O Brasil vem enfrentando, há alguns anos, uma situação econômica desfavorável, que tem resultado em problemas para diversos segmentos, reduzido a atividade industrial e aumentando o desemprego. Entretanto, algumas medidas adotadas pelos governos Federal, estadual e pela iniciativa privada já começam a mostrar que existe luz no fim do túnel. Para falar sobre isso, o empresário Roberto Romero Ramos, presidente do Sindicato das Indústrias de Papel, Papelão, Celulose e Embalagens em Geral no Estado do Ceará (Sindiembalagens-CE) esteve no jornal O Estado e destacou que a questão política é que acaba atrapalhando o desenvolvimento econômico nacional e do Ceará, mas ressaltou que é preciso ter esperança e continuar trabalhando forte para atingir os objetivos desejados, sempre de maneira unida, através do associativismo.
O Estado – Como está o Sindiembalagens, atualmente, e essa questão do associativismo dentro de um mercado tão competitivo como temos hoje?
Roberto Ramos – Estamos com 34 associados, sendo empresas da Capital e da Região Metropolitana. Estamos fazendo um trabalho de interiorização e nesse novo desafio já conseguimos três novas associadas na Região do Cariri. Nos últimos meses trouxemos dez novas empresas para o sindicato, e isso é difícil, mas vale a pena e é muito gratificante. O associativismo é fundamental e eu mesmo pensava no início, por quê me associar? E, hoje, isso é altamente relevante. Temos dentro do associativismo equipes jurídicas, participações em feiras e eventos, entramos muito na área de inovação, temos parcerias com o Sebrae. Além disso, você se sente mais amparado, tem mais força, sendo associado; há mais canais de informação e você não está largado. Me empolgo muito com isso e quero promover um café da manhã com esses novos associados, para dizer para eles que vale a pena se associar.
OE – Há uma série de serviços oferecidos aos associados e todo o amparo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec)?
RR – Isso é uma força muito grande e queria fazer um agradecimento especial ao nosso presidente Beto Studart, que dá um apoio sensacional a todos os sindicatos, pois junto com sua diretoria estão sempre ao nosso lado, nos incentivando, então você se sente amparado. A partir do momento que estamos associados, temos voz e vez. A gente leva o pessoal para participar de uma feira, com tudo custeado pelo sindicato. Promovemos cursos em parceria com o Sesi, Senai e IEL (Instituto Evaldo Lodi), nas áreas trabalhista, de recursos humanos, custos, tributária, planejamento estratégico, inovação, com custo zero para os nossos associados. Quero agradecer ao Fernando Sabadia, superintendente do IEL, pois fazemos esses cursos aos sábados, chega a dar grupos de 25 funcionários das empresas para qualificá-los e eles recebem os seus certificados no final. Sempre com o apoio da Fiec. Estava havendo uma redução do número de associados e o presidente Beto Studart pediu para fazermos esse trabalho de resgate, que graças a Deus vem tendo um resultado positivo. Afinal, estamos dando voz e vez a esses associados, principalmente aos micros e pequenos.
OE – O mercado é muito competitivo. Então, com o empresário qualificando o seu grupo de colaboradores, pode atingir um nível de competição maior?
RR – Exatamente. E o mercado está aí, aberto, livre, apesar dessas dificuldades todas, para a pessoa inovar, procurar aquela criatividade e o nosso papel é esse, dar chances, oportunidades, informações, conhecimento e estou muito satisfeito com o resultado do trabalho que estamos realizando. A ideia é fomentar o associativismo a cada dia que passa.
OE – Há um problema que atinge, em cheio os empresários do setor aqui no Ceará, que é o fato de em alguns estados do Nordeste a carga tributária ser em torno de 2%, aqui no Ceará os impostos ainda são muito elevados?
RR – Isso é um grande problema. Temos procurado as autoridades para ver o que a gente pode compensar, pois temos de tornar as nossas empresas competitivas. Principalmente aquelas do setor de alimentos, que enfrentam as maiores dificuldades. É a questão do incentivo fiscal e estamos batalhando por isso, inclusive tenho uma reunião marcada com o Secretário de Desenvolvimento Econômico, para levar essa problemática, com números, mostrar as diferenças que acontecem. E isso é uma reivindicação das empresas associadas. Estamos preocupados com isso, pois se conseguirmos tornar essas empresas competitivas, com certeza teremos um volume maior de vendas, de empregos gerados e de arrecadação de impostos. Mas precisamos torna-las competitivas. Sabemos das dificuldades dos estados, das restrições, mas a gente precisa ter a oportunidade de competir, principalmente porque são dois segmentos: de plásticos e de papel, que fabricam as embalagens. Estamos tentando melhorar a questão do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), que é muito importante.
OE – Outra questão que emperra o setor é a burocracia?
RR – É preciso desburocratizar, fazer com que as coisas fluam, pois atualmente tudo é muito rápido e a burocracia trava uma série de questões. Temos buscados os órgãos públicos como Semace, Seuma, Sefin, Sefaz, a própria Junta Comercial do Ceará (Jucec), inclusive trouxemos a presidente Carol Monteiro e seu vice para a nossa primeira reunião anual, e a Junta está implementando um projeto para abrir uma empresa em até cinco dias, integrando essas secretarias, a Receita Federal, para agilizar a abertura de novas empresas. E isto deve ser implantado nos municípios do interior também, pois ajuda muito aos empresários e gostaria de agradecer por esta iniciativa.
OE – O Brasil tem passado por momento difíceis, mas parece estar começando a entrar nos trilhos novamente, com as reformas que o Governo Federal vem propondo. Qual a sua opinião sobre isso?
