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29 julho 2008.
Fortaleza, Ceará, Brasil.

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Opinião

Apenas um lugar

terça-feira, 29 de julho 2008

Um dia desses pedi aos meus alunos que listassem alguns direitos trabalhistas. Saiu um pouco de tudo: FGTS, férias, licença maternidade, 13o salário, domingo… – “Domingo? Perguntei espantado”. – “É professor. Domingo não é o dia de descanso?” Precisei explicar ao aspirante de trabalhador formal que o descanso semanal remunerado, uma conquista trabalhista relativamente recente, não é necessariamente aos domingos.

O mais importante da atividade era contribuir para que aqueles jovens, alguns ainda adolescentes, refletissem sobre a importância de terem direitos. Fazê-los constar que os direitos trabalhistas por eles listados eram na verdade direitos proletários, ou seja, direitos de trabalhadores que vendem sua força de trabalho a outras pessoas ou instituições. Em última análise concluímos que direitos trabalhistas são direitos daqueles que trabalham. Ora, e aqueles que não trabalham não têm direitos trabalhistas? Com exceção de alguns instrumentos de reparação social, não.

Hoje encontrei uma idosa-pedinte em um semáforo. Meu senso moral judaico-cristão entrou em alerta e, rapidamente pensei: “o que devo fazer? Dou ou não dou a esmola” Dei. Ao contrário do que teria acontecido na minha adolescência não me senti melhor. Depois fiquei a pensar: “Como terá sido a vida daquela pessoa? Terá algum dia trabalhado com vínculo formal? Será que já procurou saber dos ‘seus direitos’? “ Talvez nunca encontre resposta para estas e outras perguntas semelhantes, a menos que volte naquele semáforo e gaste tempo com esse fim.

Nos anos 1980 dom Aloísio Lorsheider lançou uma campanha na Arquidiocese de Fortaleza cujo lema era: “Esmola não – um lugar na sociedade”. Os mendigos, os moradores de rua em geral, e os meninos e meninas de rua cada vez mais têm apenas um lugar na nossa sociedade: lugar algum. Quando vejo as atenções voltadas para nomear praças e ruas com o nome de D. Aloísio, e lembro do seu espírito desprovido de vaidades mundanas, ouso dizer que ele ficaria verdadeiramente homenageado se consumássemos seu propósito de quase três décadas: forjando-nos enquanto povo onde há para todos um lugar na sociedade. Ora, isso é uma utopia. É, enquanto ficarmos no bla-bla-blá.

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