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28 julho 2008.
Fortaleza, Ceará, Brasil.

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Opinião

Desvalidos e esquecidos

segunda-feira, 28 de julho 2008

Recentemente a televisão mostrou a situação dantesca vivida por populações inteiras de treze comunidades cearenses, em face da falta d’água. Em quase todo o Estado as chuvas foram abundantes, chegando em algumas localidades, a provocar inundações que parcialmente destruíram bens materiais e da produção agrícola. Diante da euforia do bom inverno, outros municípios que não foram beneficiados pela água bendita, foram inteiramente esquecidos. A ausência de alimentos básicos, em razão da prolongada estiagem, completa a tragédia daqueles que têm sede. O Governo, a quem cabe, por imposição constitucional, socorrer os desvalidos da sorte, entende que tudo se resolve com o favorecimento da bolsa família que contempla parte da população pobre. A medida, porém, é insuficiente e, portanto, não atende as necessidades mais elementares dos moradores dessas cidades. A pouca água existente é de péssima qualidade e a sua contaminação, com bactérias nocivas à saúde, pode desencadear um processo de enfermidade de fácil proliferação.

A terra, mesmo sofrendo as mais diferentes intempéries, é alvo de ambição de alguns atores do nosso teatro político, que não dispensam esforços para a conquista de votos de pessoas que rondam as beiradas do mapa da miséria. Muitos são surdos aos reclamos da solidariedade humana, quando se fosse lícito fugir ao dever que impele e obriga as autoridades a ir em amparo, proteção e socorro de pessoas que enfrentam, quase sem forças, a desgraça; quando, na situação de apreensão em que se debate a Nação, diante do espectro da inflação, não houvesse mais lugar para a piedade, para o amor, para a fraternidade, mas só para o interesse de outros temas, entre eles, o processo eleitoral vigente.

Não é possível que o Estado, independentemente de sua esfera administrativa, se conserve indiferente diante do infortúnio, protagonizado pela miséria, que são outros tantos fatores econômicos da sua prosperidade e da sua ventura; não é possível que a sociedade se conserve inativa diante desses fatos que atingem regiões que já foram e ainda podem ser fontes inesgotáveis de produção e de riqueza.

Mas, o que não é possível é consentir que perdure uma situação de penúria em que vivem as vítimas da seca, que, além do mais, é uma vergonha para o Estado, é um atestado tristíssimo da sua incúria, da sua imprevidência, inerte e inconsciente, diante de um problema que, há muitos anos, deveria estar resolvido. Sejam quais forem as dificuldades do Tesouro, os responsáveis pela Administração Pública não têm o direito de deixar morrer à fome consideráveis parcelas de brasileiros residentes no Ceará, deste país para cuja prosperidade têm concorrido, em todos os tempos, com a larga contribuição do seu dinheiro, do seu trabalho e do seu sangue.

Para refletir: “No País do Não Chove, meu país, / o principal transporte é a alpercata / no pé do rompe-légua. Quando a seca / – malinho Belzebu de corno acesso / e descarnado rabo de tatu – / põe-se a chupar o chão pelo canudo / da língua fulminante de mil volts, / morre no calcanhar do retirante / a esperança hidrelétrica do povo / chorando um São Francisco que não vem”. (Homero Homem).
 

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