À exceção de críticas bissextas ao governo Dilma e à aliança com o PT, nada se deve esperar do congresso da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, que se inicia amanhã. A entidade, dirigida pelo deputado Moreira Franco, carece de poder deliberativo, funcionando mais como um centro de estudos.
Foi responsável, dias atrás, pela elaboração do documento intitulado “Uma Ponte para o Futuro”, conjunto de propostas neoliberais destinadas a transformar-se num programa de governo, caso o partido vá para o poder. Tanto faz se agora, no caso de um improvável impeachment da presidente Dilma, ou com as eleições de 2018. O vice-presidente Michel Temer comprometeu-se apenas em parte com as sugestões, sabendo que elas se chocam com os setores progressistas de suas bancadas.
O congresso servirá como uma espécie de termômetro para aferição das tendências do PMDB, abrindo-se os microfones para toda e qualquer opinião dos presentes. Daí, a previsão de que o governo Dilma não será poupado. No máximo, prevalecerá o silêncio de Michel Temer, não propriamente de Moreira Franco, que apesar de ter sido ministro de Madame, tem contas a ajustar com ela.
A crise econômica servirá de mola capaz de impulsionar as críticas ao governo do qual o partido faz parte, mas é cedo para previsões de rompimento. Afinal, com seis ministros e presumidos três anos pela frente, ninguém ousaria propor o desembarque antecipado. Mesmo assim, contestações são esperadas ao que muitos peemedebistas classificam como inércia e incapacidade da Presidente.
Aqui, emerge a contradição que hoje caracteriza o PMDB: a tal ponte para o futuro é, acima de tudo, conservadora, muito próxima das diretrizes tucanas de privatizações, diminuição das dimensões do Estado, redução de direitos trabalhistas e prevalência da iniciativa privada. O problema é que por aí, o partido não chegará ao Palácio do Planalto, no caso de eleições daqui a três anos. A estrada parece congestionada por Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e até Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Por conta disso, a artilharia, mesmo de passagem atingindo Dilma, estará mais concentrada no PT. Afinal, não se duvida da candidatura do Lula. Sem candidato presidencial próprio há seis eleições, o partido tem consciência de que cairá da ponte, caindo no abismo, se outra vez atrelar-se aos companheiros. A opção em aberto parece mesmo indicar Michel Temer, a menos que José Serra mude de galho.
Em suma, amanhã é dia de ensaio geral da companhia, com o teatro ocupado apenas pelos atores.