Marcelo Cabral
Editor de Economia
A expansão das exportações da indústria de mármores e granitos tem colocado o Ceará em destaque no mercado internacional, como o terceiro maior exportador do País. No mercado interno, apesar das dificuldades na economia, o Estado lidera a produção nordestina – assim como em volume destinado às exportações na região. Para falar sobre a evolução do setor no Estado – cuja cadeia abrange 350 empresas, além de 40 indústrias – o presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará, Carlos Rubens Alencar, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal O Estado, em que aponta, ainda, as perspectivas positivas, como a chegada de novas empresas e maior participação no comércio exterior.
O Estado – No Ceará, desde quando essa atividade está presente?
Carlos Alencar – Essa é uma atividade relativamente recente e o parque de granitos, sobretudo, avançou e se desenvolveu, tecnologicamente, a partir dos anos 70. Nesse período, o que se industrializava eram mármores. Os equipamentos e a industrialização do granito passaram a ser desenvolvidos a partir dos meados dos anos 70. E, pelo meio dos anos 80, em função de um trabalho que começou a ser desenvolvido na extinta Companhia Cearense de Mineração, começou-se a fazer um trabalho de promoção da atividade e da oportunidade de se investir nesse setor. Então, logo no início dos anos 90, começaram a surgir os primeiros empreendimentos, aqui no Estado, e, depois, tivemos uma fase de muita dificuldade, porque não tínhamos uma cultura, o saber fazer, e algumas empresas ficaram pelo meio do caminho, enquanto outras mudaram.
OE – Como empresário, como iniciou suas atividades até chegar à frente do Simagran?
CA – Em 1990/1991, especificamente, começamos a atuar, empresarialmente, nesse setor. Tivemos, durante muitos anos, desde o final dos anos 90 até 2011/2012, atuando empresarialmente no Espírito Santo, que é o estado de maior produção e que concentra mais de 80% da atividade no Brasil. Em meados de 2012, voltamos para o Ceará e, inicialmente, trabalhando mais com a parte de consultoria em obras, porque, como tínhamos passado muitos anos lá no Espírito Santo, era muito difícil gente voltar a atingir o mercado do Sul e Sudeste a partir do Ceará, em função da peculiaridade do meu trabalho – e, também, pelas exportações que a gente fazia através de Vitória. Avançamos e voltamos, inclusive, a minerar e estamos dando apoio ao Simagran, onde temos procurado difundir a importância do Ceará como um grande fornecedor das rochas mais exóticas e superexóticas do Brasil, hoje, que são as mais demandadas pelo mercado americano. Então, até 2011 e 2012, eu diria que tínhamos seis a sete empresas de fora que pesquisavam aqui. Na verdade, nós estamos no segundo mandato, e o Simagran tem uma característica de ter um mandato de dois anos.
OE – Como está o desempenho setorial diante do atual cenário econômico?
CA – O nosso setor é francamente exportador e, ao longo dos últimos cinco anos, tivemos uma evolução muito importante, porque a gente teve, durante muito tempo – inclusive quando a economia era mais estável – um câmbio com a relação dólar-real de R$ 1,65. Então, hoje, temos um câmbio acomodado entre R$ 3,10 e R$ 3,15, ou seja, isso corresponde a uma majoração de quase 100% em quatro anos. Hoje, em função da animação que a gente fez, com muito apoio da Federação das Indústrias (Fiec) – e o seu presidente, Beto Studart, tem nos dado um respaldo muito grande –, conseguimos transformar o Ceará em uma fronteira muito importante nesse tipo de rochas. Em 2015, criamos – com o apoio da CNI e, também, da Fiec –, a Fortaleza Brasil Stone Fair, que é um evento internacional e, para se ter ideia, ele faz parte do calendário internacional do setor, e, no ano passado, já tivemos visitantes de 14 países. Neste ano, de 1 a 3 de junho, faremos, novamente, esse evento, que deverá contar com a presença – já confirmada – do presidente Robson Andrade, da CNI. Ou seja, a gente conferiu, ao longo desse tempo, um protagonismo a uma atividade econômica que estava maio que andando de lado, e conseguimos colocar o setor na pauta da economia do Ceará e, de 2012 para cá, praticamente, dobramos as exportações do Estado e acreditamos que, até 2020, esse setor – que tem uma parcela de viés fortemente exportador – poderá exportar US$ 200 mi só nesse segmento. Para se entender a importância disso, toda a economia do Ceará, em 2016 – mesmo com a entrada da CSP em operação –, exportou algo próximo a US$ 1,2 bilhão, ou seja, um pequeno segmento, chamemos assim, que, ainda hoje, tem uma perspectiva de, num cenário muito curto, ganhar uma importância fundamental na economia do Estado. Esse, eu diria, é o cenário geral de nosso setor.
