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Fortaleza

“Tínhamos um filho no abrigo e não sabíamos”

Por Caroline Milanez
Especial para O Estado

Ana Lúcia e Miguel Menezes são casados há quatorze anos e desejavam ter um filho para companhia e alegria deles e da família. Miguel é taxista, desenvolve uma exaustiva jornada de trabalho dia a dia. Sua esposa compartilha que na maioria do tempo ficava sozinha em casa cumprindo com os seus afazeres do lar enquanto o marido estava trabalhando. “Nós sonhávamos com um filho que fosse nosso companheiro, amigo e pudéssemos dedicar tempo e atenção especial para ele, alguém mais importante que nossos afazeres e trabalhos. Uma criança mudaria tudo em nossas vidas”, declara Ana Lúcia.

Ana Lúcia sofreu um aborto espontâneo nos primeiros anos de casada, depois desse triste incidente, ela e o esposo decidiram pela adoção de uma criança. Eles não sabiam onde procurar informação, até o dia em que, por acaso, passando pelo centro da cidade, ela percebeu a placa do Juizado da Infância e Adolescência e decidiu entrar naquele prédio. Ana Lúcia havia encontrado o local designado para orientar os pretendentes à adoção de crianças e foi esclarecida sobre os procedimentos necessários naquela manhã mesmo. Ao fim do dia, ela e seu esposo já haviam recebido todas as orientações de uma assistente social. Eles decidiram se inscrever no Cadastro Nacional de Adoção e definiram o perfil da criança: menina, cor morena com até três anos de idade.

SEU CORAÇÃO LHE DIZIA
QUE SERIA DIFERENTE

Miguel e Ana Lúcia passaram mais de quatro anos inscritos no cadastro, aguardando a oportunidade de conhecer uma criança que correspondesse ao perfil desejado por eles. Em 2009, surgiu a primeira resposta: cor morena com três anos de idade, entretanto, era um menino. O casal decidiu mesmo assim, ir ao encontro daquela criança, superando a expectativa inicial de ter uma menina. Eles foram visitar a criança no Abrigo Tia Júlia em Fortaleza. Ana Lúcia e Miguel compartilham o sentimento de solidariedade que sentiram por aquela criança, a qual apresentava problemas e os recebeu de forma indiferente. Algo lhes dizia não haverem ainda encontrado o filho que buscavam. Ana Lúcia sonhava com uma criança que corresse pela casa, gostasse de sorvete e se lambuzasse toda.

Em curto intervalo de tempo, o casal foi chamado para conhecer outro menino no Abrigo Casa de Jeremias em Fortaleza. Miguel estava próximo ao endereço do local e deslocou-se para lá. Seu coração lhe dizia que seria diferente aquela visita. Sentia-se preparado e movido por uma alegria extraordinária para aquele encontro. Logo Ana Lúcia também chegou e foram apresentados a João Victor. O menino estava com três anos de idade, ao vê-los ,passou a se expressar com seus pais de coração da forma como haviam sonhado. A assistente social do abrigo, inesperadamente, perguntou a João Victor quem eram aquelas pessoas, referindo-se a Ana Lúcia e Miguel, que estavam ali para vê-lo. Foi muito surpreendente a resposta da criança, conta Ana Lúcia: “Ela é minha mãe. Ele é meu pai”, declarou João Victor de três anos de idade aos vê-los pela primeira vez.

NÓs tínhamos um filho no abrigo e não sabíamos
Desde esse primeiro momento com João Victor, declaram Ana Lúcia e Miguel, experimentamos a sensação de havermos gerado aquela criança, tamanho o amor e a identificação por que fomos tomados. Ana Lúcia, muito emocionada, declarou entre lágrimas naquele dia: “Meu Deus, nós tínhamos um filho no abrigo e não sabíamos”.

Foram quase cinco anos inscritos no Cadastro Nacional de Adoção esperando por João Victor. Os pais não imaginavam que esse fosse o tempo designado por Deus para que João Victor chegasse a esse mundo e os reconhecesse como pai e mãe logo que os visse. “Foi propósito de Deus, João Victor ter se afeiçoado imediatamente por nós. Ele estava destituído do poder familiar há poucas semanas, assim, imediatamente, iniciamos o processo de adoção dele”, declara o casal.

Somos os
seus pais
nessa terra

A fila de espera de pessoas aptas à adoção no Cadastro Nacional é longa e demorada, declara Miguel. Após conhecerem João Victor, já destituído do poder familiar, o processo de adoção transcorreu rapidamente. Ana Lúcia, Miguel e João Victor participaram do estágio de convivência durante um mês até receberem a guarda provisória da criança. Ana Lúcia, inicialmente, quis mudar o nome do menino, mas Miguel ponderou sobre deixar o mesmo nome, pois, ele já estava acostumado. O casal planeja contar para seu filho sobre a adoção quando ele completar cinco anos de idade. “Eu estou preparando ele para esse momento. Nosso filho é muito esperto e inteligente! Um dia desses, ele chegou perguntando pela outra mãe e pelo outro pai. Acredito que alguém deve ter feito menção dele ser adotado. Eu disse ao meu filho que o outro pai que ele tem está no céu: Deus – o Papai do céu. Eu e seu pai somos os seus pais nessa terra”.

A alegria especial
que estava faltando

No dia 22 de junho deste ano, os pais Ana Lúcia e Miguel já estavam com a guarda definitiva e o registro de nascimento de João Victor Menezes da Silva em mãos. “A adoção de nosso filho trouxe a alegria especial que estava faltando em nossas vidas. Ele é nosso filho para sempre. Graças a Deus!” conclui Ana Lúcia e Miguel.

Juizado da Infância e da Juventude – Seção de Cadastro de Adotantes e Adotandos. Av. Des. Floriano Benevides, no 220, Edson Queiroz. Telefone: (85) 3278.1128 – Fax: (85) 3278.1062

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