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Adoções crescem no Ceará

Crisley cavalcante
Especial para O Estado

A esperança de 415 crianças abrigadas no Ceará, à espera de uma família, pode estar com os dias contados. Desde a especialização da 3ª Vara da Infância e da Juventude, que tem à frente a juíza coordenadora Maria Alda Holanda, ocorrida em junho de 2014, a unidade passou a ser responsável tanto pelo julgamento de processos cíveis, por pedidos de guarda e tutela, ações de destituição do poder familiar, como por requerimentos de adoção. Com isso, os processos, mesmo que de forma ainda não ideal, saíram das estantes e passaram a dar vida ao sonho de crianças e adolescentes, que vivem a dura realidade de não ter uma família. Esse passo já significa algo para quem antes não tinha quase nada.

Quase 100% a mais
Em 2014, foram efetivadas 17 adoções em Fortaleza. Em 2015, até o dia 11 de novembro, haviam sido finalizadas 28 adoções, quase 100% a mais que ano passado. Isso sem contar as adoções em andamento, que somam 39, ou seja, são pretendentes que já estão com a guarda provisória da criança e a adoção definitiva já está bem encaminhada. “Foi um salto muito grande, não só com a relação à quantidade de adoções, mas com relação à idade das crianças. Nesse ano, crianças com menos de dois anos, foram destituídas, o que é bem mais rápido. Conseguimos adoção de grupos de irmão, de 7 e 8 anos, as chamadas adoções tardias, que antes eram mais difíceis e agora estão mais fáceis, disse a chefe do setor de Cadastro de Adotantes e Adotandos do Fórum Clóvis Beviláqua, Gabriella Costa.
Atualmente, há 178 pessoas cadastradas para a adoção e 65 crianças e/ou adolescentes disponíveis. A expectativa, segundo ela, é que vá ocorrendo ainda mais redução de crianças desabrigadas. “Temos, aproximadamente, 22 crianças recebendo visitas. Nesta semana vinculamos uma criança, um menino, de 4 anos e 5 meses a um casal que se habilitou em agosto”, comemorou a agilidade do processo.

Mudar o perfil
Na visão de Gabriella Costa, um dos entraves para que as adoções sejam mais céleres ainda é a escolha do perfil. “ Às vezes converso com eles e brinco: se você engravidasse, poderia escolher? Nosso papel não é fazer julgamento, mas orientar e colocar a realidade. Não há garantias de ter um filho perfeito, mas não nos cabe interferir, apenas mostrar os dados”, disse.
“Hoje um casal queria uma criança de até seis meses. Mas não é assim. Muitas vezes uma criança de 2 ou 3 anos abrigada exige muita atenção porque elas não são devidamente estimuladas e ainda requerem grandes cuidados. Algumas com 4 anos ainda usam fraldas. Então conversando com eles expliquei a situação e no final eles mudaram o perfil para um ano”, explicou Gabriella Costa.

Bom senso
A iniciativa da chefe do cadastro do Fórum Clóvis Beviláqua que, com uma conversa com um casal conseguiu mudar o perfil por eles desejado é, sem dúvida, louvável, e demonstra que poucas palavras, um pouco de bom senso e boa vontade pode mudar para sempre a história de vida de uma criança. O fato é que há um total de 178 pessoas cadastradas, mas só uma servidora do setor de Cadastro, o que dificulta todo o processo.
O defensor público Alfredo Homsi concorda que a escolha do perfil ainda seja um entrave. “A faixa etária, de 0 a 5 anos, do sexo feminino, cor clara e sem doença considerada de gravidade é o mais procurado. Há grande número de crianças e adolescentes institucionalizados, mas com faixa etária superior a cinco anos, esse grupo não está dentro do perfil desejado por quem busca adoção. Nem sempre se enquadra. Acaba que vão permanecendo nas unidades sem concretizar o desejo de ter uma família”, lamenta.

Falta servidores
Para o defensor público Tibério Melo, o perfil é um problema. “Alguns perfis são preteridos. Há perfis mais solicitados que outros, infelizmente”, disse. No entanto, talvez nenhum problema seja maior do que a falta de servidores e infraestrutura. “Nem a Defensoria Pública, nem Poder Judiciário receberam reforços nos últimos anos, ou seja, a demanda aumenta, mais a quantidade de servidores para dar impulso aos processos é a mesma. A equipe multidisciplinar precisa se desdobrar, pois não há suporte”, critica.

Final feliz
São muitas histórias, afinal, são muitas vidas à espera de uma família em Fortaleza. Como num conto no qual o escritor pode criar finais felizes, a vida imita a arte e permite as pessoas abrirem seus corações. Foi assim para um casal que procurou o setor de cadastro do Fórum no último mês. “Em uma sexta-feira um casal chegou aqui e queria uma criança com até 4 anos. Mostrei gêmeas, com 5 anos e meio. Não tinha pretendentes para elas e já íamos ligar para o interior à procura de pretendentes. Eles foram embora, pois não aceitaram a idade das meninas, além do mais só queriam uma criança e não duas. Na segunda-feira voltaram aqui e pediram para mudar o perfil. Disseram que as crianças não tinha saído de suas cabeças. A adoção tem tudo para se concretizar”, acredita Gabriella Costa.
No meio de histórias escritas pela tristeza e desamor, algumas emocionam e ajudam a transformar vidas. Que histórias como essa sejam reprises da vida real e continuem dando esperança para as crianças e adolescentes abrigadas. Que a cada ano, o Ceará possa comemorar números expressivos de adoções.

ADOÇÕES NO ESTADO
Até novembro de 2015
ANO ADOÇÕES
2010 08
2011 21
2012 12
2013 14
2014 17
2015 28

Obs: Neste ano de 2015, as adoções em andamento somam 39; adotantes que já estão com a guarda provisória da criança

Pretendentes habilitados ativos
Nacional 33.080
Estadual 379
Fortaleza 178

Crianças disponíveis
Nacional 6.247
Estadual 169
Fortaleza 65

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