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O filho adotivo do carpinteiro

Para se anunciar ao mundo Deus não construiu palácios e tampouco se fez representar por um rei poderoso e rico. Preferiu a candura de uma criança indefesa, para ser criada, amada e instruída por uma família humana. O plano divino para se anunciar ao mundo passou por uma mãe e um pai comuns, escolhidos no meio do povo.

Sempre que celebramos o Natal, para além dos presentes, das celebrações e dos banquetes, estamos unidos em torno desta criança, nascida sem conforto, em meio a um estábulo. Sua vocação já se revelava nesta cena, uma família abrigada precariamente, cercada de animais, para o nascimento daquele que seria o revelador de uma nova aliança de caridade e amor. Entre humildes pastores e reis do Oriente, estava o menino a usufruir de sua tenra existência.

A escolha de Deus por este casal, um carpinteiro e sua noiva quase menina, demonstra que, para se criar uma criança, ainda que esta seja o próprio Deus feito humano, não é necessário que hajam condições financeiras acima da média de uma instrução erudita. O condimento para se fazer uma criança feliz e colaborar para sua formação pessoal é o AFETO. O afeto é o bálsamo que salva o homem de sua barbárie histórica. O afeto pode ser notado quando estão presentes os atos com ele coerentes, praticados por quem o sente.

Os que militam para que as crianças tenham famílias de verdade, com direito a este afeto salvador e formador, lutam pela reintegração familiar e pela adoção de crianças e adolescentes que vivem aos milhares em instituições. A face oculta do abandono, varrida para de baixo do tapete, não tem nenhuma afinidade com o espírito cristão.

Este estado de coisas se mantém em função de preconceitos e interpretações demagógicas da lei, que transformam as crianças em coisas e atribuem sua propriedade à família biológica. Quando há afeto real é viável a convivência da criança com sua família de origem. Mas, quando não há, e muitas vezes não há, deve-se optar pela adoção, em curto espaço de tempo, para que traumas não se multipliquem com o abandono prolongado e doloroso.
Destarte, o que resta é proclamar o amor de José e Maria por aquela criança. O Filho de Deus foi filho adotivo, unigênito. Um filho adotivo para transformar a humanidade e proclamar o amor como a forma de vida. Um filho adotivo para mostrar que o que realmente importa é o amor que se sente, é o encontro de almas. Um filho adotivo que só precisou de uma família afetiva e cuidadosa para que se desabrochasse em luz divina sobre a humanidade.

Quando, ainda nos dias de hoje, se ouve alguma dúvida sobre o amor que se pode sentir por um filho adotivo, repetida através dos tempos de forma insistente, pode-se perceber o quanto as pessoas se apegam ao fator biológico como pressuposto do afeto paternal. É como só se fosse possível amar quem deriva do sêmen e do óvulo, da nossa porção animal, limitada, fraca e finita. No fundo, trata-se de amor a si próprio mal disfarçado, que deseja ver perpetuadas no filho as características do próprio pai.
Esta reflexão é necessária.

Deus, em sua sabedoria infinita, soube escolher pai e mãe para Jesus. Escolheu o afeto e o cuidado, o amor incondicional. Preferiu achar estas qualidades entre pessoas humildes, demonstrando que o que importa é a atitude adotiva amorosa. É tempo de esperança: que esta atitude se apodere dos corações e mentes de todas as pessoas. Que esta adoção de Jesus possa inspirar a adoção de todas as crianças que não tem família.

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