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Amor, atenção e voluntariado

O abandono dói. E é essa a dor que 273 crianças e adolescentes espalhadas pelas 22 instituições de acolhimento de Fortaleza passam todos os dias. Acordar e não ter uma família para quem recorrer, não poder ir à escola na companhia dos pais, não poder homenagear o pai ou a mãe em agosto ou maio, por exemplo, podem até ser situações corriqueiras na vida de muita gente, mas para outras seria um sonho.
Crianças e adolescentes institucionalizados geralmente dividem toda estrutura da instituição com os demais. Isso quer dizer que o quarto em que dormem é coletivo, o banheiro, a mesa de refeição e até mesmo a atenção das pessoas que cuidam deles. Quase nada é individualizado, pois as instituições não têm estrutura para tal. Por isso, viver em institucionalização por longo período pode ser um prejuízo imenso.

Foto: Divulgação



A psicóloga Régia Lima chama atenção para o fato de que quando uma criança chega em uma instituição de acolhimento já traz consigo uma história em construção. “Já carrega feridas, cicatrizes emocionais, abusos físicos e/ou psicológicos, e privações de várias naturezas. É fato um prejuízo emocional, físico e cognitivo diante de tanta negligência as quais imprime uma marca, pois o ambiente é impróprio para o seu desenvolvimento. O ser humano é um ser social, e sendo assim precisa de relações e estabelecimento de vínculos. O abrigo não é um lar. A fase de vida de zero a seis anos é a mais importante da criança, e cujo desenvolvimento vai influenciar muito o adulto que irá se tornar”, destacou.

As crianças que vivem anos a fio em instituições, perdem a infância nesses locais sem saber como é ter atenção e o amor de alguém. Do outro lado existem pessoas para as quais essas crianças não são invisíveis. São pessoas dos mais variados tipos de profissões, mas que dedicam seu tempo ao Apadrinhamento, um programa do Judiciário que existe desde 2015 e consiste na doação de tempo, dinheiro ou em forma de prestação de serviços. A medida é regulamentada e para participar é preciso fornecer documentos pessoais e realizar inscrição junto à Vara da Infância e Juventude do Fórum Clóvis Beviláqua.


Um desses padrinhos de dezenas de crianças e adolescentes é o empresário Adauto Farias. “Sou muito comprometido com a causa, pois acredito nas crianças e nos adolescentes e no futuro que eles podem prover para o país por meio da educação, uma porta altamente poderosa e capaz de efetuar mudanças drásticas na vida de alguém”, disse ele que é padrinho financeiro e doa material escolar para mais de 30 crianças e adolescentes em situação de acolhimento.

Mais que isso, ao lado de alguns amigos empresários esteve à frente de um dos seus maiores projetos: a construção de uma instituição de acolhimento toda equipada com a melhor estrutura para receber crianças e adolescentes. O local ainda não está pronto, mas em breve será doado à Prefeitura de Fortaleza.

Outra pessoa que contribui com o programa de Apadrinhamento é a psicóloga gaúcha Simone Simon. Ela mora em Fortaleza há 13 anos e desde que chegou sempre desempenhou trabalhos voluntários com crianças. Antes da pandemia procurou o Fórum Clóvis Beviláqua para se candidatar a uma oportunidade no programa e desde então realiza trabalho voluntário no acolhimento Casa de Jeremias.

“É muito importante e enriquecedor. Sou movida a desafios e acredito que o trabalho de muitos voluntários, por meio do programa de Apadrinhamento, pode mudar a vida de muitas crianças. É muito importante o cuidado que se toma desse trânsito com a entrega de documentação para ser padrinho de uma criança. É o cuidado e atenção para com esses pequenos até que eles possam encontrar uma família”, disse ela que projeta continuar. “É muito importante que o trabalho do padrinho tenha uma continuidade e disciplina. Fico feliz que muitas crianças já foram adotadas desde que comecei a apadrinhar”, contou.

Programa de
Apadrinhamento
Atualmente, o programa de Apadrinhamento possui cinco padrinhos afetivos, cinco financeiros e 17 na modalidade prestação de serviço. O promotor de Justiça da Infância e Juventude, Dairton Oliveira, disse que a pandemia de covid-19 foi determinante para o recuo da iniciativa. “A pandemia tecnicamente suspendeu o programa e até agora não voltou a se desenvolver”, disse.

A coordenadora de Processos Administrativos e Judiciais de Infância e Juventude da Comarca de Fortaleza, Nathália Cruz, explicou que após a pandemia, muitos voluntários não retornaram as atividades, mesmo com o término das restrições de distanciamento social, sem contar que o número de acolhidos hoje em relação ao início de 2020, aumentou cerca de 20%. “O programa é maravilhoso, pois oferece oportunidade de crianças e adolescentes disponíveis para adoção e que não possuem pretendentes de ter uma convivência familiar ou receber algum serviço, como por exemplo, reforço escolar, aulas de recreação, contudo, infelizmente o número de padrinhos reduziu consideravelmente”, contou. Ainda segundo ela, em 2023, apenas quatro pessoas buscaram o serviço para efetuar inscrição.

Formas de apadrinhamento
AFETIVO – criado para incentivar a manutenção de vínculos afetivos, ampliando as oportunidades de convivência familiar e comunitária. Nesse caso, o voluntário pode visitar o apadrinhado na unidade de acolhimento, levá-lo para passear, passar fins de semana, férias escolares (por período não superior a sete dias), entre outras ações lazer.

FINANCEIRO – consiste em contribuir economicamente para atender as necessidades do acolhido, sem criar necessariamente vínculos afetivos. Ele poderá custear os estudos do apadrinhado, atividades extracurriculares, tratamentos de saúde, além de poder presentear o jovem com livros, vestimentos e outros bens.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – é realizado por profissional liberal que poderá executar, junto às instituições de acolhimento, cursos direcionados ao público infantojuvenil, custear atividades diversas que garantam acesso à dignidade dos acolhidos, além de colaborar com serviços inerentes às atividades do voluntário.

Por Crisley Cavalcante

SERVIÇO

Para mais informações: Coordenadoria de Processos Administrativos e Judiciais. (85) 3278-7684. [email protected]

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