O dólar apresenta queda nesta quarta-feira (11), com investidores repercutindo números de inflação dos Estados Unidos melhores que o esperado.
O acordo comercial dos norte-americanos com China, firmado na véspera, também pauta os negócios. Na cena doméstica, o mercado segue acompanhando as medidas fiscais que visam recalibrar o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Às 13h09, a moeda registrava perdas de 0,81%, a R$ 5,523, a caminho de renovar a menor cotação do ano. Já a Bolsa tinha ganhos de 0,19%, a 136.695 pontos.
A inflação nos EUA medida pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) voltou a subir em maio, mas em um ritmo menor do que o esperado. O avanço foi de 0,1%, depois de alta de 0,2% em abril. No acumulado de 12 meses, o índice avançou 2,4%, ante 2,3% da leitura anterior.
Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2% na base mensal e de 2,5% na anual.
O dado sinaliza que as tarifas do presidente Donald Trump não estão atingindo os preços ao consumidor tão rapidamente quanto se antecipava. Segundo a Reuters, a maioria dos varejistas está vendendo mercadorias acumuladas antes da entrada em vigor das sobretaxas de importação, o que tem atenuado o impacto das medidas.
Essa percepção instalou alívio sobre os temores de uma escalada desenfreada de preços pela política tarifária do presidente. Mais do que isso, reforçou entre os operadores apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) poderá retomar os cortes de juros a partir de setembro, consolidando, ainda, as expectativas de uma segunda redução na taxa até o fim do ano.
“Os dados da CPI referente ao mês de maio trazem algum alívio em relação à trajetória inflacionária, particularmente por ainda não ter sinalizado pressões advindas da introdução das novas tarifas sobre importação. Embora a progressão futura da inflação permaneça sendo uma preocupação, esta leitura do CPI ajuda a reforçar as apostas de que um novo ciclo de corte de juros possa ser iniciado no segundo semestre”, avalia Danilo Igliori economista-chefe da Nomad.
A taxa norte-americana está na banda de 4,25% e 4,5% desde o final de 2024. Juros mais baixos por lá implicam em rendimentos menores nos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA, o que torna o dólar menos atrativo em relação às demais moedas.
A divisa está em queda globalmente. O índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de seis outras moedas fortes, caía 0,3%, a 98,72 pontos.
O mercado de câmbio também repercute o acordo comercial entre EUA e China, anunciado na noite de terça-feira, em Londres.
Após dois dias de conversas, autoridades de ambos os países concordaram em manter as bases do consenso de Genebra, anunciado em 12 de maio, que definiu a redução em 115 pontos percentuais das tarifas recíprocas entre as duas principais economias do mundo. O princípio de acordo será levado para Donald Trump e Xi Jinping, líder da China.
O vice-ministro do Comércio da China, Li Chenggang, e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, disseram que os dois países concordaram com uma estrutura de acordo para resolver imbróglios sobre o controle de exportações dos EUA e o domínio chinês sobre as terras raras, materiais essenciais para fabricar uma série de tecnologias avançadas.
Li Chenggang afirmou que o entendimento aumenta a confiança na relação entre as duas partes. Já Lutnick disse que as negociações visaram o equilíbrio.
Antes, alguns impasses ameaçavam o acordo de Genebra. O governo dos EUA criticava o aumento do controle imposto por Pequim sobre as exportações de sete terras raras. Os metais incluem térbio, usado para fabricar lâmpadas de baixo consumo, e disprósio, utilizado em motores de veículos elétricos.
Já o governo chinês afirmava que cumpriu os compromissos de “suspender ou cancelar” as medidas retaliatórias não tarifárias às sobretaxas do “dia da libertação” de Trump em 2 de abril.
O país asiático responde por 70% da mineração mundial de terras raras e, mais importante, mais de 90% do processamento. Longe de aliviar as restrições, a China continuou a expandir e aprimorar controles de exportação sobre esses produtos, implementando novos requisitos de licenciamento e reprimindo o contrabando, de acordo com declarações oficiais chinesas e especialistas do setor.
Trump, em postagem nesta quarta, confirmou que o acordo está sujeito à aprovação final dele e de Xi Jinping. Mas reiterou que o entendimento está concluído e que Pequim fornecerá ímãs e minerais de terras raras enquanto os norte-americanos permitirão estudantes chineses em suas faculdades e universidades.
“Estamos recebendo um total de 55% de tarifas, a China está recebendo 10%. A relação é excelente!”, postou Trump em sua rede social Truth Social.
Já na cena doméstica, as atenções estão voltadas ao fiscal. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse nesta quarta que as medidas apresentadas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) como alternativa ao aumento do IOF devem ter uma “reação muito ruim” no Congresso.
Motta disse não servir a projeto político de ninguém, e que a responsabilidade que tem no cargo de presidente da Câmara é garantir ao país condição de crescer e prosperar.
“Já comuniquei à equipe econômica que as medidas que estão pré-anunciadas deverão ter reação muito ruim não só dentro do Congresso, mas também no empresariado”, disse, mencionando o fim da isenção de Imposto de Renda de LCA e de LCI.
Haddad anunciou no domingo, após reunião com lideranças partidárias, uma série de medidas para compensar os recuos do decreto sobre o IOF. Entre elas, uma medida provisória prevendo taxação de títulos isentos e cobranças maiores sobre apostas esportivas e instituições financeiras. (Folhapress)