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Diesel leve e solto

Parecem mesmo estranhos certos projetos de lei que a Câmara dos Deputados discute sem ao menos se debruçar um pouco sobre os acontecimentos no exterior. Uma Comissão Especial, por exemplo, foi criada em 5 de agosto do ano passado para tentar dar seguimento a um projeto de lei de 2011 que libera fabricação e abastecimento de automóveis a diesel no Brasil.
Por má coincidência, dois dias depois de eleito o presidente da comissão surgiu nos EUA, em 18 de setembro, o apelidado Dieselgate, envolvendo instalação de dispositivos para burlar emissões de motores a diesel do Grupo VW. Talvez os deputados não tenham prestado muita atenção ao noticiário posterior. Mas houve tempo de ouvir 17 pessoas (técnicos, executivos, entidades representativas e acadêmicos, além de lobistas legítimos contra e a favor do projeto), entre outubro do ano passado e março deste ano.

Nesse meio tempo, governos e reguladores do meio ambiente europeus, descobriram o que se desconfiava há muito tempo. Em condições reais de utilização as emissões de NOx/NO2  (óxidos de nitrogênio e nítrico) de motores diesel são superiores às registradas em laboratórios e depois homologadas, apesar de reconhecido rigor da atual fase Euro 6 de regulamentação. Também surgiram dúvidas sobre PM2,5 (partículas muitas finas de 2,5 mícrons formadas por fuligem e carbono negro) que exigem rigoroso controle em inspeções técnicas.
Simultaneamente, França e Inglaterra reconheceram ter ido longe demais quanto ao estímulo à dieselização da frota de automóveis, incluídos SUVs e crossovers. E pretendem reverter esse quadro principalmente em grandes metrópoles como Paris e Londres. No entanto, em pleno processo de impeachment da presidente da República, em abril passado, a tal Comissão Especial aprovou o relatório do deputado Evandro Roman. Dele resultou um singelo projeto de lei.
“O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º É livre a fabricação e comercialização de veículos leves movidos a óleo diesel em todo o território nacional.
Art. 2º Fica autorizado o consumo de óleo diesel pelos veículos automotores de que trata o artigo anterior.
Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.”
O relator tratou de questões triviais, comentários de fundo econômico e nada sobre dúvidas ambientais e reflexos no controle de emissões da futura “pequena frota de automóveis a diesel”. Ao que tudo indica também nenhum outro integrante da comissão deve ter lido nada a respeito do que acontece no exterior por meio da mídia, em português mesmo, ao longo desses meses.
Embora quase todos os países liberem diesel para automóveis e suas derivações, há dificuldades e barreiras administrativas impostas pela China – maior mercado de veículos do mundo – e, de alguma forma, também pelo Japão. Nos EUA existe visível intolerância de órgãos ambientais e regras extremamente severas sobre emissões de NOx/NO2  para veículos de passageiros, pois não é possível implantar medidas tributárias diferenciadas.
Independentemente de análises técnicas a favor ou contra, não faz sentido o Brasil aumentar o consumo de diesel, se importa há décadas esse combustível sem alternativa viável para veículos de carga e de transporte coletivo.

Anfavea sinaliza que, consolidados os cinco primeiros meses de 2016, as vendas diárias em torno de 8.000 unidades – já chegou a bater 15.000 veículos/dia há três anos – sinalizam o fundo do poço do mercado interno brasileiro. Até o final do próximo semestre é possível uma pequena reação. Ficará para 2017 o início do longo processo de recuperação do atual pesadelo.

Tardiamente, a associação dos fabricantes revisou suas previsões para 2016. Não mais uma queda de apenas 5% nas vendas e sim de 19% sobre 2015, para 2,080 milhões de veículos. As exportações, com crescimento expressivo de 21,5%, ajudarão a amortecer o mergulho da produção para menos 5,5% ou 2,3 milhões de unidades, mesmo nível de 12 anos atrás.

Expressiva percepção de solidez logo surge ao dirigir um Subaru Outback 4×4. O crossover japonês (mais próximo a uma station wagon) destaca-se ainda pelo motor boxer, 3,6 litros, de grande suavidade e respostas firmes. Sintonia do rádio da central multimídia é confusa e freio de estacionamento eletroassistido só tem funcionamento automático em declives.

Fiat espera um impulso nas vendas mornas do Mobi com a chegada agora às lojas das versões “aventureiras” Way e Way On (topo de linha). Além dos penduricalhos de praxe, o modelo ganhou mais 1,5 cm de altura livre do solo, o que melhora o desempenho das suspensões em pisos esburacados e estradas de terra. Preços de R$ 39.300 a R$ 43.800 devem em competitividade.

Apesar de todas as dificuldades econômicas do País, a XXII edição do Brazil Classics Show, em Araxá (MG), manteve a tradição do encontro bienal de carros antigos do mais alto nível. Vencedor absoluto deste ano é exemplar único e não exibido ao público anteriormente. Trata-se do Lincoln K Coupé Le Baron, de 1936, com motor V-12, de propriedade do mineiro Rubio Fernal.

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