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Fortaleza

Filha de verdade

A cena se passou numa escola do Ensino Fundamental. Era uma festinha junina, muito divertida, toda apetrechada com as comidinhas típicas, pescaria e jogos. Após todas as tradicionais danças caipiras, as crianças brincavam pelos pátios e quadras, enquanto seus pais as acompanhavam e confraternizavam.

O diálogo se deu entre cinco amiguinhos de uma determinada turma, todos entre 9 e 10 anos, além da presença de dois irmãozinhos mais novos de um dos colegas componentes do grupo. Foi mais ou menos assim:
– João, são estes seus irmãos? – perguntou Jônatas, apontando para os dois pequeninos que acompanhavam seu colega de classe..

– Sim, este é o Pedro e esta é a Ana! – respondeu João, orgulhoso.
– Mas, a Ana é adotiva, não é irmã de verdade. – interveio Sandro, um terceiro colega presente, que conhecia a origem adotiva da menina.
Ana ficou bem desapontada com esta observação de Sandro. Não ser irmã “de verdade” era uma afirmação chocante para quem, sabendo de sua origem adotiva, se sentia verdadeiramente amada em sua família. Tudo era verdade em sua vida: seus pais, seus irmãos, sua casa, sua escola, nada era postiço, nada era de mentira. E agora, um menino grande, do alto da sabedoria que os maiores sempre tem, atribuía ao fato de ela ser adotiva a precariedade de seu vínculo com seus irmãos e com tudo mais. Com tudo que ela tinha, com tudo que lhe importava. Seu constrangimento com aquela colocação, feita em tom desdenhoso, era evidente, saltava aos olhos.

Pois bem. Foi então que a mãe de João, Pedro e Ana interveio. Primeiro dominou o ímpeto de fazer um sermão sobre o amor adotivo e a inconveniência da afirmação de Sandro. Afinal, tratava-se de um menino, cuja fala representava um preconceito presente em uma grande quantidade de pessoas com quem ela já havia lidado. Preferiu agir de forma amorosa. Mas era essencial para sua filha Ana e para todo o grupo de crianças que presenciavam a ocasião, que algo fosse dito. E ela disse:
– Oi, crianças! Que bom que vocês estão juntas para que eu apresente a Ana, irmã do João.

Ela é minha filha muito amada, que foi por mim escolhida. Eu a adotei, ela me adotou e me transformou em sua mãe de verdade! E esse menino lindo é o Pedro, irmão do João e da Ana. Ela nasceu da minha barriga, e eu adotei ele também, porque nosso amor é de verdade! Nós todos formamos uma família de verdade!

Houve um conforto coletivo após esta fala. Tudo estava recolocado em seu lugar. O amor de verdade gera relações de verdade, pais de verdade, filhos de verdade, irmãos de verdade, família de verdade. No altar dos sentimentos mais importantes não há vagas para incertezas, nem titubeações. A filiação adotiva é legítima constituidora de uma profunda verdade, da qual não se deve duvidar e da qual se pode sentir orgulho.

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