26.1 C
Fortaleza

Delfim Netto e o ‘Milagre Econômico’

Antônio Delfim Netto, economista catedrático e político brasileiro faleceu nesta segunda-feira (12) aos 96 anos. Foi ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, e ex-deputado federal por cinco mandatos consecutivos, tendo sido um dos parlamentares mais influentes na elaboração da Constituição de 1988.
Extraordinariamente culto, inteligente e muito charmoso, Delfim criou ou usou frases que definiram a política e economia nacional. Uma das mais famosas foi: “Temos de criar o bolo primeiro para depois dividi-lo”. Como muitos economistas e políticos, não só da sua época, a grande questão sempre foi como fazer o bolo crescer.
Delfim apostava na decisiva intervenção do Estado, no planejamento estratégico e no “espírito animal” dos empresários, como gostava de dizer. Ele sabia ler para onde iam os ventos.
Do “todo poderoso” na área econômica durante boa parte da ditadura militar (1964 a 1985), passou com a redemocratização, a ser um dos nomes reverenciados também na esquerda, chegando a ser conselheiro informal de Lula, principalmente quando o atual presidente exerceu seu segundo mantado, entre 2006 e 2010.
Como condutor da economia, agregou um desconcertante pragmatismo a essas características, aliando formação técnica com ambição de poder. De uma reunião informal organizada por ele, saiu a criação da Embrapa, que está na raiz da revolução agrícola brasileira.
Utilizou o poder conferido pelo AI-5 para implementar rapidamente mudanças significativas, como a reforma tributária que criou o ICM (atual ICMS) em apenas um mês, sem necessidade de aprovação do Congresso. “A lógica do Delfim era tipo assim, me dê poder que eu exerço”.
Netto assumiu o Ministério da Fazenda em 1967 e permanecendo no cargo até 1974, período que ficou conhecido como o “milagre econômico brasileiro”. Durante sua gestão, o Brasil experimentou um crescimento médio econômico superior a 11% ao ano, chegando ao recorde de 14% no ano de 1973, impulsionado pela urbanização, controle cambial e investimentos internacionais.
Foram adotados estímulos fiscais e monetários, desvalorizações cambiais, realização de grandes obras, incentivo ao consumo e às exportações. “Não teve milagre. Milagre é efeito sem causa. Os brasileiros trabalharam brutalmente”, afirmou Delfim à época.
Foi ainda embaixador na França, entre 1975 e 1978, uma espécie de exílio dourado imposto pelo então presidente, general Ernesto Geisel, que não gostava de Delfim, e quando retornou ao cenário econômico brasileiro durante o governo Figueiredo, não como ministro da Fazenda, mas como o “czar da economia”, enfrentou as consequências de uma conjuntura internacional desfavorável.
O Brasil havia quebrado, necessitando de empréstimos do FMI, e o preço do petróleo havia triplicado em dois anos. Netto, que antes era visto como uma figura popular com aspirações presidenciais, tornou-se o “homem mais odiado” e foi responsabilizado pelo início da hiperinflação nos anos 80.
A trajetória de Delfim Netto ilustra as complexidades e desafios enfrentados por aqueles que ocupam cargos econômicos de alto escalão no Brasil. Sua história serve como um lembrete dos altos e baixos que podem marcar a carreira de figuras públicas em posições de grande influência política e econômica.

JOSÉ MARIA PHILOMENO
ADVOGADO
E ECONOMISTA

Mais Lidas

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Vegetação da Base Aérea de Fortaleza é atingida por incêndio na noite desta terça-feira (13)

O fogo se rapidamente se alastrou em um canteiro próximo ao muro da base. Até o momento não há registro de vítimas.
spot_img