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A maior aventura do mundo – Parte I

Um estava na barriga da mãe, se formando e esperando a hora certa de nascer. A outra, em algum lugar do mundo, mas ali por perto, numa outra barriga de uma mulher que eu não conhecia, também se preparava para ver à vida lá fora. Eu, de minha parte, vivia duas expectativas: a de ser pai pela segunda vez e a de procurar uma criança para adotar e ser pai por uma terceira vez, tudo ao mesmo tempo.
Talvez isso pareça ao leitor uma coisa estranha. E realmente é. Mas é a minha história, tal qual a vivi para dar testemunho desta imensa aventura amorosa. Um sujeito com um filhinho de três anos, uma esposa grávida e a busca por uma adoção. Não há explicação no campo do senso comum, das coisas como geralmente são ou como deveriam idealmente ser. Havia apenas essa vontade – densa, forte, irriquieta – no peito do jovem casal que em segredo conjurava contra a opressão de sempre ter que tomar decisões lógicas, prudentes e previsíveis, à luz de um mundo aborrecido e modorrento, ao qual não desejavam pertencer.

E assim começou a grande aventura: uma busca por crianças disponíveis para adoção. Naquela época, as coisas não eram disciplinadas como hoje. Não havia fila de adotantes em algumas cidades, nem cadastros unificados. Celular e internet eram novidades ainda em implantação e de pouca valia para fins de informações e contatos consistentes. Em pensar que isso aconteceu há apenas 15 anos! Parece que escrevo sobre a idade média. A procura era pulverizada por comarcas e abrigos.

Foi assim que, enquanto o menino crescia no conforto da barriga da mãe, acarinhado, chegou a informação sobre uma menina morena, disponível para adoção em Macaé, com uns quatro meses de vida. Preparei tudo para a viagem, combinei com meu advogado e avisei ao povo do Fórum local que estaria lá no dia seguinte para pedir a guarda da criança. Tudo certo, tudo perfeito, tudo combinado. Até um telefonema que recebi no início da noite: era um amigo do Fórum de Macaé, avisando que as pessoas que abrigaram, provisoriamente, a menina tinham ingressado com o pedido de adoção dela. Fiquei desapontado por uns instantes, mas pouco depois entendi que ser pai dela não era minha missão. Deus tinha outro plano para mim. Fui dormir em paz, sem deixar de beijar a barriga – já bem grande – com meu filhinho dentro. Era a noite do dia 24 de agosto de 1997.

O plano de Deus, que eu intuía que existia, mas não entendia, continuou naquele instante. Em alguma parte daquela cidade, a minha cidade, naquela mesma noite nascia uma menina mulata com olhos amendoados, deixada no Hospital por alguém não identificado. Minha sogra, que não sabia concretamente do meu plano ambicioso de paternidade múltipla – mas desconfiava de alguma coisa – ficou sabendo que a neném nascida em Valença fora deixada no Hospital e, chegando à minha casa na hora do café da manhã, do dia seguinte, deu com a língua nos dentes, sem saber que havia sido escolhida como anjo anunciador.

Peguei o jipe branco e me meti na estrada de terra. Havia um encontro marcado para , com uma pessoa que me pertencia – e eu a ela – sendo imperioso que eu a encontrasse e a trouxesse para minha vida definitivamente. Com a desenvoltura de um cavalheiro medieval, fora de época, mergulhei neste sonho, desperto, vivo, inteiro. Como não havia fila de espera, nem notícia da família biológica da criança, meu pedido de guarda para fins de adoção, batido à máquina de escrever nas dependências da OAB, por minha esposa advogada, foi acolhido pelo Juiz da Comarca. Fui então ao encontro da médica pediatra, que recebera a criança em seu plantão, para obter sua alta e receber informações sobre os cuidados que teria que ter com a neném. Encontrei uma mulher incrível, competente e amorosa, inspirada pelo seu próprio nome, Maria da Glória, que me recebeu carinhosamente, prescrevendo remédios, incentivando meus passos com seu sincero sorriso. Estava eu pronto para o grande encontro.

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