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Fortaleza

Em meio ao chão rachado do sertão cearense, nasce uma árvore

Katy Araújo
Da Redação do OeV

Boas práticas e soluções para que o povo cearense não sofra tanto com os longos períodos de estiagem, são vistos como um copo com água no meio do deserto. Nesse caso, o ambientalista, Sr. João Caruca, vem sendo o “copo com água” em Canindé, terra quente e que vem sofrendo com o quarto ano de seca do Ceará.

FOTO: Aprenac / DIVULGAÇÃO
FOTO: Aprenac / DIVULGAÇÃO

Mas, o que Sr. João anda fazendo para tal comparação? Simples, plantando árvores em meio ao sertão. Fundador e presidente da Associação de Preservação da Natureza e Cultura Popular (Aprenac), desde 2008, ele vem plantando e incentivando a população de Canindé a plantar árvores na cidade. Plantar árvores onde elas antes não existiam cria microclimas e mitiga o impacto da mudança climática no semiárido.

O trabalho de Caruca já mudou um pouco o cenário de Canindé, mas ainda falta muito, já que o município vem sofrendo com a desertificação. “A Aprenac foi idealizada com o objetivo de ter algum trabalho voltado para a vida. Por nós estarmos no sertão com dificuldade de água, já temos muitas áreas desertificadas, por isso focamos nosso trabalho no plantio de mudas. Na cidade já tem bastante árvores, mas ainda falta muito. Então, nosso objetivo é incentivar pessoas a plantar”, destaca.

Doações de mudas
Confeccionando as próprias mudas, a Aprenac realiza doações e mutrões de plantio nas principais praças de Canindé. O ambientalista faz questão de destacar que as mudas são doadas e não distribuídas. “Eu sou a favor de doar árvores, porque a gente pega todos os dados da pessoa que está recebendo a muda, olha onde ela vai plantar, avalia o local que será plantado, para assim não haver desperdício. Porque receber as mudas, todo mundo estira a mão e recebe, mas plantar… Não são todos que plantam, e é o que justamente faz a diferença”, aponta.

As mudas doadas são confeccionadas no Jardim Santa Mônica, espaço pertencente à associação. Experiente em jardinagem Sr. João cuida pessoalmente das mudas, que ainda conta com a ajuda voluntária dos alunos de agropecuária da Escola Profissionalizante Capelão Frei Orlando.

Cidade mais verde
Desde 2008, Caruca calcula ter plantado mais de 20 mil árvores, não só na terra das romarias de São Francisco como também em alguns municípios vizinhos. Em Canindé a associação se concentra em arborizar praças e a margem do Rio Canindé.

De acordo com o presidente da associação, nas praças estão sendo plantadas, de preferência árvores frutíferas e nas vias públicas o Pau-Brasil. “Nas praças nós estamos estimulando a plantação de árvores fruteiras, como por exemplo, a mangueira. Nós já plantamos várias mangueiras na Praça Doutor Aramis. E no caso de ruas, nós estamos plantando o Pau Brasil, que se alimenta da umidade do ar e se sua raiz passar de um metro não precisa mais aguar, ele é resistente ao clima semiárido”, ressalta. Também são plantadas castanholas e espécies nativas.

É muito comum encontrar não município, o Nim Indiano. Mas a espécie está sendo retirada, por agravar ainda mais a situação de desertificação da cidade. O cultivo da espécie e sua proliferação provoca prejuízos a outras plantas e até animais, uma vez que possui também propriedades repelentes. O grande problema, de acordo com Sr. Caruca, é a substituição dessas árvores.
“O Nim Indiano danifica calçadas e sem contar que eles também matam as abelhas. A espécie está sendo retirada, tudo de acordo com a legislação ambiental e autorizado pela Prefeitura. Mas temos que repor essa árvore, por uma que não cause nenhum mal físico. Mas algumas vezes encontramos resistência dos moradores em pôr uma árvore na calçada”.

Cinco mil mudas
De janeiro a outubro deste ano, a Aprenac já plantou cerca de 2.500 mudas em Canindé, a meta é plantar mais de 5 mil mudas até metade de 2016. “Dentro do projeto, nós distribuímos plantas de pequeno e grande porte e ainda auxiliamos no plantio. Nosso objetivo é plantar árvores para melhorar o clima e aumentar a umidade do nosso município. Nós incentivamos, também, o plantio na beira do rio, como forma de recompor a mata ciliar. Queremos construir uma cidade mais verde”, encerra Caruca.

Não tem água
Com 77 mil habitantes e chegando a receber até 2 milhões de pessoas durante período da romaria a São Francisco de Canindé, no mês de outubro, o município já não tem de onde tirar água. O açude São Mateus, construído pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) em 1957, está seco. Se cheio, teria 10,3 milhões de m³ de água.

No monitoramento feito pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), o São Mateus é um dos que apresentam volume zero no Ceará. Os outros dois reservatórios da sede do município, o Souza (30 milhões de m³, com 0,06% atualmente) e o Salão (recebe até 6 milhões de m³, hoje tem 0,99%), estão em situação idêntica. Há seis meses, a escala do racionamento de água nos bairros é de dois dias de fornecimento e cinco de torneiras vazias.

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