínio, os esforços deveriam ser dirigidos prioritariamente à reintegração familiar, com a recuperação da família para receber de volta sua criança assim que possa realmente trata-la de forma adequada.
A tese contrapõe a injustiça da institucionalização da criança a injustiça da pobreza da família. Mas, é gritantemente falha em diversos pontos. Em primeiro lugar, parte de pressuposto de que a pobreza é a única ou principal causa da institucionalização da criança. Os dados mais confiáveis colhidos demonstram que a falta de recursos para custeio da manutenção da criança é um dos menores índices nos que determinam seu acolhimento institucional. Antes, vêm a violência familiar, o vício em drogas e em álcool, o abandono por desinteresse. Todas essas situações se dão em ambiente de pobreza, mas dentro dela estão longe de ser a regra.
Com efeito, a grande maioria das famílias pobres criam seus filhos com grande esforço e dignidade, superando a tal insuficiência de políticas públicas, porque por eles tem afeto. Além disso, não são comparáveis as injustiças contrapostas: a criança é muito mais prejudicada com seus abandono em uma instituição do que a família de origem com a destituição do poder familiar. A tese da demagogia transforma a criança em coisa, propriedade de sua família biológica, que pode abandoná-la justificadamente por anos a fio, até que tratamentos miraculosos venha a desenvolver nela a capacidade de amar.
A vertente da DEMAGOGIA-ESTRATÉGIA é utilizada pelas pessoas que deveriam desemperrar o sistema para garantir para cada criança uma família, mas que são incompetentes, desinteressadas ou integrantes de governos que têm visão sectária dos direitos humanos. A vertente DEMAGOGIA-IDEOLOGIA é a das pessoas que fazem da pobreza uma religião e não um mal a ser erradicado. Apaixonaram-se pelo estado de miséria e não pelos seres humanos que nele se encontram e de onde devem ser emancipados.
Quando se juntam essas duas vertentes numa só pessoa, temos a DEMAGOGIA-ESTRATÉGIA-IDEOLOGIA, um monstro com potencial de assassinar infâncias com seu discurso paralisante das grandes transformações, que, se for rebuscado com um ar pretensamente intelectual e uma atitude professoral, pode certamente gabaritá-la a pleitear um cargo de confiança no Poder Executivo, de média a alto escalão.

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