Preciosa é negra, gorda, pobre, tem uma mãe que não a respeita e foi abusada pelo pai. Podemos pensar que toda essa realidade faz parte da natureza humana da protagonista e que, como o barão de Munchausen, ela pode sair da situação de oprimida tão somente por suas forças, bem como o barão que, ao puxar seus próprios cabelos, escapou de um desastre.
E assim, neste referido artigo, falaremos do papel da educação no desenvolvimento do ser e de como o “x” da questão vai além do natural, chegando à concepção de condição humana. No mais, olhando para a vida de Preciosa, percebemos, em seu cerne, que ela não acreditava na mudança, que tudo estava dentro de uma naturalidade. Mas, pensando bem, o que é a condição humana? Para Bock (2003), é preciso romper com essa cumplicidade dominante, ou seja, a educação sócio-histórica busca analisar o vir-a-ser do sujeito.
Ninguém me ama, diz Preciosa, e continua: ele me chamou de animal, me fez adoecer. Isso não é amor, responde a professora, e acrescenta: seu bebê ama você. Eu amo você. Aqui, pois, vemos o encontro com o outro. Precious não aprendia nada na outra escola, era excluída como sempre. No colégio alternativo, e com a intervenção da professora Blu Rain, ela enfim se sente acolhida, ouvida. No mais, levando em conta a teoria crítica da educação, devemos salientar que esta busca a emancipação do sujeito.
É preciso, pois, questionar a ideologia dominante, ir além dos interesses políticos que configuram a educação. Para isso, contudo, precisamos da participação de professoras como a do filme. Existe uma variedade de Preciosas precisando de um olhar educacional mais voltado para a condição humana. Assim, ao relacionar as influências do barão de Munchausen, da Teoria Crítica e do fracasso escolar, podemos, em suma, alinhar essas questões ao pensamento crítico de Hanna Arendt (1958) onde percebemos que o homem é dependente do que produz, vivendo, desse modo, a condição humana.
Preciosa, no fim da história, continua obesa, negra, soropositiva, mãe de dois filhos frutos de um abuso, uma delas com síndrome de Down, a “Mongo”. Mesmo assim, sem ser modelo ou coisa que o valha, ela é algo muito maior, alguém que caminha com os próprios pés, sem olvidar dos ‘’pés’’ que a ajudaram. No Brasil, então chorosas em seus lares de funesta violência, as donas de casa também são preciosas, vítimas do Ka, o destino descrito por Stephen King em sua Torre Negra, mas também protagonistas de toda dor, dor que vira amor nos versos de Pessoa.
Madson Lima de Oliveira
Escritor