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O afeto que você merece

Qual é o afeto que você merece? Ou seria melhor perguntar qual o afeto que você precisa? Nós somos seres alimentados pelo afeto. Ele é um combustível essencial para nossa formação. Somos seres mais seguros quando fomos amados em nossa infância de uma maneira explícita. A bem-querência nos permite ousar os primeiros passos, nos ampara nas explorações do desconhecido, que são tão importantes para formação de nosso caráter.

Frequentemente nos deixamos levar por uma torrente de informações que trazem o elixir da vitória e do sucesso. Somos impelidos para a “modernidade” e nos sentimos vivos enquanto lutamos por posições, pelo dinheiro, pelo reconhecimento alheio. Se gastamos nosso tempo – finto e escasso – com estas coisas, não há reprovação social e não sentimos culpa. O lugar-trabalho é um refúgio seguro, pois nele podemos nos esconder das relações mal-sucedidas, dos diálogos rompidos, do cinismo protocolar com o qual nos safamos de amores desgastados. Há quem trabalhe muito para se ver livre da infelicidade com a qual não pretende lidar. É o trabalho alienação.

A grande quantidade de pessoas “workaholic” que hoje se gabam de estar rumo ao sucesso, na verdade, foge da falta de afeto, que fere suas almas. Correm para suas biografias inventadas, nas quais são admirados, assumindo personalidades públicas completamente diferentes do que realmente são na intimidade. Inventam uma persona. Já que não obtêm admiração e afeto por suas próprias qualidades, criam um superser para portar o seu ego e com isso, conseguir a tão sonhada aprovação alheia. Este é o real sentido da vida para estas pessoas: ser admirado, ainda que por força da criação de um ser-mentira.
Esse é um dos motivos do grande Roberto Shinyashiki ter escrito o excelente livro “A Carícia Essencial”. Era importante reposicionar a importância do afeto, para pessoas que dedicam sua vida para provar que dela não necessitam.

Paradoxalmente, ao tentar provar que podem ser um sucesso sem afeto, lutam pelo reconhecimento alheio, que tomam como uma forma de afeto. Andam em círculos, voltando sempre aos mesmos impasses emocionais. Podem ganhar milhões e assumir posições notáveis, mas, no fundo, comportam-se como crianças que fazem pirraça para chamar a atenção dos pais distraídos. E, convenhamos, ninguém faz sucesso esperneando…
E de qual afeto precisamos? Todos os afetos disponíveis: pais, filhos, companheiros, amigos, todos. E como fazemos para obtê-los?

Cultivando relações sadias, procurando ser gentil todo o tempo, levando pequenos presentes que demonstram que aquela pessoa é lembrada com carinho quando não está em nossa companhia. Afeto é cultivável. E o que nos impede de assumirmos essa faceta infantil da nossa personalidade? Por que não podemos ser aquela criança que organiza a brincadeira, chama os amigos, resolve os impasses e faz as pazes? Será porque a imagem do sucesso é alguém de terno cinza?

Proponho ao leitor uma experiência: exerça seu afeto hoje de forma inesperada com alguém. Dê flores. Diga eu te amo, com sinceridade. Jogue botão com seu filho ou brinque de casinha. Às favas com o terno cinza e sua sisudez!
Experimente fazer isso gratuitamente e crie ao seu redor uma atmosfera de afeto. Aplique esta receita por dez dias, e depois faça um check-up na sua vida amorosa, para constatar como aquele velho coração guerreiro começa a dar sinais de vida dentro do peito de pedra que se criou para sufocá-lo.

 

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