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Grande incógnita

Alguém duvida do impacto da atividade mineradora no meio ambiente natural? Certamente que não, principalmente, após o rompimento das duas barragens de rejeitos da empresa Samarco, de mineração, no último dia 5, em Bento Rodrigues, a 35 km da histórica Mariana, em Minas Gerais.

Um “tsunami de lama” destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões. O acidente que já é considerado o maior desastre ambiental das Minas Gerais, quiçá do Brasil [pelas características], ocorreu em uma pacata tarde, em um tranquilo distrito mineiro que tinha 121 casas e 492 moradores e que agora virou lama.

A cena do deslizamento remete um pouco à Pompeia de quase 2 mil anos, nos tempos da Roma Antiga, quando uma onda mortal de cinzas, lavas e gases superquentes do vulcão Vesúvio sepultou uma cidade inteira. A catástrofe de Pompeia entrou para a história. Será que a ocorrida em Mariana cairá no esquecimento?

Segundo informação no portal da Samarco, a empresa brasileira de mineração de capital fechado é controlada em partes iguais por dois acionistas: BHP Billiton Brasil Ltda. e Vale S.A. e tem como missão, “produzir e fornecer pelotas de minério de ferro, aplicando tecnologia de forma intensiva para otimizar o uso de recursos naturais, gerando desenvolvimento econômico e social, com respeito ao meio ambiente”.
Mas o que aconteceu em Mariana não reflete essa missão. A barragem de rejeito rompida não representa apenas um acidente, mas o estado da arte de algumas atividades no Brasil, que por mais sustentável que possam parecer, não o são. Na verdade, são exemplos de greenwashing ou “lavagem verde”. Significa a apropriação de “virtudes ambientalistas” que a organização não tem. Como ter virtudes ambientalistas exercendo uma atividade como a mineração?

“Temos em nosso DNA a participação no desenvolvimento das comunidades vizinhas, a construção de relação de confiança com nossos parceiros, e, acima de tudo, o respeito à vida.” Assim está escrito no portal da Samarco, conceitos que sintetizam os objetivos traçados na Missão, Visão e Valores da organização. E mais, a empresa garante que o desenvolvimento [dela] reflete, também, nas regiões onde atua e com os públicos com os quais se relaciona.

O que estamos vedo em Bento Rodrigues? Parece piada, ou então, a vida pregou uma peça com a Samarco: a agência ambiental mineira acaba de embargar a licença da empresa, dois mortos identificados, e ainda 25 pessoas desaparecidas após a tragédia. Sem contar que a previsão é que os rejeitos atinjam os recursos hídricos na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, afetando 25 mil pessoas, e a lama ainda deve chegar a Colatina, cidade com 111 mil habitantes, na manhã desta terça e seguir até Linhares, onde moram cerca de 140 mil pessoas. É um longo, rápido e trágico percurso.

Muito além dos impactos ambientais, esta é uma grande tragédia, não apenas um grande acidente ambiental, mas uma catástrofe econômica, social e humana. Quem vai reconstruir a vida dessas pessoas? Quem vai reconstruir o vilarejo de Bento Rodrigues? Quem vai pagar essa conta? Essa é a grande incógnita.

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