OE – Quantas empresas atuam com rochas, aqui, no Ceará?
CA – A cadeia produtiva do setor de mármore e granito envolve alguns segmentos. Temos o segmento da mineração, que trabalha com a extração da matéria-prima; temos o segmento da indústria de beneficiamento; e as marmorarias, que trabalham com os produtos oriundos das indústrias, como as chapas feitas a partir dos blocos extraídos do interior. O setor mineral tem uma peculiaridade que é denominada de rigidez locacional. Ou seja, o bem mineral está lá, em um determinado local e não onde gostaríamos que estivesse. Ele começa a gerar renda na zona rural e todas aquelas comunidades próximas às zonas produtivas mudam seu perfil. Esse conjunto, essa cadeia, específico do Ceará, hoje, envolve cerca de 350 empresas. A parte de mineração industrial é menor, por exemplo, a parte de pedreiras deve ter cerca de 40 empresas.
OE – E como está sendo a política de atração de novas empresas?
CA – Aqui, no Ceará, atividade é ainda, digamos assim, incipiente, com poucas empresas, e agora que estamos atraindo empresas para cá. E, dentro dessa política de atração, a ZPE-Ceará desempenha um papel fundamenta, porque ela seria, e é, o único instrumento de política industrial. A grande novidade, no Brasil, hoje, chama-se Zona de Processamento de Exportação, que, no caso, a única (do País) que funciona é a do Estado do Ceará. Então, dentro desse ambiente, que é muito favorável a quem exporta – dentre outras vantagens e suspensões tributárias – tem a liberdade cambial, o que é algo fantástico. Isso corresponde ao seguinte: você pode faturar e receber as quantias envolvidas nesse faturamento em qualquer lugar do mundo. Isso traz uma série de vantagens para as negociações de compras de insumos, matéria-prima, equipamentos. Essa é uma vantagem muito grande e, no momento em que começarem a funcionar as primeiras indústrias de mármores e granitos funcionando da ZPE – que nós acreditamos acontecer até o final do ano –, isso vai atrair empresas de outros países.
OE – Quais os principais destinos da produção?
CA – De uma maneira geral, esse é um ponto fraco do setor de mármores e granitos brasileiro, já que o destino das exportações é muito centralizado. Um exemplo, quando se fala da extração de blocos, pesando de 20 a 30 toneladas, mais de 80% estão canalizados entre Itália e China. Quanto à parte de chapas, 80% vão para os Estados Unidos. Esse é um ponto fraco e muito interessante, nesse aspecto: ao mesmo tempo em que Brasil seja o maior fornecedor das importações americanas – por exemplo, mármores e granitos são um dos raros produtos que o maior fornecedor americano é o Brasil.
OE – Quanto o mercado brasileiro absorve?
