28.4 C
Fortaleza

A corrente do bem

Crisley Cavalcante
Especial Para O Estado

Há um ditado que diz: “nada é por acaso”. De fato. Quem nunca viveu um momento inesperado na vida para que algo melhor ocorresse logo à frente? Nem sempre planejamentos dão certo. Nem sempre a vida traça roteiros semelhantes aos nossos. Quando o inesperado ocorre e nos coloca ante a oportunidade de mudar para melhor a vida de alguém é porque a nossa missão vai além do que imaginamos.

Em um mundo ideal, as boas ações seriam multiplicadas infinitamente. Mas enquanto o mundo ideal é real apenas nas fábulas, que as boas ações sejam como correntes do bem em busca de fazer a diferença.

09

Em Fortaleza, há, segundo a Defensoria Pública do Estado, 415 crianças e adolescentes abrigados esperando que alguém possa fazer a diferença para eles, vítimas do desamor e esquecidas pelo poder público. Mas ainda bem que há correntes do bem para não serem esquecidas pelo mundo.
Essa corrente é formada também pelo trabalho voluntário de pessoas da iniciativa privada, que representam grande contribuição para as crianças abandonadas. “Estamos tentando fazer um trabalho de colocar essas crianças em escolas particulares.

A ideia é formar um grupo e ver as escolas existentes no entorno dos abrigos de Fortaleza, fazer um mapeamento e irmos atrás de pessoas que custeiem essas matrículas”, explicou o empresário e voluntário Adauto Farias. De acordo com ele, o objetivo é que a ação não pare por aí. “Todas as empresas são obrigadas a terem menores aprendizes. Então que peguem essas crianças e deem oportunidades. Por meio de uma rede de amigos vamos atrás de pessoas que contratarem menores aprendizes dos abrigos. É uma oportunidade que pode mudar a vida de um adolescente”, disse.

De fato, uma oportunidade que pode mudar a vida de muitos adolescentes abrigados que, ao chegarem à maioridade terão de deixar as instituições de acolhimento. O que fazer depois? O que o mundo terá a oferecer a esses adolescentes? Que tipo de vida levarão na sociedade se antes o que conheciam era a vida no abrigo? A assistente social dos abrigos Casa do Menor e Casa de Jeremias, Érica Bularmaqui, disse que é um grande desafio para os adolescentes que precisam sair das instituições quando completam 18 anos. “É uma situação preocupante porque antes a vida deles era dentro da instituição, onde tinham tudo o que precisavam. O fato de serem obrigados e sair e passarem a viver por conta própria não pode ser caracterizado como um segundo abandono. Por isso, o Estado precisa definir ações para acolher e dar suporte necessário a esses adolescentes, de modo que eles possam ter condições de seguir a vida fora do abrigo”, disse.

Mas não é o que o Estado faz. Segundo o defensor público Tibério Augusto Lima, há um projeto em Fortaleza para ser implantada uma república, um espaço para acolher adolescentes que após a maioridade precisam deixar os abrigos. Mas enquanto a iniciativa do Poder Público ainda é apenas um projeto, a iniciativa privada começa a mostrar ações mais concreta.

Na visão do empresário Adauto Farias, a vida para esses adolescentes será melhor se lhes for proporcionada a educação necessária para que possam dar continuidade à vida. “Às vezes as pessoas têm inteligência, mas não tem oportunidade. Se não cuidarmos das crianças de hoje teremos marginais mais à frente, principalmente se as crianças veem de ambientes ruins ou maus tratos dos pais. Se tem uma família desequilibrada, dificilmente será equilibrado. Investir em educação é o único caminho para mudar essa situação”, disse.

O empresário e voluntário acredita que dar oportunidade a esses adolescentes por meio de programas específicos como o menor aprendiz, pode fazer a diferença. A aprendizagem é estabelecida pela Lei nº 10.097/2000, regulamentada pelo Decreto nº. 5.598/2005, e estabelece que todas as empresas de médio e grande porte estão obrigadas a contratar adolescentes e jovens entre 14 e 24 anos.

Trata-se de um contrato especial de trabalho por tempo determinado, de no máximo dois anos. Os jovens beneficiários são contratados por empresas como aprendizes de ofício previsto na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego, ao mesmo tempo em que são matriculados em cursos de aprendizagem, em instituições qualificadoras reconhecidas, responsáveis pela certificação. A carga horária estabelecida no contrato deverá somar o tempo necessário à vivência das práticas do trabalho na empresa e ao aprendizado de conteúdos teóricos ministrados na instituição de aprendizagem.

De acordo com a legislação vigente, a cota de aprendizes está fixada entre 5%, no mínimo, e 15%, no máximo, por estabelecimento, calculada sobre o total de empregados cujas funções demandem formação profissional, cabendo ao empregador, dentro dos limites fixados, contratar o número de aprendizes que melhor atender às suas necessidades. Para Adauto Farias, a aprendizagem é uma oportunidade que pode mudar a vida de um adolescente. “Muitas vezes falta apenas uma oportunidade. Se ela aparece, pode fazer a diferença e é isso que nós queremos incentivar”.

A respeito do processo de adoção, Adauto Farias disse acreditar que tudo ocorre no tempo correto. “A adoção é uma ação muito séria e é preciso que se leve um tempo razoável para que a criança não seja prejudicada, afinal, o interesse maior é no bem estar dela. Acredito que os processos de crianças menores de três anos estão recebendo o impulso necessário. Nossa preocupação maior são as adoções tardias, aquelas crianças com mais de 5 ou 7 anos, ou até mesmo os adolescentes. Por isso, estamos buscando apoiar por meio da oportunidade”, disse.

“A coisa mais bonita que pode existir em uma sociedade é a adoção, representa um grau de evolução muito grande. É uma ação maravilhosa. Parabenizo os adotantes e àqueles que estão trabalhando em prol dessas crianças. Que continuem esse trabalho, que as empresas abram suas portas para receberem essas crianças como menores aprendizes e ajudem a transformar suas vidas”. Que a corrente do bem se multiplique.

Mais Lidas

Entenda 2º projeto aprovado da reforma tributária

A proposta aprovada pelos deputados trata das regras do Comitê Gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) de estados e municípios, que será...

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Delfim Netto e o ‘Milagre Econômico’

Antônio Delfim Netto, economista catedrático e político brasileiro faleceu nesta segunda-feira (12) aos 96 anos. Foi ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento,...
spot_img