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Fortaleza

Rio Branco, o parque que sobrevive em meio ao concreto

KATY ARAúJO
Da Redação do OeV

Em meio a prédios, asfaltos e poluição, sobrevive o Parque Ecológico Rio Branco. Localizado no bairro Joaquim Távora, a área encontra-se, praticamente, abandonada, digo, praticamente, por que este pequeno pulmão verde localizado em Fortaleza pode contar com o trabalho do Movimento Proparque, que este mês, celebra 20 anos de mobilização e articulação legítima em prol da valorização do Rio Branco.

_SUGESTÃO_Parque rio brancoNAYANA MELO (15)

 

O Proparque, movimento da sociedade civil, nasceu da vontade de um grupo de moradores do bairro preocupados com as sucessivas agressões ambientais que ali aconteciam e ainda acontecem. Por isso, uma das principais reivindicações dos ambientalistas, a regulamentação do local como parque ou o reconhecimento da Prefeitura de Fortaleza de que a área, já é considerada Zona de Preservação Ambiental pelo Plano Diretor, só ocorreu em janeiro de 2014, quando da assinatura do Decreto 13.286, pelo prefeito Roberto Cláudio. “Porém, a defesa continua”, afirma Ademir Costa, um dos criadores do movimento.

Questionado sobre se valeu a pena lutar todos estes anos pela conservação do parque, Ademir foi enfático, e disse que “está valendo a pena, nós obtivemos, ao longo desse tempo, muita adesão das pessoas, e uma perceptível mudança de comportamento dos moradores do entorno da área com relação ao parque. Hoje nós temos cerca de 400 pessoas caminhando, diariamente, pela manhã. Um número muito relevante, por que anos atrás, não tínhamos tantas pessoas usufruído do Rio Branco”.
Ademir ainda aponta que outra grande vitória do grupo foi evitar que as pessoas jogassem entulho nas áreas de lazer. “Com a proximidade do Natal os moradores do entorno costumavam reformar suas casas e jogar os entulhos no parque, hoje, isso já não acontece. Então, são mudanças relevantes, que mudam o cenário e a qualidade da área verde”.

Tanto membros do Movimento, como frequentadores apontaram que um dos problemas do Rio Branco era a falta de segurança, no entanto, em agosto deste ano, passou a contar com a vigilância diária de guardas municipais.

Abandono
No último domingo, a equipe do O estado Verde visitou o Parque e encontrou um projeto em ação, no entanto, poucos usuários usufruíam da prática gratuita de yoga. A atividade acontece todos os domingos pela manhã, de acordo com a professora de yoga, Tânia de Araújo . “Nós estamos em um parque no meio da cidade e que, infelizmente, poucos conhecem. Nós queríamos levar yoga para as pessoas. Escolhemos este lugar por achar que é um local de convivência e uma área a ser preservada e usufruída pela população”, disse.
Tânia levou o projeto para o Rio Branco, em agosto deste ano, e não encontra empecilhos para efetivar as práticas de Yoga naquele local. Como por exemplo, levar material de limpeza, varrer a sujeira quase sempre encontrada ali.

Foi possível, observar, também, pessoas reunidas e realizando outras diversas atividades, mas nada que tirasse a impressão de abandono, que encontramos. Vimos muita sujeira, bancos e equipamentos quebrados, plantas secas e um anfiteatro abandonado.

Rodrigo Santos, 58, habitue da área, lamentou o abandono. “Sou morador da região há mais de 20 anos e sempre uso o parque para a minha caminhada, mas é uma tristeza ver um equipamento como esse sendo tão pouco aproveitado, e tão pouco cuidado, acredito que se não fosse o Movimento não seria, se quer, possível fazer a minha caminhada diária, por conta, do lixo, folhas e s galhos secos tomando conta do espaço”.

Manutenção
Após uma solicitação do Movimento Proparque, a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb) se comprometeu com a realização de uma série de atividades de manutenção, como poda de árvores , retirada de leucenas, castanholas e outras plantas invasoras, limpeza do parque, além de plantar árvores nativas e recuperação de matas ciliares e outras providências, como solicitar autorização da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) para substituir as árvores invasoras, reativação de uma cacimba [para não usar água da Cagece nas plantas], instalação de novos portões, conserto da grade de proteção e recuperação de duas nascentes, ali localizadas.

“Desde novembro do ano passado, lutamos para que algum gestor público venha ao parque e veja a situação. Somente agora, a Emlurb mandou uma agrônoma para conversar conosco e dessa conversa é que está sendo retomada a manutenção do parque. Só esperamos que eles cumpram o prometido e assim a população possa usufruir desse pedaço de natureza em meio à cidade grande”, disse Ademir.
Em nota, a Seuma afirma que realizou a reforma e estruturação da sede, com espaço para ponto de apoio dos guardas municipais que cuidam diariamente do local, vestiários para os funcionários, além da intensificação das ações de manutenção, visando melhoria do paisagismo e segurança do Parque. A nota ainda afirma que está sendo concluído o Inventário Arbóreo do Parque. Além disso, de acordo com eles, a implantação de uma horta, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), está em processo de planejamento.

Manejo do parque
A atual luta do Movimento é pela elaboração do Plano de Manejo do Parque, estabelecer as normas que devem orientar o uso e melhor administração do Parque sem agredir os recursos naturais e potencializando o uso do mesmo dentro de um contexto de sustentabilidade e qualidade de vida. A expectativa do grupo é que a Prefeitura convoque o Movimento e juntos possam elaborar o Plano.
A Seuma informa que está trabalhando para a formação do Conselho dos 22 Parques, regulamentados/criados pelo Prefeito em janeiro de 2014. Quando formado, o Conselho iniciará os trabalhos de elaboração dos planos de manejo de cada parque, incluindo o do Rio Branco. No entanto, a secretaria não deu nenhuma estimativa de tempo para que isso aconteça .

Plano de Manejo

A elaboração de um Plano de Manejo, não se resume apenas à produção do documento técnico. O processo de planejamento e o produto Plano de Manejo são ferramentas fundamentais, reconhecidas internacionalmente para a gestão da Unidade de Conservação.
O processo de elaboração de Planos de Manejo é um ciclo contínuo de consulta e tomada de decisão com base no entendimento das questões ambientais, socioeconômicas, históricas e culturais que caracterizam uma Unidade de Conservação e a região onde esta se insere.
O Plano de Manejo é elaborado sob um enfoque multidisciplinar, com características particulares diante de cada objeto específico de estudo. Ele deve refletir um processo lógico de diagnóstico e planejamento. Ao longo do processo devem ser analisadas informações de diferentes naturezas, tais como dados bióticos e abióticos, socioeconômicos, históricos e culturais de interesse sobre a Unidade de Conservação e como estes se relacionam.

Movimento Proparque

O Movimento Proparque foi criado, em 1995, por moradores dos bairros Joaquim Távora e Tauape. Além da luta diária pela revitalização do parque, o movimento realiza projetos como: Vejo Flores em Você (incentivo à adoção de plantas do parque pela população), Passeios Ecológicos Proparque (viagens), Domingo no Parque (todo primeiro domingo do mês é feito um piquenique e diversas atividades); para incentivar a população a usufruir e cuidar do local. O grupo é voluntário e se sustenta através da realização de passeios e alguns eventos. “Nada recebemos da iniciativa privada ou do poder público. Já estabelecemos parcerias, mas sem remuneração. Nosso trabalho é voluntário”, afirma Ademir Costa.

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