O motorista Raimundo Alves estava com dificuldade para pagar algumas contas antes da pandemia do novo coronavírus. O orçamento familiar chegou a pesar e algumas contas foram pagas com atrasadas. Durante a pandemia a situação piorou de forma considerável. “Se não tivesse recebido ajuda dos meus filhos eu nem sei o que teria sido. Muita gente não pode contar com o auxílio que recebi deles e isso é muito complicado. Ainda bem que as coisas estão, aos poucos, voltando ao normal”, disse. O motorista é mais um que engrossa ainda mais a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que integra novo recorte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada nessa quinta-feira (19/08).
De acordo com os dados, pelo menos 95,6 milhões de brasileiros pertenciam a famílias que haviam atrasado pelo menos uma conta fixa, no intervalo de 12 meses, em razão do aperto no bolso. André Martins, pesquisador do IBGE, disse que os dados já refletiam um cenário de dificuldades para uma parte considerável da população. À época, a economia tentava deixar para trás a herança da recessão de 2015 e 2016, que prejudicou a geração de emprego e renda. Com a chegada da pandemia de Covid-19, em 2020, a perspectiva é de piora nos dados.
Os números do IBGE sinalizam que as faturas de água, luz e gás foram as mais afetadas pelas restrições nos orçamentos familiares. Os números do IBGE sinalizam que as faturas de água, luz e gás foram as mais afetadas pelas restrições nos orçamentos familiares entre 2017 e 2018.
De acordo com o instituto, 37,5% da população vivia em famílias que reportaram atraso no pagamento desse tipo de conta mensal em razão das dificuldades financeiras. O acerto postergado de despesas com prestação de bens e serviços (26,6%), como TV a cabo, e aluguel ou prestação de imóvel (7,8%) vieram na sequência da lista.
Para o economista Wandemberg Almeida, essa situação vem se perdurando ao longo do tempo em razão do desemprego. “As pessoas vêm perdendo renda e poder de compra. O salário mal dá para pagar as dívidas. Nosso país está vivendo uma grande desigualdade. Não existe perspectiva de mudança para os próximos anos, fora a inflação que está voltando. Precisamos de novas ações para melhorar o quadro econômico do nosso país, mas essas mudanças ainda vão demorar, talvez após o segundo trimestre para o próximo ano”, disse.
Alimentação
Além disso, a despesa per capita com alimentação era de R$ 209,12 por mês, sendo que a parte monetária correspondia a R$ 183,03 (87,5%) e a não monetária a R$ 26,10 (12,5%). A média de gastos por pessoa com a alimentação dentro do domicílio foi de R$ 147,45 (70,5%) e fora do domicílio foi de R$ 61,68 (29,5%).
As famílias cuja pessoa de referência era homem contribuíam com 62,3% (R$ 130,18) para a despesa total com alimentação, enquanto as famílias em que a pessoa de referência era mulher contribuíram com 37,7% (R$ 78,94). Já a contribuição das famílias com pessoa de referência branca foi de 50,6% (R$ 105,89) e a das famílias com pessoa de referência preta ou parda foi de 47,6% (R$ 99,45).
Saiba mais
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 avaliou o acesso da população a serviços financeiros, as despesas monetárias e não monetárias com alimentação, transporte e lazer, além de informações sobre como as famílias avaliam suas condições de vida.