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A maior aventura do mundo – Parte II

Veja o querido leitor, a cena com os olhos de seu próprio coração: um casal jovem, a mulher grávida de oito meses com um tremendo barrigão. Adentram ao hospital e logo são levados ao berçário, donde se defrontam com alguns bebês em incubadoras, todos prematuros, alguns com soro. Cheguei a pensar que a minha filha estava por ali. Mas eis que me surge a enfermeira, vindo do interior do berçário, com um neném enroladinho num pano com estampas de bichinhos, com tamanho próprio das crianças nascidas no tempo certo. Era um charutinho enroladinho com gente dentro. Uma mulatinha com olhos amendoados que veio para o meu colo, recostou-se no meu peito palpitante e desde aquele dia ali ficou. Não há idioma com palavras suficientes para descrever o que se sente quando se tem a coragem de viver grandes amores, de seguir o destino com seu quebra-cabeça intrigante. A cada vez que volto a esta história encontro uma forma de expressão diferente do mesmo vulcão de energia que explodiu naquele momento e me transformou em outra pessoa. Ela tinha o DNA da minha alma.

Saímos dali causando grande estranheza na gente de Valença: uma mulher grávida carregando um bebê no colo, acompanhada de um pai com cara de bobo. Será que estariam nascendo crianças a prestação? Estranheza maior foi a que passamos a viver quando Pedro resolveu nascer vinte dias depois, branco, com cara de português, risonho e safado. Tínhamos gêmeos bem originais, da cor do Brasil, uma negra e um branco, uma mulata e um portuga, lado a lado, nos carrinhos pelas praças, depois nos colégios, lanchonetes e festas. Irmãos de verdade, que o destino me trouxe.

Pedro veio numa torrente de alegria. Veio como expressão da generosidade de dividir nossas atenções com sua irmã, acompanhado neste gesto pelo irmãozinho mais velho, João, de três anos, que recebeu os gêmeos do coração em seu próprio coração, fazendo deles um motivo de felicidade. Era como se tudo fosse previsível e planejado. Entendi. Com o exercício do amor pacifica as relações e as coloca em um nível acima dos egoísmos e das competições. Nas relações familiares sempre podemos recorrer a esta fonte divina de soluções, o amor em exercício, o amor que se escolhe sentir e efetivamente se sente. Pedro, com suas risadas intermináveis e sua evidente molequice, acabou por me mostrar um lado divertido da vida que eu, por natureza, relegava a segundo plano, me tornando um sujeito que se leva a sério demais. Pedro gosta de rir e fazer rir. As pessoas divertidas são as mais necessárias para enfrentar os desafios do mundo, porque têm o poder de transcender as formalidades excessivas, às amarras da sisudez poseur, e buscar as soluções mais criativas para a felicidade. Pedro risada-abençoada. Pedro tem o DNA da minha alma, além de uma cara engraçada parecida com a minha.

Pois isso se deu há exatos quinze anos. Nesta exata hora que teclo estas palavras estava eu indo para o Hospital pegar Ana e fazer dela o meu destino. Daqui a uns dias, completa também quinze anos do momento em que fui para o hospital para Pedro nascer e me mostrar como o mundo era bem melhor do que eu acreditava. Uma epopeia pessoal, que pode parecer simples a quem lê, mas que foi de uma intensidade anímica avassaladora para este simples mortal. Meus gêmeos, meus filhos queridos, estrelas de minha constelação afetiva que ilumina todos os meus dias, agora mocinhos de quinze anos. Obrigado, Deus, Obrigado.

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