CA – Dentro desse cenário, o Ceará ganhou a proeminência porque, devido a termos rochas super exóticas, diferenciadas e exclusivas, somos grandes vendedores de blocos para o Espírito Santo, que exporta 80% de US$ 1,1 bilhão do que é exportado, e, nesses 80% de lá, 20% são de rochas que saem do Ceará. E é por isso que a grande luta que tem norteado nosso trabalho no Simagran é ver se a gente consegue que mais indústrias – inclusive as capixabas que estão aqui chegando – passem a industrializar localmente, e, aí, a ZPE ganha uma importância muito grande e, inclusive, em meados do ano passado, o Governador teve oportunidade de conhecer 14 dessas empresas que formalizaram, inclusive, protocolo de intenção e já tem áreas reservadas. Agora, o mercado não vive só de exportação. O mercado brasileiro é um dos maiores do mundo, só que, nos últimos dois a três anos, foi muito maltratado. 85% de tudo o que é produzido em nosso setor cai dentro da construção civil, que, no Brasil, está muito maltratado. Para se ter ideia, no ano passado, os novos projetos na cidade de São Paulo caíram 60%, ou seja, se não houve projetos em 2016, não haverá aplicação de pedras em 2018, porque a necessidade aparece dentro da edificação é com 18 a 20 meses da obra. Se não teve projetos, sabemos que, no mercado paulista, teremos muitas dificuldades. Então, o cenário da crise nos atinge muito fortemente, e muitas empresas que não têm a capacidade de se readaptar e passar a ter um percentual maior de suas receitas com exportações também está sofrendo muito. Sou muito otimista e acredito que estamos avançando e vamos avançar muito.
OE – Qual a participação do Ceará nas exportações e no mercado interno?
CA – O Ceará é o terceiro maior exportador do Brasil. Cerca de mais de US$ 100 milhões das exportações que já saem, hoje, pelo Espírito Santo, são oriundas de rochas cearenses – ou seja, as nossas rochas saem daqui brutas, não sendo contabilizadas como nossa exportação, somos os terceiro maior do Brasil, muito distante do Espírito Santo e do segundo, que é Minas Gerais. Na Região Nordeste, somos o maior. Do ponto de vista da produção, o Ceará, também, é o maior da região. Realmente, estamos sendo a pedra da vez e, nos próximos anos, vamos avançar muito. E, se os caminhos naturais das coisas andarem bem, em 2020, estaremos beirando o segundo lugar no volume de exportação. Até 2025, com a efetivação dos projetos que temos encaminhados, seguramente, o Ceará será a segunda zona mais importante no Brasil
OE – Já houve o início das operações de novas empresas este ano?
CA – Concretamente, no mês passado, o maior grupo exportador do País começou a operar, aqui, no Ceará, e deverá montar em um cenário de, no máximo 24 meses, duas unidades industriais, sendo uma dentro do ambiente de ZPE, e outra na zona rural, em Santa Quitéria. E várias outras empresas muito importantes estão atuando na extração. Dentro da ZPE temos uma unidade criada, com área reservada e projeto na fase final de modelagem final de financiamento e acredito que até o final do ano, novembro ou dezembro, estará funcionando dentro do ambiente de ZPE. E temos mais quatro empreendimentos sendo modelados.
OE – Quais os desafios da segmento cearense, na atual conjuntura?
CA – Eu diria, não só no Estado, mas, de uma maneira geral, em todo o País, os nossos marcos regulatórios são muito atrasados. A gente precisa – e acredito que as entidades, de federações da indústria e a própria CNI – que a gente deveria se dedicar mais em internalizar mais, na sociedade, a importância do setor empresarial, que é muito estigmatizado. Há muita dificuldade em relacionar-se com as entidades públicas, a legislação é muito protecionista, uma coisa absurda. Coisas que se faz em qualquer local mais desenvolvido, aqui, no Brasil, se leva anos. A coisa é muito travada. Temos conseguido avanços,
OE – E quais projeções para este ano? Poderá haver crescimento?
CA – A situação do mercado interno é muito preocupante e não vemos, no médio e longo prazos, muitos sinais de que possa clarear. Se a economia, realmente, começar a melhorar, existe determinado tipo de obra – que também absorve muitos produtos, mas são obras que já estão implementadas –, que são as reformas, os chamados retrofits das cadeias de shopping center. Em um período em que a economia estava mais estável, surgiram muitos shoppings novos e os antigos ficaram defasados. E as grandes cadeias de shoppings estão com seus estoques de centros comerciais muito defasados e que requerem reformas – que, por sua vez, demandariam muitas rochas, As concessões do Aeroporto Pinto Martins, a ampliação, certamente, demandará um volume considerável de granito, que é o tipo mais comum, usado no mundo todo e que tem melhor caracterização tecnológica para ambientes de aeroportos, ambientes que necessitam de um pavimento mais resistente à abrasão. O setor exportador acredito quem vai continuar tendo uma posição importante.
Confira a entrevista completa: