30.1 C
Fortaleza

Educação para que?

Eu acho a Escola de hoje em dia uma chatice. Tenho pena dos adolescentes que são submetidos à tortura de estudar conteúdos programáticos destituídos de interesse evidente ou, pelo menos, que se possam utilizar no curto prazo. Penso que a quantidade de matérias é excessiva e que sua importância para a vida dos estudantes seja muito relativa. Tenho a impressão que parte significativa dos professores atuais perdeu o contato com o espírito vocacionado que inspira os grandes mestres, aqueles inesquecíveis construtores de saberes de caracteres.

Os especialistas em educação poderão me contestar – e é salutar que o façam – informando que os programas exigidos pela legislação são necessários para dar ao estudante brasileiro uma educação de qualidade e que tenha competitividade com parâmetros internacionais de desempenho. Talvez justifiquem o gigantesco conteúdo que é ministrado aos borbotões na sala de aula pela comparação com a educação de outros países e seus índices decentes de aproveitamento. Compreendo a preocupação, mas penso que no Brasil existem peculiaridades culturais e sociais que permitem soluções autônomas para sua própria educação.

Desta forma, a primeira reflexão que se faz necessária a esta altura do nosso processo civilizatório é a seguinte: será possível atender às necessidades dos nossos jovens, com uma educação que lhes garanta o exercício pleno da cidadania, acesso ao emprego ou ao empreendedorismo e participação político-social sem entulhar suas mentes com um excesso pavoroso de informações em uma dúzia de disciplinas? Talvez se pudesse permitir uma especialização no ensino médio, seja para que os jovens possam ter já o ensino profissionalizante como também para permitir que os que desejam realizar curso superior possam se ater a matérias que digam respeito ao seu futuro. É uma ilusão pensar que a grande massa de estudantes está a assimilar todo conteúdo que se tentar ministrar, numa transloucada corrida contra o tempo, dentro dos períodos letivos.

Outra reflexão importante: será que estamos atendendo à necessidade do País ao tomarmos como parâmetros os índices de competitividade internacionais? Bom para o Brasil é superar dificuldades históricas de priorização da educação, dentre as políticas públicas emergentes, para estabelecer um novo pacto social que a reverencie e proteja. A valorização da carreira docente, para além das insuportáveis e deletérias greves, é uma imposição da lógica: sem uma remuneração que compense o bom profissional, ele migra para outra atividade. Por outro lado, ensinar menos coisa com mais calma e métodos que permitam maior participação do aluno na construção de seu saber são medidas que podem dar factibilidade a transformação almejada.

Por fim, aqui fica só a provocação do debate. O nosso desempenho nas avaliações internacionais desmoralizam a estratégia de se ensinar tudo ao mesmo tempo a todos os alunos. É um só “faz de conta”, sem lugar na História.

Mais Lidas

Entenda 2º projeto aprovado da reforma tributária

A proposta aprovada pelos deputados trata das regras do Comitê Gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) de estados e municípios, que será...

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Delfim Netto e o ‘Milagre Econômico’

Antônio Delfim Netto, economista catedrático e político brasileiro faleceu nesta segunda-feira (12) aos 96 anos. Foi ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento,...
spot_img