O presidente do Sindicato da Indústria Gráfica do Estado do Ceará (Sindgráfica), Raul Fontenelle, esteve no jornal O Estado para falar sobre a situação do segmento no Ceará Ele lembrou da crise, pois alguns setores da economia sentiram mais e outros menos, mas praticamente todos sofreram impactos negativos em suas áreas de atuação, com raras exceções. E destacou que já há uma pequena melhora no ramo gráfico, mas ressaltou que ainda existem alguns desafios a serem superados, lembrando, sempre, ser necessária uma porção extra de otimismo, bem como a união, o associativismo entre os empresários, para conseguir reverter o quadro negativo que se instalou no Brasil nos últimos anos.
O Estado – Como está a situação dos empresários do ramo gráfico no Ceará, atualmente?
Raul Fontenele – Com certeza o mercado já está melhorando. Acredito que o pior passou e o mercado gráfico está voltando a contratar. Muito modestamente, ainda, mas a gente vê que a procura por novos funcionários, por treinamentos, nos dá um balizamento que há uma melhora. Muito tímida, mas que vai chegar lá.
OE – Pelo menos passou aquela fase em que só havia demissões?
RF – As demissões já caíram, não vindo mais aqueles números elevados que tinham antes. Ainda existem algumas empresas fazendo ajustes pontuais, mas a linha de queda estagnou. Ainda é muito cedo para a gente ter um diagnóstico real, preciso, mas a gente já percebe essa tendência de recuo no desemprego.
OE – Tirando a parte de recursos humanos, já está sendo possível ver a realização de novos investimentos, compra de máquinas, por parte dos associados?
RF – O Brasil é tido como um país de primeiro mundo em equipamentos gráficos. As indústrias que vendem esses equipamentos dizem que somos o segundo maior comprador e a maior indústria instalada do setor no mundo, quer dizer, temos boas indústrias. Então, com a queda da produção, o País todo ficou muito equipado, então grandes investimentos não vão vir de imediato. Existem coisas pontuais, pessoas melhorando o seu fluxo de trabalho com máquinas mais modernas de acabamento, vamos ter uma comissão que vai à China, este mês, para ver as novidades do setor e isso nos aponta os interesses, mas um parque gráfico novo, ainda é muito cedo. Acho que ainda deve haver uma acomodação e o que vamos ver são indústrias crescendo na velocidade que já tivemos um dia.
OE – Então, o parque gráfico atual suporta uma retomada no crescimento dos serviços?
RF – Hoje, a gente tem uma capacidade instalada muito grande aqui no Ceará, que ainda está bastante ociosa, sendo possível absorver as novas demandas.
OE – O Brasil passou por um momento muito complicado, está dando sinais de que a economia vai reagir, mas não é algo que será do dia para a noite, não é?
RF – Não. Até porque todo mundo se ajustou. Todo mundo demitiu, reduziu o que podia ser reduzido, foi procurar uma performance melhor, até para se apostar como se apostou no passado, as pessoas terão um pé atrás. O crescimento deverá ser mais pé no chão, daqui para a frente, de uma forma mais sólida, mais bem pensada.
OE – Então, a questão da gestão será de extrema importância, pois quem não consegue gerenciar bem os custos de produção, terá sua situação complicada?
RF – Exatamente. E, hoje, o Sindigráfica está pensando exatamente nisso, promovendo cursos de gestão, como entender os cálculos de orçamento condizentes com o serviço. Vamos ter a Semana Tecnológica, em julho, que é só tratando desse assunto, pois estamos enxergando o mercado dessa forma.
OE – Os empresários têm de se preparar, se qualificar, para enfrentar as nuances do mercado?
RF – Hoje, só vão ficar as pessoas que estiverem se qualificando. A competitividade é tão acirrada que quem fizer o melhor trabalho, com a melhor prestação do serviço é quem estará vendendo. E com preço justo.
OE – A Prefeitura de Fortaleza tem cobrado o ISS (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) das empresas do setor, enquanto na Região Metropolitana as gráficas estão imunes. Como estão as negociações nesse sentido?
RF – Estamos pagando 3% de imposto, enquanto em cidades como Caucaia, Maracanaú ou Eusébio, as gráficas estão isentas. O próprio prefeito esteve reunido conosco, está sensível a essa questão do ISS e há a possibilidade de termos um final feliz. Mas, até o momento, este percentual continua sendo cobrado das gráficas instaladas na Capital.
OE – E isso é um custo que impacta no preço final dos produtos?
RF – Estamos sem competitividade, pois as gráficas situadas nestas cidades vizinhas prestam serviços dentro de Fortaleza, imunes do pagamento desse imposto, conforme diz a Constituição Federal, para livros, revistas e periódicos.
