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Islamofobia: população francesa considera o islã como uma religião perigosa

Como ser muçulmano hoje na França? A pergunta tortura boa parte dos 6,5 milhões de pessoas vinculadas com o islã no país, seja de maneira religiosa ou apenas cultural. A onda de atentados que tomou conta de Paris ontem, 13, a — além das 12 vítimas no ataque contra a revista satírica Charlie Hebdo, em janeiro — colocou a população muçulmana no centro dos debates. Os meios de comunicação deram espaço a textos sobre a relação entre islã e violência, e, finalmente, sobre o lugar dos muçulmanos na França.

Para o especialista em islã Olivier Roy, professor do Instituto Universitário Europeu e autor do livro Em busca de um Oriente perdido, a maioria da população francesa considera hoje o islã como uma religião perigosa, cujos textos fundadores seriam a favor da jihad para acabar com o Ocidente. “Parece que todo muçulmano tem um chip na cabeça que faria dele uma pessoa impossível a ser assimilada na sociedade francesa”, explicou, em tom crítico, em coluna publicada pelo diário Le Monde. “O único jeito para ele ser aceito é gritar muito forte e publicamente que ele é a favor do um islã liberal, feminista e gay-friendly”, continua.

ANTES DISSO

Feita em 2010, um alei francesa proíbe as pessoas de esconderem o rosto na rua ou em outros locais
públicos e estabelece multa de até 150 euros para quem desobedecê­la. E, 2014, uma mulher islâmica tinha levado o caso ao tribunal, argumentando que a medida fere a liberdade religiosa. O governo francês argumentou que a lei foi
feita por questões de segurança e não mira especificamente os muçulmanos – ela vale, por exemplo, para o uso de capacetes de moto.

A corte, que fica na cidade francesa de Estrasburgo, disse que a lei promove a harmonia entre uma população diversa e não é contrária a Convenção Europeia de Direitos Humanos. Não cabe recurso da decisão.
A sentença, que teve 15 votos favoráveis e dois contrários, aponta que a lei pode ter “efeitos negativos específicos sobre as mulheres muçulmanas”, mas que existe uma “justificativa objetiva e razoável” para adotá­la.

CONSTRANGIMENTO

Os muçulmanos precisam condenar com ainda mais força os atentados, já que foram cometidos por “irmãos” em religião. Em francês, a palavra — difícil de traduzir — é muito forte: “désolidariser”, ou seja, quebrar a solidariedade implícita que existe entre muçulmanos, pedir desculpas pelo que os outros fizeram. Quem não faz isso publicamente sofre pena de ser visto como favorável ao terrorismo.

Para Roy, os muçulmanos da França nunca manifestaram o desejo de criar instituições representativas nacionais, e muito menos um “lobby” muçulmano. Não há nenhum projeto de criação de um partido muçulmano (apenas na ficção de Michel Houellebecq). Os políticos de origem muçulmana estão presentes em todos os partidos, inclusive na extrema-direita. E também não há uma grande rede de escolas muçulmanas.

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Apesar de tudo, a mídia, bem como os responsáveis políticos pela tragédia, continua falando da famosa “comunidade muçulmana”: alguns, para condenar o fato de que ela não quer mesmo se integrar à sociedade francesa; outros, para apontá-la como vítima da islamofobia. “Ambos os discursos, opostos, são baseados na mesma fantasia de uma comunidade muçulmana imaginária. Não há uma comunidade muçulmana, mas, sim, uma população muçulmana, e entender isso já ajudaria a prevenir a histeria presente e futura”, conclui Olivier Roy.

Com informações do Opera Mundi

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