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A mudança essencial

Penso, logo me transformo. Esta é a evolução do conceito de Descartes que deveríamos pintar em cores vivas nos móveis e eletrodomésticos da casa e do local de trabalho, para que lembrássemos qual a nossa real natureza. Somos seres mutantes em nossas existências física, mental e anímica. Trocamos de células em nosso corpo físico, renovando todos os órgãos por inteiro, em determinados espaços de tempo. O corpo humano de uma pessoa só pode ser considerado o mesmo, pela compreensão da continuidade histórica daquela existência, mas todas as suas células vão morrendo enquanto novas nascem, num processo dinâmico, até que haja uma total renovação daquele ser biológico.

Mudar não é uma opção. É uma decorrência obrigatória e inafastável da nossa existência. Para chegar ao “penso, logo existo”, Descartes utilizou-se da dúvida radical ou hiperbólica, método que permite a descoberta do que não é evidente e só pode ser revelado com uma provocação profunda. Outro francês, Lavoisier, ao sentenciar que “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, brindou-nos com uma lei que supera em muito os limites da física e da química, já que é aplicável também às emoções humanas, individuais e coletivas. Nós nos transformamos em outras pessoas que não éramos antes, a partir do modo em que reagimos ao que nos acontece.

Nossa mutação, desta forma, acontece influenciada por fatores externos, históricos e sociais. Mas, muito além dos fatos externos que não controlamos, o principal catalisador da nossa transformação é o que fazemos com o que nos acontece, ou seja, como nos portamos diante das provações positivas e negativas que a vida nos traz. Isto quer dizer que nós temos uma fonte incrível de combustível para tornar nossas mudanças positivas, porque somos nós quem elegemos o modo de interpretar e agir após cada experiência que vivenciamos. Eu me transformo em alguém melhor quando escolho opções mais afetivas e honestas com os valores humanos mais valiosos. Esta opção me é oferecida pelo destino a cada momento do dia, em que opto entre dizer “boa tarde” para alguém ou simplesmente me calar, entre a timidez e a covardia, perdendo-me na “poeira das ruas”, como diz em seu belo cantar o poeta Paulinho da Viola.

Diante da transitoriedade desta vida e da transformação inevitável de nosso pensamento, não precisamos guardar coerência com o passado. Insistir em comportamentos autodestrutivos, agressivos e inseguros, é burrice aguda, é de embasbacar o anjo da guarda. Há pessoas que se agarram a realidades mortas, que não produzem mais felicidade, com medo de mudar. Pensam que, ficando exatamente onde se encontram, mesmo com uma certa dose de infelicidade e melancolia, estão mais seguras do que se arriscarem um novo comportamento, que traz o desconhecido e suas incertezas. Uma infelicidade administrada, uma vidinha covarde. Assim sobrevivem relacionamentos hipócritas, amizades de conveniência, empregos tediosos, e gente cinza vagando tontamente entre ocorrências do cotidiano ocre.
Se você, amigo leitor, já se sentiu assim ou está agora com o vazio n’alma, não se desespere.

Comece do zero: como se o destino fosse um papel em branco em que pudéssemos escrever nossos sonhos, próximos e longínquos, os simples e os ambiciosos, deite o lápis finito de sua existência sobre ele e escreva a vida pretendida. Depois, transforme-se em seu sonho, mudando tudo o que não combina com o amor e a felicidade. Mudar é preciso, viver não é preciso.

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