32 C°

3 abril 2017.
Fortaleza, Ceará, Brasil.

aniversario
aniversario

Economia

Roterdã vai impulsionar crescimento do Ceará

segunda-feira, 03 de abril 2017

NONATO ALMEIDA
economia@oestadoce.com.br

Com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico do Estado, com a vinda de investidores e indústrias estrangeiras para o Ceará, recentemente uma comitiva de cearenses, composta pelo governo do Estado e lideranças empresariais, esteve na Holanda, apresentando as oportunidades e potencialidades do Estado. Entre eles, estava o diretor administrativo da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), empresário José Ricardo Montenegro Cavalcante, que concedeu entrevista ao Jornal O Estado, destacando as oportunidades que chegarão através da aliança firmada entre os Portos de Roterdã e do Pecém. Cavalcante, que está há 27 anos na Federação, atua nos ramos de mineração e construção civil no Estado.

ricardo 2

O Estado – Recentemente, o senhor acompanhou a comitiva cearense em Roterdã. Poderia relatar um pouco sobre a missão?

RC – Fomos a convite do governador Camilo Santana. Houve uma comitiva da Federação (Fiec) – formada pelo presidente Beto Studart e o vice-presidente Carlos Fujita, além de mim, Carlos Rubens, Marcelo Quinderé e José Dias – e, para surpresa nossa, esse foi um momento muito rico. Hoje o porto de Roterdã (Holanda) é o melhor da Europa. Ele é um porto em que 50% pertencem ao município e outros 50% pertencem à união, ou seja, não tem ingerência política, sendo todo administrado por pessoas indicadas pelo mercado. E, a cada final de ano, eles pagam um dividendo ao governo. Esse é um exemplo a ser seguido. Inicialmente, lá, houve uma apresentação do Estado pelo governador, vindo, depois, o presidente da Federação, que apresentou o setor industrial do Ceará, bem como o que o governo tem feito juntamente com os empresários. Depois houve a apresentação do secretário do Desenvolvimento Econômico, César Ribeiro, sobre o Estado e o porquê da Holanda vir para o Pecém, finalizando as apresentações das rotas estratégicas – que é um trabalho feito e desenvolvido pelo presidente Beto Studart, dentro da Fiec, que engloba todo o processo no qual toda indústria que queira vir para o Ceará, independente do setor –seja construção civil, mineração, metalomecânica, enfim –, ela tenha essa porta.

OE – Quais as perspectivas para a indústria cearense com essa maior proximidade com a Holanda?

RC – No meu entender, o Estado do Ceará, nos próximos dez anos – e com certeza, isso vai dar certo –, com o memorando que o Governo do Estado assinou, junto com o Porto de Roterdã, o Ceará será um grande estado. Fiquei muito feliz de poder participar e estar presente em um momento muito importante para o Estado. Nós temos algumas exportações para a Holanda, mas não de grande porte. A grande vantagem da Holanda, e do Porto de Roterdã – por ser o maior da Europa e um dos maiores do mundo –, é a possibilidade de que o Pecém, não só o porto, mas toda a retroárea, seja trabalhado de forma diferente. Hoje, no Pecém, o Governo convida empresas para se instalarem lá, cedendo o terreno. A concepção do Porto Roterdã é nova, moderna e de primeiro mundo e eles estão vindo para cá para se associar ao Governo e os terrenos serão alugados no prazo de 25 anos, sendo renovados por igual período. Os terrenos fazem parte dos ativos do Governo, então, em um segundo momento, do Porto de Roterdã. É um pensamento diferente, é o que o mundo está fazendo hoje e todo mundo está trabalhando nesse sentido.

OE – Quais segmentos, de início, deverão receber novas indústrias, a partir desse contato com os holandeses?

RC – O Porto de Roterdã, fazendo um comparativo de um a coisa bem simplória, funciona como um shopping center. Ele tem a entrada e uma área enorme, a qual eles destinam para refinarias, siderúrgicas e várias empresas. Roterdã, hoje, tem um porto de 41 quilômetros, e, de um lado e de outro, tem empresas e todas estão aptas, também, a vir para o Brasil. Mas elas estão precisando vir não só a pedido do Governo, mas em conjunto – e Roterdã consegue fazer isso com muita maestria. Eles têm esse grande know-how, com um nome mundial que, atrelado ao Governo do Estado do Ceará – e nas condições que hoje se encontra, em termos de finanças e administração, em que o governador Camilo Santana tem demonstrado muita responsabilidade –, a união dessa ideia de Roterdã com o que nós temos, essas empresas virão com uma velocidade muito grande.

OE – Há previsão da chegada de indústrias ainda este ano?

RC – Acreditamos que esse memorando, ao tornar-se realidade – e a previsão, talvez, seja para o final do ano – o Ceará será um novo Estado nos próximos dez anos. Para se ter ideia, só o Porto de Roterdã representa em torno de 4% do PIB da Holanda, uma coisa fenomenal. Todos os segmentos serão beneficiados, como a parte de refinaria e tancagem, por exemplo. O que vai definir muito não é só o que a gente quer, mas o que o mercado demanda. Então, na hora que houver empresas que precisarem estar aqui, na América do Sul e estarem fornecendo para uma parte da Europa e Estados Unidos, enfim, quem vai determinar muito são os empresários, que, ao sentirem que Roterdã está aqui, junto com o Governo do Estado, e a tranquilidade de que aqui eles poderão operar, vários setores poderão vir.

OE – Falando em desenvolvimento e acontecimentos recentes, de que forma a concessão do aeroporto irá refletir no setor industrial?

