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As duas máfias

Ninguém me contou. Eu vi. Durante dois anos, em 1990 e 1991, como Adido Cultural, acompanhei dia a dia, em Roma e na Sicilia, a guerra da Máfia contra a Justiça italiana que comandou a Operação “Mani Puliti” (Mãos Limpas”). A poderosa e assassina Máfia, com séculos de organização e crimes, totalmente entranhada na sociedade italiana, a começar por setores da Igreja Católica e dos partidos políticos – a DCI (Democracia Cristã) e os Partidos Socialista e Comunista – caiu em cima dos valentes procuradores e juízes imaginando intimidá-los e calá-los. Começaram matando o juiz Giovanni Falcone e ameaçando o procurador Antonio di Pietro. Não adiantou. Houve mais de 6 mil presos, centenas de condenados, uma dezena da suicídios.Os porta-vozes da Máfia alegavam que a Operação não fez tudo, pois Berlusconi, saído da Máfia, assumiu o governo. Mas perdeu e a Itália nunca mais foi a mesma.
Sábado, aqui no Brasil, vimos um espetáculo da nossa Máfia. Em manchete da página A14, a “Folha de S. Paulo” denunciou: – “Defesa de Lula quer que Moro – o juiz Sergio Moro (foto), da Operação Lava Jato – seja preso por abuso de autoridade – para advogados, juiz federal extrapolou ao determinar a condução coercitiva de Lula”.
A tática da Máfia italiana era sempre a mesma: os criminosos ameaçando prender quem os denunciava. O Brasil, depois de dois anos da Operação Lava Jato, já distingue de sobra quem são os bandidos e os que os combatem, os bravos procuradores do honrado juiz Sergio Moro. A esse grupo de incansáveis servidores do Judiciário o País deve um aplauso permanente, vigilante. É um escárnio ver Lula, contumaz enganador público da nossa Máfia, dizer que vai processar o juiz Sergio Moro. O economista Hélio Duque, três vezes deputado do PMDB do Paraná, plantonista da Pátria, está indignado. O espírito suicida de Jim Jones paira sobre o Congresso Nacional. Ele foi o criador, nos Estados Unidos, de uma seita, em 1974, dizendo-se perseguido pelo FBI. Obteve do governo da Guiana grande área de terra. Na região amazônica fundou a comunidade Jonestown. Em 1978, muitos dos seus seguidores queriam abandonar a região. Reuniu os fiéis em demoníaca confraternização, servindo um ponche de frutas misturado com veneno. No suicídio coletivo 918 pessoas morreram e o pregador fanático deu um tiro na cabeça.

Ao admitirem anistia ampla para o caixa 2, setores do Congresso seguem Jim Jones. Querem incluir no pacote anticorrupção, em tramitação na Câmara, emenda que anistiaria o caixa 2 antes da nova lei. A primeira tentativa foi em setembro. Na calada da noite, apareceu proposta de autor desconhecido pugnando pela anistia da corrupção. A denúncia do deputado Miro Teixeira impediu. Agora, os defensores da impunidade unificam governistas e oposicionistas para anistiar os caixas 2 e 3. As doações ilícitas não podem merecer o indulto. Defendem a criminalização para o futuro isentando o passado, alegando que estão fortalecendo a democracia. A urgência de se aprovar uma nova legislação tem endereço certo: futuras delações atingiriam centenas de investidos de mandatos. Imaginam seus autores que a sociedade não se mobilizará ante a imoralidade? A ministra Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) considera que caixa 2 é crime. Está no artigo 350 do Código Eleitoral, com pena de prisão de 5 anos, como delito de falsidade ideológica. Já a Lei 8.137/1990 diz que é crime contra a ordem tributária.
Definindo: caixa 2 é crime. Querer misturar caixa 1 com caixa 2 é ato indecoroso. Uma decorre de doações legais para campanhas declaradas à Justiça Eleitoral, não sendo ilegal. A segunda é decorrência de transações corruptas envolvendo governos, partidos, grandes corporações.
E o caixa 3 é ainda pior, mais imoral. É a corrupção continuada para financiamento de esquemas paralelos de poder. A Petrobras foi vítima do caixa 3, envolvendo servidores e empresários, agora apontados como réus, muitos com prisão e anos de reclusão, com devolução de valores gerados na corrupção. A “propina”, o “pixuleco” é a essência do caixa 3.

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