OE – E o que o setor pode esperar de 2017, pois a construção civil está dando sinais de reação e ela impacta no serviço de vocês?
RF – Sempre digo que a gráfica é um dos setores mais sensíveis da economia, pois se a indústria, as construtoras não estiverem vendendo, elas não estão fazendo embalagens, folders de lançamentos. Você baliza muito as construtoras, pelo número de folders que estão sendo colocados na rua. Quando não há lançamentos, não tem folders ou panfletos sendo confeccionados nas gráficas.
OE – Além da construção civil, que outros setores da economia trabalham muito com vocês?
RF – Os lojistas de shopping, que precisam de embalagens, caixas para presentes, nos últimos anos deve ter caído em torno de 30 a 35%, mas sentimos que o mercado estabilizou, não há mais queda. Então, chegou um ponto em quem todo mundo se equilibrou e está repensando os negócios. Empresas farmacêuticas produziram menos rótulos, e medicamentos são itens de primeira necessidade, então os hospitais estão comprando menos, o Governo está colocando menos remédios nas prateleiras, então a indústria gráfica é muito sensível ao mercado. Estamos apostando num crescimento muito pequeno para este ano, mas crescimento, ao invés do ambiente recessivo que vínhamos passando. Temos de criar esse ambiente de novo momento, mas infelizmente a nossa política ainda não está colaborando como gostaríamos.
OE – E o que a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) tem feito?
RF – A Fiec está com um papel fortíssimo em estar fomentando, indo junto ao governador, ao prefeito, às entidades de classe, para podermos criar um ambiente mais favorável. Mas é preciso combater a burocracia, facilitar a abertura de empresas, que isso venha a dar um sustento para a nossa economia. A gente vê muito que quando existe a união de uma classe, todos conseguem atingir o objetivo de forma mais fácil. Então, estamos conversando com outros sindicatos, como o Sindiembalagens, vendo o que podemos trabalhar para facilitar a vida deles, e eles conosco também. E esperamos um segundo semestre melhor.
OE – E como está essa questão do associativismo, há quantas gráficas sindicalizadas?
RF – Sempre digo que gráfica unida mantém um mercado melhor. Temos trazido cursos, sentindo as gráficas mais participantes, tanto que saímos de 50 e, hoje temos mais de 70 gráficas sindicalizadas. É pouco diante do número de empresas que existem no Estado, com um volume muito grande de gráficas que ainda podem se associar. E não só as grandes, mas as pequenas, com cinco ou seis funcionários, pois eles vão interagir, se qualificar, ter novas oportunidades. Muita gente tem medo de se associar, por achar que é caro, mas há casos de gráficas pequenas que pagam R$ 30,00 de mensalidade e isso não pesa tanto.
OE – E elas têm acesso a diversos benefícios?
RF – São diversos serviços que eles recebem, desde informativos semanais, apoio jurídico, terão certificados para emitir talonários fiscais, cursos com redução de valores significativa, treinamentos, salas dentro da Fiec para conferências, reuniões, e diversos outros benefícios junto ao Sesi, Senac, Senai. O Sistema Fiec à disposição dos empresários e seus empregados.
OE – O governador Camilo Santana tem procurado estar mais perto do empresariado cearense. Qual a importância disso?
RF – Sempre digo que, nos últimos 25 anos, nunca senti a Fiec tão perto do poder público, pois estamos sentando junto com o governador, dizendo os problemas que estão sendo sentidos, que estão sendo respondidos e melhorados. Essa liga vai resultar num ambiente mais favorável para a indústria, até porque o Governo também precisa de nós. O governador já pediu para que a indústria não demita mais e, só essa conversa já gera um otimismo nos empresários. O ruim é quando você está com um problema, o Governo finge que não vê e ainda nos atrapalha. Acho que, hoje, todos estamos correndo na mesma direção: poder público e iniciativa privada.
OE – Afinal, é preciso retomarmos o crescimento econômico, não é?
RF – Todas as esferas de poder estão mostrando isso. Esses refis que estão vindo, dando chance às empresas, indústrias, comércio, se reestruturarem. Os empresários acertarem seus débitos e seguirem produzindo. A união faz a força, por isso é preciso haver esta parceria de todos, em prol da retomada do crescimento brasileiro. Precisamos de infraestrutura, nosso combustível é caro, temos os fretes mais elevados do mundo, o que nos faz não competitivos. E é preciso realizar a reforma tributária, pois pagamos os impostos mais caros do planeta, atrapalhando a nossa competitividade.
Marcelo Cabral
editor de Economia