32 C°

1 julho 2008.
Fortaleza, Ceará, Brasil.

aniversario
aniversario

Opinião

Bom-dia, Governador!

terça-feira, 01 de julho 2008

Companheiro, Zé Francisco nasceu e se criou nas ribeiras do Acaraú, e toda vida trabalhou pro major Manuel Machado dono de várias fazendas na região. Por isso, ora estava no Riacho dos Guimarães ora na Forquilha, tangendo gado de uma propriedade para outra conforme a estação do ano. Conhecia assim,como ninguém, as estradas e veredas que cortavam aquelas paisagens percorridas pelo patrão, um antigo comboieiro. Nos dias de feira postava-se à beira da estrada à espera do caminhão que conduzia a matutada rumo a Sobral. Roupa de mescla azul, chapéu-de-massa de abas largas e alpercatas de couro cru, lá ia ele na carroceria do velho Chevrolet que vagarosamente e aos tombos saía engolindo a carroçável poeirenta.

O caboclo mal assinava o nome, mas tinha enorme queda para a mecânica, e ficava empolgado com o funcionamento e barulheira dos motores da fazenda. Zé Francisco convivia assim com máquinas e animais, consertando tanto o cata-vento que enguiçava como as pequenas panes do caminhão. Descobrindo aos poucos esse universo, resolveu “ser gente”, deixou o emprego, arrumou os troços e se mandou pra cidade. Um dia, deu na veneta, arrumou a mala e veio embora pra capital concretizando velho desejo. Em aqui chegando, foi morar no Pirambu, trazendo consigo a esperança e os sonhos de tantos quantos trocam o sertão pela cidade grande. O que sabia a respeito do bairro aprendera pelas notícias do rádio que falavam das tragédias e do cotidiano das pessoas. Alugou velha casa de galpão, com vista para o mar, e instalou sua oficina de trabalho. Em pouco tempo era conhecido e conhecia toda a vizinhança. A oficina, mesmo acanhada, ia funcionando razoavelmente. Sua vida, entretanto, mestre, parecia difícil, embora o que apurasse desse para sustentar a mulher e os filhos.
Zé Francisco, todavia, não esquecia a terra distante, e nas noites de insônia lhe passava pela cabeça a vontade de voltar. Via a Gameleira, o gado mugindo no curral próximo à casa e a passarada a cantar. Lembrava-se das caminhadas tangendo bois e sentia o cheiro da terra molhada. Uma noite, estava assim tão distante que pouco dava conta a chuva grossa que caía e do maré revolto que avançava. Quis levantar-se, mas, espreguiçou-se e continuou deitado. Mas,enfim, levantou-se e deparou-se com a fúria das águas invadindo a casa. Apressou-se, acordou os demais, mas, na fuga mal teve tempo de apanhar alguns pertences. A modesta oficina foi aos poucos sendo levada pelas águas que vinham do céu e do mar. Zé Francisco assistia a tragédia impotente e quase nada mais lhe restava. Desolado, resolveu regressar ao torrão natal, levando na volta a desilusão da cidade. Voltou à Gameleira para recomeçar a vida. Para matar a saudade do campo, ouvir a Asa Branca e o grito da Jaçanã no capinzal do açude.
Certa manhã, saiu no seu cavalo Bem-Te-Vi para campear o gado. Entardeceu, as horas se passavam e Zé Francisco não regressava. À tardinha, disperso, o gado veio voltando lentamente para casa, um a um, como se estivesse anunciando algo trágico. Por fim, no terreiro da fazenda, sem seu cavaleiro, apareceu Bem-Te-Vi, estribos balançando e a brida arrastando pelo chão. Zé Francisco ficara na imensidão da caatinga estirado às margens de um riacho seco. O coração parara de bater, silenciando-lhe o aboio, a voz e a vida para sempre. Não viu a lua cheia derramando-se sobre a mata, como gostava. Mas, morreu, quem sabe, como desejava, aboiando o gado e sentindo o cheiro da terra ressequida.
Companheiro, vou mudar de assunto porque hoje quero cumprimentá-lo pelas medidas adotadas por seu governo visando maior eficácia e eficiência da segurança pública. Avalio que governo algum no Ceará, até hoje, investiu tanto no setor. Confesso que não acreditava no Ronda do Quarteirão, não porque não pudesse dar certo, mas, pelos altos custos e dificuldade de execução do projeto. Deu certo! Continue, pois, valorizando o aparelho policial, porque assim ganham o seu governo e a população. Acho que é por aí… Ou eu estou errado ? Bom-Dia, Governador!
 

hoje

Mais lidas

WP Twitter Auto Publish Powered By : XYZScripts.com