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BRASILULA- 13 anos depois

No dia da eleição presidencial de 2002, escrevi e publiquei o artigo abaixo. Permito-me pedir a opinião dos leitores sobre o seu conteúdo para o e-mail [email protected]. São passados 13 anos.
“Segundo as pesquisas, Lula será eleito hoje. Far-se-á a vontade da maioria. Lula, com a persistência de um Miterrand, chega à Presidência. Chega no esplendor da sua maturidade cronológica e no limiar de uma nova ordem mundial em que a recessão e a ameaça de ‘default` são variáveis em jogo. Vem com a força e a esperança de milhões de eleitores e de uma militância de fazer inveja.

A sua eleição representará uma guinada para um país que teima em ser primeiro mundo, mas mantém o pé na miséria. Ou melhor, têm os dois pés na lama das favelas, os membros atados com compromissos meio espúrios e a cabeça, só Deus sabe. E há os que não acreditam em Deus. Talvez seja a hora de se parar de pensar tanto em riqueza e ter-se coragem de assumir a pobreza ou abolir, pelo menos, a miséria. Bastaria mais responsabilidade social e menos demagogia, não só dos políticos, mas das elites que não praticam o que discursam e de uma classe média deslumbrada pelo consumo e o mundo das aparências.

Lula emerge de uma história que remonta à redemocratização, à insubordinação sindical e se acultura na ligação umbilical com a inteligência universitária que deu ao PT a essência de sua estrutura ideológica, hoje aromatizada. Muitos anos se passaram e foi preciso que o povo brasileiro acumulasse revoltas, salários pífios, sofrimentos, sentimentos de insegurança e desamparo para que Lula emergisse da sua base histórica e fiel, para os braços generosos de eleitores ainda não politizados e de uma burguesia meio sem rumo, pouca visão de mundo e sempre com o apetite de adesão à vitória, qualquer que seja o vencedor.

Há na trajetória de Lula um pouco da história da pobreza do nordestino imigrante, da força da mulher abandonada – sua mãe – que protege e cria os filhos na periferia das grandes cidades, de um sindicalismo capaz, de um partido operário consistente e da crença de que o bem pode vencer o mal.
Apesar disso, Lula não é messiânico, é pessoa centrada, treinada e ajustada a uma realidade mercadológica que exigia uma postura diversa da sua essência fundamental. Lula mostrou-se, para ganhar, como a maioria queria. A essa maioria só se pode parabenizar, pois não se discute vitória, se aceita. Assim é a democracia que, entre outras coisas, possui a capacidade de ver que o outro pode estar certo, apesar de você imaginar estar ele errado.

Passada a euforia da vitória, haverá a assunção do Lula verdadeiro e da sua equipe multifacetada que não precisarão mais fazer caras e bocas e sim tentar apresentar respostas urgentes que o Brasil e o mundo esperam de um ainda desconhecido “mix” entre socialismo, neoliberalismo e política de resultados.

A governabilidade é uma arte de engenharia política e nela o discurso é desprezado. Por outro lado, a estrutura de poder presidencialista brasileiro, especialmente após a lei de responsabilidade fiscal, neutraliza o voluntarismo e fará emergir, se bom senso houver uma coalizão de forças – espera-se que a custo razoável – que respaldará as ações tão cobradas pelos que ainda acreditam em milagres.
Lula não é milagreiro, é apenas um homem do povo que se fez líder capaz e persistente, adotou modos sofisticados, e vence em meio a uma tormenta, precisando mais que nunca da prudência dos que o cercam, da sabedoria dos que o assessoram, de saber transferir o cetro da oposição aos que eram governo, da confiança dos mercados internacionais, da paciência dos que o elegeram e da atenção dos meios de comunicação. Resumindo e citando o cientista político José Murilo de Carvalho: “As dificuldades de Lula serão proporcionais à esperança que criou”.

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