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Um tempo necessário

São muitas as tradições religiosas que contemplam em suas normas a existência de um período de tempo destinado à reflexão e à oração. Sejam de origem oriental ou de matriz judaico-cristã, as religiões propõem a seus fiéis um tempo sabático, durante o qual seus fiéis podem rever comportamentos e exercer de forma mais dedicada sua fé. É um momento de aproximação do homem com Deus, no processo de re-ligação desta relação rompida pelo desamor da vida em sociedade.

Desta forma, as pessoas que professam alguma religião podem organizar seu esforço de pacificação com Deus. É o tempo da preparação para esse grande reencontro, quando o homem tem a oportunidade de olhar para si e para o mundo, com olhos de ver o que pode e precisa ser transformado. Mesmo aqueles que, sem professar uma religião específica, procuram aprofundar sua espiritualidade, criam esse tempo de reflexão e transformação. É famoso, por exemplo, o “caminho de Santiago”, no qual peregrinos se aventuram em direção à Santiago de Compostela, na Espanha, para viver esse momento de busca de propósitos e autoconhecimento. Há muitos “caminhos” e locais sagrados para serem visitados e uma incrível sede de paz de espírito a ser saciada.

No Catolicismo, logo que se encerra o Carnaval, se inicia um período de quarenta dias marcados por esta potencialidade transformadora. Trata-se da Quaresma. A Quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que não é exclusivo da Igreja Católica, pois a Igreja Anglicana e algumas protestantes também a adotam. Seu objetivo é preparar os fiéis para a grande festa da Páscoa. Durante este período, eles são convidados a um período de penitência e meditação, por meio da prática do jejum, da esmola e da oração. Começa na quarta-feira de Cinzas e termina na tarde de quinta-feira santa, antes da Missa da Ceia do Senhor, que inicia o Tríduo Pascal. Ao longo deste tempo é feito um esforço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que pretendem viver como filhos de Deus. É um verdadeiro esforço de religação com Deus.

É um tempo de penitência, caridade e oração. Dito desta maneira, a afirmação pode parecer piegas e politicamente incorreta. Penitência nos remete aos castigos corporais vinculados aos fanatismos religiosos. Propor modernamente o jejum em um mundo de culto à comida parece uma atitude medieval. É necessário refletir sobre estes conceitos para deles extrair sua verdadeira dimensão.
Qual o sentido da penitência, do jejum, na vida de uma pessoa? Não se trata de um regime para emagrecer, nem de uma renúncia a questões meramente físicas. O que se pede é uma renúncia ao que afasta a pessoa de Deus, livrando-a de conviver com o peso de atitudes divorciadas de amor e compaixão. Neste sentido, o jejum da quaresma torna a existência mais leve. É um regime para a alma, que pode ser acompanhado de atitudes concretas no mundo físico, para que simbolize o compromisso anímico de transformação.

Assim, por exemplo, se pode deixar de comer doces durante este período, para que essa atitude relembre do pacto de aproximação com Deus. Mas, a renúncia realmente importante, aquela que vai servir de preparação para a conversão definitiva e transformar a vida da pessoa para melhor. Optar pela conciliação, ao invés do conflito; pela esperança em detrimento do mau humor; pelo carinho no lugar da indiferença. Renunciar ao que Deus não quer ver em nossas vidas, eis o grande jejum, o jejum transformador.

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