RR – Acho isso fundamental, pois a trabalhista é muito antiga, da época de Getúlio Vargas, inclusive para melhorar o entendimento entre patrões e empregados. A gente está vendo que tudo mudou, inovou e tem de fazer essas modificações, obviamente que mantendo todos os direitos dos trabalhadores, se atualizar. A previdenciária está com um rombo e se não for feita a reforma isso pode aumentar. Mas é uma questão delicada pois mexe com os aposentados, com o pessoal da área rural, há uma série de questionamentos, mas para fazer um equilíbrio fiscal da economia do País, essas reformar são fundamentais. Na realidade a gente vem falando dessas reformas há muito tempo – previdenciária, trabalhista e política –, que no momento está calada, pelas circunstâncias que estão aqui no País, esses escândalos todos. Mas quero salientar a coragem do presidente Temer de tocar essas reformas e ele está escutando a equipe econômica, que está dizendo que se não forem realizadas as reformas tributárias e trabalhistas não tem como equilibrar as contas do nosso País. E estávamos à beira de um abismo, cada dia que passa aumentando esse abismo.
OE – E como fica a reforma fiscal?
RR – A questão fiscal passa pela credibilidade do País, tanto a nível interno quanto externo. Pois quando os investidores veem o Brasil com comentários positivos do FMI (Fundo Monetário Internacional) acreditando que a economia do Brasil está melhorando, acreditando que essas reformas são fundamentais, que o Brasil está fazendo o ajuste fiscal correto, prevendo um crescimento maior no ano que vem, é muito positivo. A palavra-chave é credibilidade e os investidores estão voltando a confiar no País. Espero que duas palavras que temos visto muito por aí – vende-se e aluga-se – saiam logo do nosso dia a dia e vejamos lojas voltando a abrira, pois a economia e estabilizou.
OE – Pois isso é um bom sinal, não é?
RR – Estamos vendo que os juros caíram, que a inflação está reduzindo, então, o brasileiro já é um povo guerreiro, lutador. Voltando a economia desse País a andar, as coisas fluem. O Brasil está começando a andar nos trilhos. Converso muito com o presidente Beto Studart, pois ele é um otimista e ele que sabe, que acompanha o dia a dia, e já estamos vendo um ponto de luz lá na frente. E é isso que nós, empresários, queremos, pois não dá para trabalhar chio de sobressaltos, de sustos. Hoje é uma coisa, amanhã é outra, então queremos apenas que as coisas caminhem e, para isso, é muito importante a realização das reformas fiscal e trabalhista que estão tramitando no Congresso Nacional. E que nosso representantes deem uma resposta positiva, apesar de toda essa turbulência que vem pairando sobre o País, e o presidente Temer continue tentando tocá-las, mesmo com essas turbulências. Não podemos ficar mais no marasmo, porque senão essas palavras vende-se e aluga-se vão continuar nas ruas. Temos de ser otimistas e tocarmos os nossos negócios.
OE – O Ceará está numa situação fiscal privilegiada no Brasil, à frente de grandes estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Temos uma bos gestão aqui em nosso Estado?
RR – Temos sim. O grande mérito do nosso governador Camilo Santana, que trouxe o diálogo, pois conversa com todos, dá voz para as nossas opiniões e tem uma parceria muito bacana com a Federação das Indústrias, o nosso presidente Beto Studart, e aí estão os resultados. O Ceará com uma posição de liderança na situação fiscal e estamos com dois projetos fantásticos: uma parceria com o Porto de Roterdã, na operação da nossa unidade portuária no Pecém, e o Aeroporto Internacional Pinto Martins, que em breve receberá os aportes do grupo alemão Fraport AG, que tem uma expertise fantástica nesse segmento. E isso representa a credibilidade, para que se invista Estado. E aí destaco a posição do governador de seguir essa linha rígida, de segurar as pontas, pois o nosso funcionalismo está com seus salários em dia, enquanto outros estados bem maiores estão numa situação pré-falimentar. Temos uma administração séria, competente, do Camilo e sua equipe, e volto a destacar a importância do diálogo que ele vem mantendo com os demais segmentos da sociedade cearense.
OE – Ele tem mantido uma forte austeridade?
RR – Isso mesmo. Quando ele viu que tinham certas obras que estavam paradas e não eram para continuar, mandou parar. Lançou lá na Fiec um plano de concessões, nos quais estão incluídos o Acquário, o Centro de Eventos do Ceará, e uma série de outros equipamentos, mas principalmente, manter a austeridade na administração pública, pois alguns estados estão numa situação complicada.
OE – E o governador tem buscado parcerias para apoiar os empresários?
RR – Com certeza. Ele lançou uma parceria com o Banco do Brasil e a Fiec, de uma linha de crédito de mais de R$ 6,5 bilhões para capital de giro, ampliações, compras de máquinas e equipamentos, juros e carências diferenciadas, que é mais um incentivo para que os empresários possam caminhar dentro dessa situação de dificuldades que estamos vivendo hoje. E isso é muito importante, tanto para manter as empresas que aqui estão, como para atrair novos empreendimentos para o Estado do Ceará, a fim de ampliar seus negócios, gerando mais empregos, renda e arrecadação de impostos.
OE – E qual o seu recado final?
RR – Todos devemos acreditar em nosso País, pois moramos aqui, mas devemos reclamar quando for preciso, correr atrás, porque aqui não é um País rico, tem muitos problemas. Então precisamos ter otimismo, os empresários do nosso setor devem se associar ao Sindiembalagens, pois o associativismo é importante e vamos sair dessa situação que estamos vivendo, com o apoio da população e das autoridades competentes do Brasil.
Marcelo Cabral
editor de Economia