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Histórias de Fidel

No segundo semestre  de 1957, 59 anos atrás,  realizou-se, em Moscou, o Festival Mundial da Juventude. Milhares de jovens do mundo inteiro. Os brasileiros e latinoamericanos ficamos no Hotel Zariá, ao lado da Universidade da Amizade dos Povos, que em 61 tornou-se a  Universidade Patrice Lumumba, homenagem ao líder assassinado da independência do Congo Belga, depois República Democrática do Congo. Durante o ano, lá moravam estudantes russos. Homens em um hotel, mulheres em outro.
Os apartamentos eram por ordem alfabética. A Argentina antes do Brasil e a Colombia depois. Estava lá, estudando cinema, um rapaz simpático da Colômbia, já com 30 anos, exilado de seu país e jornalista em Paris, Gabriel Garcia Marquez, o Gabo.

No desfile de abertura, magnífico e emocionante, um mundo de bandeiras de todos os países e povos, com imensas flâmulas suspensas nos muros do Kremlin saudando a paz – “Mir e Drusba” –  (Paz e Amor) –  na incomparável e iluminada Praça Vermelha, diante do Kremlin e do túmulo de Lenin, deu bem para ver que os russos já andavam rusgando com os chineses, que passaram silenciosos e pouco aplaudidos. Já os cubanos, uma pequena delegação, foram recebidos delirantemente como heróis.
Na frente deles, mais alto do que os outros, barba rala e boné verde, Fidel Castro. E Che Guevara, Camilo Cienfuegos e seus companheiros. Já lutavam nas montanhas da Sierra Maestra, apesar de os russos ainda não acreditarem na possibilidade de vitoria deles, diante do exército do ditador cubano Batista e tão perto dos Estados Unidos. Terminado o festival, voltaram para Sierra Maestra. Em 59, venceram.

Che
Em 1952. Gaia Gomes era diretor artístico da Rádio América de São Paulo. David Raw trabalhava com ele. Uma tarde, entrou lá um rapaz de cabelos negros, olhos grandes, esbugalhados, bigode ralo e barbicha fina. Argentino, trazia para Gaia uma carta de apresentação de Alberto Castilho, médico e cantor de tango em Buenos Aires. Não queria emprego. Também era médico, mas estava precisando de uma passagem para a Guatemala, onde pretendia ajudar o governo revolucionário de Jacobo Arbenz.
Gaia e David fizeram uma “vaquinha” na rádio e compraram a passagem. Nos dias que passou em São Paulo, o rapaz de bigode ralo conheceu o deputado Coutinho Cavalcanti, paulista de Rio Preto, autor do segundo projeto de reforma agrária apresentado no Congresso Nacional (o primeiro foi o do baiano Nestor Duarte).

Com a passagem e o projeto, o rapaz de barbicha fina embarcou para a Guatemala. Lá, acabou trabalhando no Instituto Nacional de Reforma Agrária e aplicando as ideias do deputado Coutinho. Em 1954, um golpe militar, montado nos Estados Unidos e dirigido pelo coronel Castillo Armas, derrubou o governo de Arbenz. O rapaz de cabelos negros fugiu para o México. Em 1958, ele apareceu em Cuba, na Sierra Maestra, ao lado de Fidel Castro e Camillo Cienfuegos. Derrubado o ditador Batista, o rapaz de olhos grandes, esbugalhados, implantou a reforma agrária em Cuba, baseado no projeto do deputado Coutinho, paulista de Rio Preto. O rapaz chamava-se Ernesto “Che” Guevara.

Ademar        
Em 1960, Fidel Castro esteve no Rio. O embaixador Vasco Leitão da Cunha lhe ofereceu um banquete. Estava lá todo o society carioca, deslumbrado com o charuto enorme e a engomada farda de Fidel. De repente, aproxima-se dele um homem gordo e vermelho:
– Senhor primeiro ministro, só não lhe perdoo os fuzilamentos.
– Pois posso assegurar que só fuzilei ladrões dos dinheiros públicos.
O homem gordo e vermelho ficou ainda mais vermelho. Era Ademar.

Formosa cubana
Rômulo Pais, patrimônio de Minas, o maior compositor popular do Estado (Ataulfo, Ari Barroso, tantos outros nasceram lá, mas são cariocas), venceu carnavais sem conta, fez obras-primas, como:  -“Foi pra Santa Tereza que aquela beleza, o bonde pegou”.
Em 1961, fez uma música de muito sucesso: “Formosa Cubana”:
– “Vamos todos cantar, cuba-libre tomar. Foi hasteada a bandeira no mastro, vitória do barbudo Fidel Castro. Vem, Lolita – formosa cubana, vem, vem pra festa e deixa a Sierra Maestra”.
Em 1964, no dia 1o de abril, Belo Horizonte incendiada pelo fogaréu  de Magalhães Pinto, Rômulo entrou no bar Pólo Norte, matriz da boemia mineira. Gervásio Horta, outro grande compositor popular (alma secreta de Valdick Soriano, autor de muitos dos sucessos do padroeiro da cafonália), começa a cantar a “Formosa Cubana”. Rômulo volta rápido:
– Rômulo, esta beleza de marcha não é sua?
– Nada disso. Não tenho nada com a letra nem com a musica.
Gervásio continua cantando. Rômulo faz um apelo desesperado: – Não canta, Gervásio. Esta cubana, desde ontem, ficou muito feia. ‘E saiu assoviando: “Foi pra Santa Teresa…”.

 

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