Logo que tomou posse no governo de Minas, em janeiro de 1947, Milton Campos chamou ao palácio os dirigentes partidários da UDN de Mutum e lhes pediu que ajudassem a acabar com o banditismo político que havia provocado mais um assassinato na cidade.
– Pois não, governador. Vamos atender a seu pedido. Mas logo agora, não. Nosso partido está com três mortos de desvantagem.
Milton Campos
Minas era assim, PSD de um lado, UDN do outro e o PR no meio. Ele se queixava a Edgard da Mata Machado, seu chefe da Casa Civil:
– É difícil governar Minas com UDN e PR. Toda vez que a UDN assume um lugar, aparece aqui, de manhã bem cedo, o Arturzinho (Artur Bernardes Filho, senador e presidente do Partido Republicano), reivindicando o lugar imediatamente abaixo.
– É o preço da aliança, governador.
– Sei, Edgard. Mas, no dia em que a UDN puser um capelão aqui no palácio, o Bernardes virá correndo indicar o sacristão. E, você sabe, cada padre gosta de celebrar com seu sacristão.
PSDB-PT
Se juntar UDN e PR era difícil, imaginem PSD e UDN. É o que o governador Aécio Neves está sonhando fazer aqui em Minas: unir PSDB com PT para eleger o prefeito de Belo Horizonte e em 2010 o governador.
O PSDB já é filho do PSD com a UDN. Um filho letrado, com pós-graduação. E o PT, como dizia Brizola, é a UDN de macacão. Pôr esses caranguejos todos em um balaio só é tarefa muito improvável, impossível.
Agora, para a prefeitura, pode ser, porque, para não haver briga, foram buscar um candidato de fora, Márcio Lacerda, do PSB, secretário de Aécio. O PMDB daqui, comandado por Newton Cardoso, é muito ruinzinho e lançou um candidato apenas virtual, o deputado Leonardo Quintão, de 30 anos e nenhuma experiência.O PC do B disputa com a deputada Jô Moraes.
Em 2010, Luis Inácio Lula saindo, Patrus Ananias, com sua competência e o cofre generoso do Bolsa Família, vai atropelar Aécio Neves e o prefeito Pimentel.
Rebeldias
Belo Horizonte tem uma tradição de rebeldia, que várias vezes derrubou a arrogância dos grandes partidos. Em 54, a eleição parecia definida para o PSD apoiado pelo PTB ou a UDN com o PR. Um grupo de pequenos empresários e jornalistas, com apoio silencioso do PCB, lançou pelo pequenino PDC o saudoso engenheiro Celso Melo de Azevedo.
Numa campanha relâmpago e empolgante, comandada pelo jovem jornalista José Aparecido, Celso derrotou PSD e PTB, UDN e PR. Foi ali o batismo político de Aparecido, presidente do nosso sindicato dos jornalistas.
Em 58, repetiu-se o episódio. PSD, UDN e PR juntaram-se para eleger o prefeito da capital. O PTB, que em Minas sempre foi pequeno, lançou o vereador Amintas de Barros. E derrotou os três grandalhões.
A herança de Amintas foi aquele Tiradentes horroroso que ele deixou no alto da avenida Afonso Pena. Segundo a lenda, uma estátua didática, para mostrar como acabou o último mineiro que fez oposição a governo.
Agora, a rebeldia parece muito improvável. Falta um nome.
Aécio e Lula
Sábado, o governador Aécio (PSDB) e o prefeito Pimentel (PT) vão desfilar juntos pelo centro de Belo Horizonte para apresentar oficialmente à população o candidato dos dois a prefeito da capital, o ex-chefe de gabinete do cearense Ciro Gomes, Márcio Lacerda, do PSB.
Dias atrás, em Itajubá, no interior de Minas, numa conversa reservada com Aécio e Pimentel, Lula se disse %u201Cirritado com a direção nacional do PT, porque vetou a aliança do PSDB com o PT em Minas%u201D:
– %u201CNo velório da mulher de Fernando Henrique, dona Ruth Cardoso, percebi que era ali que estavam meus amigos, com quem temos posições comuns e de quem precisamos nos reaproximar%u201D (Folha).
É verdade que palavra de Lula nunca vale nada. Mas é sintomático.
Academia
A convite da Academia Mineira de Letras, que está fazendo 100 anos, presidida pelo bravo ex-senador e ex-ministro Murilo Badaró, vim aqui para um debate com acadêmicos, professores, jornalistas e estudantes, sobre a imprensa e a política. Depois, ainda autografei mais de uma centena de exemplares da quarta edição de meu livro %u201CGrandes Pecados da Imprensa%u201D.
Fiquei surpreso com a diferença entre a pasmaceira da imprensa mineira diante da política nacional e da campanha eleitoral, e a veemência com que,no belo auditório de Oscar Niemeyer superlotado, discutimos horas seguidas a realidade brasileira e a responsabilidade política da sociedade.
Pelos jornais e televisões, parece que Minas está dormindo. Mas os 80% de apoio ao governador Aécio não significam que Minas está morta.
O diretor de relações culturais da Academia, o brilhante jornalista e poeta Petrônio Gonçalves, me diz que no interior a inquietação é a mesma.
Jânio
Ontem, aqui, o veterano e sábio jornalista e escritor José Augusto Ribeiro lançou os dois densos volumes de seu livro : – %u201CJânio Quadros %u2013 O Romance da Renúncia%u201D. Breve será no Rio, em São Paulo e em Brasília.
Ainda não li. Mas, como deverá repetir a seriedade e a densidade dos três volumes de %u201CA Era Vargas%u201D, sei que agora já temos %u201CA Era Jânio%u201D.