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Movimento defende inclusão racial nas áreas tributária e contábil

Diante da falta de representatividade de pessoas negras em cargos de liderança nas áreas tributária e contábil, profissionais do setor criaram o movimento BTM (Black Tax Matters). O nome da iniciativa, que tem como objetivo inserir pessoas negras nessas áreas e apoiar o desenvolvimento de lideranças, é uma alusão ao movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam, em tradução livre).

O grupo conta com 10 profissionais das empresas Latam, Ambev, iFood, Grupo Heineken, Mercury Machine, Stripe, RVC Advocacia e Consultoria Tributária e Empresarial e Camil Alimentos.

“A representatividade não é uma questão só de pessoas pretas. É uma questão de todos, é monetária. Se não existem pessoas negras na carreira tributária, juízes, diretores de empresas, formadores de opinião e normas jurídicas, você não tem medidas que são feitas para as pessoas pretas”, disse o analista tributário da Ambev, Henrique Rodrigues, nesta sexta-feira (26) em live promovida pelo site Jota.

Para o analista tributário sênior do iFood, Luiz Henrique Dutra, o objetivo da iniciativa é mostrar que há profissionais negros qualificados para atuar no mercado, especialmente em cargos de chefia.

“O nosso sonho é que a gente não precise ouvir mais que aquela vaga em posição de liderança não pode ser ocupada por uma pessoa negra porque é muito difícil [recrutar] ou porque não tem [profissional]”, afirma.

Segundo Beatriz Soares, analista de contencioso tributário no Grupo Heineken, o movimento existe porque há racismo nas instituições.

“O BTM, em tese, não deveria existir. Ele existe porque o racismo estrutural existe e a gente tenta combater isso com uma ação afirmativa.

O racismo estrutural não está só no mercado tributário. Ele está na sociedade de um modo geral, está em todas as instituições”, disse.

O grupo apoia a promoção de vagas exclusivas para negros e trabalha pela inclusão dessas pessoas dando suporte em recrutamentos. O coordenador de planejamento tributário da Camil Alimentos, Herman Fonseca, defende a adaptação de processos seletivos, com a retirada de exigências como a fluência em inglês para cargos em que o profissional não utiliza o idioma para desempenhar sua função.

“Muitas empresas usam o inglês como filtro. Se ele [o profissional] não atua em uma área global, vale a pena olhar o perfil”, afirma.

Luciana Reis, sócia na RVC Advocacia e consultoria tributária, também defende que as áreas de recrutamento tenham um olhar voltado à diversidade e a exigências que, muitas vezes, são excludentes para pessoas negras.

“Ter esse olhar no recrutamento e seleção é muito importante. Você usa o inglês no dia a dia?”.

O trabalho do Black Tax Matters consiste em quatro pilares: geração de conteúdo informativo para promover a educação, mentoria voluntária oferecida por profissionais com experiência nos mercados, parcerias para seleção de parceiros do movimento e recrutamento.

Dutra, do iFood, conta que a desigualdade racial é percebida já nos bancos universitários, antes da chegada às empresas.

“Eu era de uma sala com mais ou menos 62 pessoas e de negros havia eu e mais dois. Temos também as posições dentro dos órgãos públicos, predominantemente técnicas, que acabam ficando com pessoas brancas”, afirma. “Tive colega na faculdade que quando ia despachar com juízes, e não era em ambiente tributário, precisava prender o cabelo black power”.

Beatriz, da Heineken, também defende a inclusão de pessoas negras em cargos de liderança para combater estereótipos raciais.
“A gente sabe que um juiz, muito provavelmente, vai ser uma pessoa branca, e um segurança, muito provavelmente, uma pessoa negra. Só vi juiz branco, procurador branco”, afirma.

Fonte: Folhapress

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