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Fortaleza

Uma cidade pintada de amarelo

Às vezes o corre-corre cotidiano de casa ao trabalho impede que nossos olhos percebam as estações na cidade. Não é todo mundo que segue pela rotina com o olhar de um Marcovaldo, personagem de Ítalo Calvino, que percebe nos sulcos de um canteiro o crescimento de cogumelos, e sonha com o amadurecimento de sua polpa, e colhê-los para uma bela fritada.

Sem Título-3

Mas é quase impossível não reparar nesta época do ano, em Fortaleza, a cidade colorida pelas flores dasTabebuia, o gênero dos ipês. Em Brasília, por exemplo, a floração dos ipês é tão marcante, que chegam a ilustrar as estampas de camisetas, aquelas que se costuma levar de recordação, com o símbolo de um lugar. Bem, em Fortaleza infelizmente árvores como os ipês não chegam a ser um símbolo da cidade, são mesmo é cortadas por qualquer banal motivo, porém, as que ainda restam não passam despercebidas, por sua irrefutável beleza. Prova disso é que, nos meses de outubro e novembro, a vemos nos jornais e principalmente fotografadas nas redes sociais, por pessoas que se veem arrebatadas pelo encantamento da copa toda amarela, ou mesmo realçando o cinza do concreto, de uma calçada toda pintada de flores.

As Tabebuias são da família das Bignoniaceae, cujo nome foi dado pelo botânico Lineu, em homenagem ao padre e naturalista francês Jean-Paul Bignon. O nosso Ipê-amarelo nativo, nós chamamos de Caraúba, a Tabebuia aurea, Tabebuia quer dizer pau que flutua, e aurea devido à coloração de suas flores. A Caraúba é também conhecida por Pau d’Arco, o pau que dá arco, pois sua madeira é flexível e era assim utilizada pelos povos indígenas como matéria-prima para fazer arcos.

E no Pantanal mato-grossense, devido à sua abundância e também por seu uso medicinal, para diversos tipos de enfermidades, é conhecida como “Paratudo”. Pesquisas já comprovam, as Tabebuia produzem oLapachol, que é um composto orgânico natural usado no tratamento de tumores.

A Caraúba, o nosso Ipê-amarelo, pode medir de 5 a 15 metros de altura. Suas folhas compostas, ou seja, são divididas em folíolos, entre 3 e 5. Suas folhas são também coriáceas, pois são grossas, lembrando o couro. Suas flores são polinizadas por abelhas, vespas, borboletas, mariposas, pássaros e morcegos.
Portanto, é uma árvore melífera, ou seja, atrai abelhas que produzem mel. Suas flores são comestíveis e suas folhas podem ser tomadas em chás. As sementes da Caraúba são aladas, como se tivessem uma asinha de cada lado, e se dispersam pelo vento. É forrageira, ou seja, é uma planta cujas folhas servem para alimentar o gado.

A Caraúba, assim como o Pau-Branco e a Peroba, é uma excelente opção para arborização urbana, pois além de muito ornamental, é bastante resistente. Na Praça do Ferreira podemos contemplá-las ainda floridas e já com frutos, embalados pelo vento Aracati.
Sabendo da importância das árvores para o bem-estar de quem vive na cidade é que o Movimento Pró-Árvore valoriza nossas árvores nativas, seja divulgando informações sobre suas características, seja na defesa dos exemplares adultos pela cidade, ou atentos à época de seus frutos, para plantio das sementes e produção de mudas.

Não basta tomar consciência apenas de que as árvores são mantenedoras do equilíbrio no ambiente citadino, por suavizarem a incidência dos raios solares e canalizarem os ventos, por filtrarem o nosso ar de poluentes e amenizar o barulho, por retirarem do solo substâncias que podem contaminar os lençóis freáticos, além de absorver boa parte da água vinda das chuvas, diminuindo possíveis alagamentos.
É preciso mais do que isso, não é mais possível apenas saber e esperar. É preciso agir, seja defendendo árvores adultas e áreas verdes protegidas e ainda não protegidas por lei, cobrando maiores cuidados do poder público, ou plantando e cuidando de árvores nativas de nosso bioma. Tudo isso nós, do Movimento Pró-Árvore, já fazemos, com o coração. Mas somos poucos e precisamos da sua colaboração. É preciso se empoderar e construir a mudança, como na “Canção óbvia”, de Paulo Freire, onde a “espera é um tempo de quefazer”.

Júlia Manta*
*Integrante do Movimento Pró-Árvore

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