RC – Eu, particularmente, como cidadão e empresário, fiquei muito feliz com a decisão do governador, já que estava em Roterdã, de ir visitar o CEO da Fraport AG Frankfurt Airport Services, uma semana após o leilão. Isso é um momento único para o Estado, pois há muito tempo a gente vem discutindo e tentando ver se esse aeroporto sairia, pelo menos as obras – que, hoje, estão paradas. A Fraport arrematou Fortaleza e Porto Alegre, as duas pontas do País, estando também em Lima (Peru) – traçando um triângulo –, ou seja, conseguindo fechar, estrategicamente, a região da América Latina com esses três aeroportos. O contrato deverá ser assinado em 29 de junho, passando a administrar, por três meses, junto à Infraero, e, a partir de 2018, eles vão assumir, realmente, o aeroporto. O mais importante é que a preocupação deles é tanta que a Fraport já tinha um funcionário aqui há mais de um ano, trabalhando e olhando, ou seja, são muito profissionais, e isso faz com que a gente saiba que eles fazem muito mais do que a gente está esperando.

OE – Ainda sobre o aeroporto, com a concessão realizada, a vinda do hub da Latam pode se concretizar, na sua visão?

RC – Acredito que sim. Há um fator, que acredito não ser vital, mas que é muito importante: no aeroporto de Lima, que é da Fraport, há um hub da América Latina da Latam, então, já deixa uma porta aberta. Então, a gente fica muito feliz porque, logo após a licitação, a Latam abriu a negociação, novamente, para se discutir o hub. São duas grandes empresas, e a Fraport tem uma experiência tranquila em relação a isso, e, acredito, que o trabalho tenha de ser feito – tanto por ela como pelo Governo do Estado e pela Federação –, de tentar trazer a Latam para cá e, com certeza, conseguiremos.

OE – Quanto à terceirização, como o setor industrial vem lidando com essa realidade? Qual sua avaliação acerca do projeto recente, aprovado pela Câmara dos Deputados?

RC – A terceirização é uma coisa que, a nível mundial, existe. Acredito que estamos um pouco atrasados em nossa legislação. É um tema que se debate muito – tanto pelas classes trabalhista e empresarial – e deveria ser apresentado, mais profundamente, o que é e o que será feito, deixando de lado os rancores e as brigas, e mostrar para a sociedade o que é melhor para ela. Acredito que isso é uma coisa que não tem mais volta, porque a sociedade precisa disso e a gente precisa evoluir. O mundo está evoluindo e não acredito que isso venha a gerar desemprego, porque, em nenhum momento, a proposta que está aí está tirando direitos dos trabalhadores, e somos contra isso, mas deixar que as empresas possam escolher o que realmente interessa a ela ter como trabalhador, e os demais ela possa ir buscar no mercado, mas com a mesma responsabilidade social que teria se o empregado fosse dela.

OE – Quais os desafios da indústria cearense na atual conjuntura?

RC – Estamos passando por um processo muito difícil, em 2015 e 2016, principalmente para a indústria local, em que a gente teve vários setores parados, muitos deles vetoriais e, uma vez parados, para uma grande camada de setores em seu redor. Um deles é a construção civil, que, ao redor dela, tem dez a 15 setores da indústria que são importantíssimos. Então, quando ela cai, todo mundo cai. Temos muitos problemas a enfrentar, como a carga tributária e as reformas que estão aí (tributária e trabalhista). Temos vários problemas que, na qual, essa recessão pegou quase todos os segmentos, mas estamos, como Federação, tentando reanimar, procurar caminhos, soluções e discutir os problemas. Recentemente, o presidente Beto Studart esteve junto com o governador buscando discutir o Refis; junto com o Congresso para discutir o problema com o FNE e Finor; enfim. Estamos tentando reanimar o mundo empresarial

OE – E quais projeções para este ano? Poderá haver crescimento?

RC – Estamos acreditando que, no segundo semestre deste ano, as coisas comecem a melhorar, mas a cada dia a gente acorda com uma notícia ruim, e isso, para o industrial e para a sociedade é muito ruim, pois a gente vive do consumo. Então, a população se retraiu muito, assim como o mercado que deixa de comprar da indústria. Acredito que, para o ano, teremos um crescimento, embora muito pouco, porque nossa indústria tem peculiaridades, diferentemente, por exemplo, de São Paulo, que tem uma cadeia que ataca muito. Temos vários segmentos, como alimentos e bebidas, que estão melhorando, e, eu diria, estão fora da curva negativa da indústria. Outros setores vão melhorar, mas tudo vai depender do dia a dia.

FRASES

A grande vantagem da Holanda, e do Porto de Roterdã, é a possibilidade que o Pecém seja trabalhado de forma diferente.

A concepção de Roterdã é nova, moderna e de último mundo e eles estão vindo para cá para se associar ao Governo

A união dessa ideia de Roterdã com o que nós temos, essas empresas virão com uma velocidade muito grande

GLOSSÁRIO

Memorando. Trata-se de um documento ou uma comunicação escrita, de carácter oficial ou protocolar, que utilizam as autoridades, sobre assuntos de interesse público. A função consiste em relacionar os órgãos administrativos de maior hierarquia

Retroárea. Também chamado de retroporto, consiste em um instrumento logístico e aduaneiro, fundamental para regular os fluxos nos portos e de extrema importância para a competitividade de tais portos. São áreas externas aos portos onde ocorrem atividades essenciais para o funcionamento dos mesmos.

Know-how. Termo utilizado para descrever o conhecimento prático sobre como fazer alguma coisa, muitas vezes entendido como algo difícil de transferir para outra pessoa por meio escrito ou verbal.

 

 

Mais conteúdo sobre:

FIEC Porto de Roterdã Ricardo Cavalcante Roterdã

hoje

Mais lidas

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com