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Os artífices da baderna

O direito de manifestação é sagrado, mas a Constituição não sustenta o direto de baderna. Certos exageros são até toleráveis, em determinados momentos, mas não dá para aceitar o que se passa no entorno do Congresso, agora palco de violentos entreveros entre facções divergentes, onde até tiros têm sido disparados. Sem falar nos grupos que, há semanas, armaram barracas nos jardins fronteiriços, onde dormem, cozinham e lavam roupa, entre outras necessidades. Esses grupos perturbam o ingresso de parlamentares e funcionários, vociferando e agredindo, quando não tentam invadir as portarias e instalações próximas.

Isso não é democracia. Significa barbárie, estranhamente permitida, quando não estimulada pelos dirigentes do Congresso. No caso, os dois maiores responsáveis, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, presidentes do Senado e da Câmara. Falta-lhes autoridade, como talvez lhes sobre desfaçatez. Dá saudade dos tempos em que Antônio Carlos Magalhães impunha a ordem nas dependências e na periferia do Legislativo.

Do jeito que as coisas vão, logo assistiremos batalhas campais na Praça dos Três Poderes, estimuladas por vândalos de tendências variadas, empenhados em demonstrar as vantagens da violência sobre a civilização.

A pergunta que se faz é sobre como interromper esse triste processo de prevalência da baderna sobre a livre manifestação. Falta de policiamento não parece, pois além da Polícia Legislativa, sob comando direto das mesas da Câmara e do Senado, existem a Polícia Militar do Distrito Federal, a Polícia Federal e até a Polícia Rodoviária, facilmente mobilizáveis por simples telefonemas. Para começo de conversa, para proteger passeatas e manifestações pacíficas, mas, com firmeza, para evitar e interromper invasões, depredações e, agora, assentamentos espúrios e choques animalescos. Todo protesto é saudável, desde que limitado à ordem.

Mesmo nos tempos bicudos da ditadura e diante da provocação das forças policiais, os manifestantes comportavam-se dentro de parâmetros civilizados. Inverteu-se a equação, fazendo desconfiar das intenções dos artífices da baderna. Importa não confundi-los com o cidadão comum, com ênfase para os jovens, indignados com o que se passa no país em termos de roubalheira institucionalizada, desemprego, falta de serviços públicos e indolência do Congresso, entre outras razões. Só que acampar nos jardins do Legislativo poderá constituir-se numa aventura galante e irresponsável, jamais em mecanismo capaz de dar eficiência aos poderes públicos.

A imagem da Esplanada dos Ministérios, com seus jardins monumentais, vem sendo distribuída pela mídia internacional como verdadeiro Pátio dos Milagres saído das páginas de Victor Hugo. Com a diferença de que os bandidos não se encontram apenas do lado de fora da catedral…

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